Governo afasta PM envolvido em agressão dentro de sala de velório em SP
PAULO EDUARDO DIAS
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)
A Polícia Militar afastou um dos policiais investigados por se envolver em uma sequência de agressões a pessoas que estavam em uma sala de velório em Bauru, a cerca de 330 km de São Paulo. O caso ocorreu na última sexta-feira (18). A cerimônia era uma despedida de familiares a dois jovens, mortos supostamente em confrontos com PMs, um dia antes.
Imagens gravadas por celular mostram Nilceia Alves Rodrigues, 43, mãe de Guilherme Alves de Oliveira, 18, um dos velados no local, ser arrastada e jogada ao chão por um policial militar.
À reportagem ela disse que estava tentando proteger um outro filho, de 28 anos –ele teria reclamado da presença de PMs no local e, segundo a família, acabou detido com a justificativa de desacato.
Conforme a SSP (Secretaria da Segurança Pública), foi aberto um Inquérito Policial Militar para apurar e individualizar a conduta dos policiais envolvidos na ação. “Um dos agentes já foi afastado das atividades operacionais e as investigações seguem em andamento”.
A resposta ocorreu após a reportagem questionar por duas vezes nesta segunda-feira (21) como a gestão Tarcísio de Freitas (Republicanos) via as agressões, um pedido de entrevista com o comandante-geral da PM ou com o comandante do policiamento em Bauru.
Em um primeiro retorno a pasta se limitou a dizer que a que PM havia instaurado procedimento para apurar a conduta dos policiais e envolvidos e adotar todas as medidas cabíveis.
No segundo email, além da confirmação do afastamento, o governo acrescentou que a Polícia Militar “não compactua com excessos e a conduta dos policiais não condiz com as práticas da instituição”.
Ainda de acordo com o estado, todo e qualquer desvio é rigorosamente investigado, com acompanhamento da Corregedoria, e os policiais punidos com rigor.
A Ouvidoria das polícias abriu um procedimento para acompanhar o caso. O ouvidor Cláudio Silva disse neste domingo (20) que deve ir nesta semana a Bauru para conversar com o comando da PM local e fazer uma escuta qualificada com a comunidade.
“Falei pessoalmente com o comandante-geral da PM [coronel Cássio Araújo de Freitas]”, afirma. “São imagens muito fortes e é lamentável que o luto que já foi sagrado esteja sendo tão desrespeitado pelas forças de segurança pública do estado”, diz Silva.
Na noite anterior, Guilherme e Luís Silvestre da Silva Neto, 21, foram mortos, segundo a polícia, porque teriam trocado tiros com PMs do 13º Baep (Batalhão de Ações Especiais da Polícia) em uma área de mata no Jardim Vitória.
Os dois estavam próximos a um local de venda de drogas, quando teria chegado a polícia, e correram para o mato.
As famílias dos dois negam que eles estivessem armados. “Meu filho não sabia descascar uma laranja. Acho que ele nunca viu uma arma”, afirma Nilceia.
Em nota, a Secretaria da Segurança Pública diz que PMs faziam uma operação na comunidade do Jardim Vitória quando foram surpreendidos por criminosos que atiraram contra a equipe. “Houve a intervenção e os suspeitos foram atingidos.” As duas famílias negam a versão policial.
Tanto Nilceia quanto Maria Aparecida Urbano Soares dos Santos, 46, mãe de Luís, dizem que duas ambulâncias do Samu (Serviço Médico de Atendimento de Urgência) foram ao local, mas que os socorristas não tiveram autorização para ir até onde os jovens estavam caídos e foram embora.
Na nota, a SSP afirma que o resgate foi acionado e constatou os óbitos no local.
As mães também dizem que não permitiram que elas chegassem até onde estavam os filhos.
De acordo com a polícia, com os dois foram localizadas porções de entorpecentes, que acabaram apreendidas, assim como as armas que eles usavam.