1ª boate gay de Brasília resiste e ainda abriga cena drag da capital
Em 1974, em plena ditadura militar, nascia no subsolo do Conic o Aquarius American Bar, a primeira boate gay de Brasília, que permanece em atividade até hoje e completou 50 anos nesta semana. Em uma cidade, à época, com poucas opções de entretenimento noturno, especialmente aqueles voltados à comunidade LGBT+, o espaço fundado por Oswaldo Gessner logo se destacou.
Hoje com 91 anos, Gessner veio do Rio de Janeiro para Brasília para trabalhar na Asbac e conta que viu no vazio cultural da capital uma oportunidade. “A noite de Brasília naquela época era muito pobre, só tinha duas boates no Gilberto Salomão. Nada mais”, explica em entrevista ao Metrópoles.
Com formação em direção teatral e inspirado nos espetáculos cariocas, Oswaldo tinha o desejo de fundar um espaço que não apenas oferecesse entretenimento, mas promovesse inclusão e cultura, por meio de shows e performances.
O fundador conta que, inicialmente, o bar era frequentado apenas por seus colegas de trabalho, mas logo se tornou um refúgio seguro para a comunidade LGBT+, que à época vivia sob a repressão da ditadura militar.
“Nunca tive problema quanto a isso. Eu cumpria rigorosamente todas as regras na época”, conta, mencionando como, apesar do contexto histórico, a boate conseguiu evitar problemas diretos com o regime.
O bar, que mais tarde se tornou a boate New Aquarius, e segue como Espaço Galleria Club, se consolidou como um local de visibilidade para a comunidade LGBT+ em Brasília e continua sendo um reduto das drags da cidade.
Um dos pontos altos da New Aquarius eram os shows dos transformistas. Na casa, foram realizados concursos como o Miss Brasília Gay, e surgiram grandes talentos da arte transformista da capital, como Maruse e Carlinhos Brasil.
LuShonda, drag queen que frequentava a boate, ficou responsável por dar continuidade ao legado de Oswaldo e virou gerente do Espaço Galleria. Ela ressalta o desafio de manter o clube em tempos de mudanças rápidas, onde as opções noturnas em Brasília competem diretamente. “O Conic precisa de uma atenção maior, e a expansão das cidades do DF ao longo dos anos afastou um pouco o público”, salienta.
Apesar das dificuldades, a drag queen acredita e deseja que o espaço possa continuar ativo por muitos anos ainda.
“Penso que a comunidade LGBTQIAPN+ deveria buscar conhecer mais a história deste espaço tão icônico para a cultura de Brasília e, assim, ajudar a preservar, mesmo que seja frequentando. Mas o Espaço Galleria resiste ao tempo e segue como um grande pilar da noite gay de Brasília. Por mim ela completa mais 50 anos”, garante.
Ponto de encontro
A drag relembra que a Aquarius era um ponto de encontro de personalidades e figuras ilustres da época, desde políticos e membros das embaixadas a grandes artistas, que se apresentavam ou frequentavam o espaço com assiduidade. “Nos dias de concursos de miss, as mesas eram todas reservadas”, conta ela.
Nomes como Elke Maravilha, Rogéria e Vera Verão marcaram presença no palco, enquanto frequentadores famosos como Cássia Eller, Miguel Falabella, Zélia Duncan, Renato Russo, Edson Celulari, Lauro Corona e Wilza Carla ajudaram a consolidar a boate como um dos espaços mais icônicos e inclusivos da cena noturna de Brasília.
Comemoração de 50 anos
Para celebrar o aniversário de 50 anos da boate, Oswaldo Gessner decidiu fazer uma festa para relembrar os velhos tempos de casa com grandes transformistas de Brasília. O evento acontece neste sábado (26/10), no Espaço Galeria, no Conic. Os ingressos podem ser adquiridos pelo site do Sympla ou na porta do local.
Gessner finaliza dizendo que o sucesso da boate é o “grande triunfo e orgulho” de sua vida. “Estou muito feliz de ter conseguido levar essa missão durante tanto tempo. Agradeço demais as pessoas que colaboraram com o sucesso da casa”, afirma.