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Como era ser criança na pré-história?

A arqueologia tem se mostrado um campo fértil para compreender o passado das crianças. Segundo Cristina de Juana Ortín, arqueóloga pesquisadora da Universidade Internacional de La Rioja, na Espanha, as crianças pré-históricas não eram figuras marginais ou invisíveis em suas comunidades. 

A infância é reconhecida cientificamente como um período essencial para o desenvolvimento físico, mental, social e emocional dos indivíduos. Relações familiares e a interação com instituições são determinantes nesse processo — uma realidade que, embora mais complexa hoje em dia, também se aplicava à pré-história.

A presença das crianças era ativa e significativa, com papéis que iam desde a brincadeira até o aprendizado e a interação social.

O cuidado dedicado aos sepultamentos infantis reflete também um legado de respeito que nos oferece vislumbres preciosos sobre suas vidas e culturas.

Em um artigo publicado no The Conversation Brasil, Ortín detalha como o estudo das crianças pré-históricas revela insights fundamentais para compreender a cultura e a história das sociedades antigas.

Da barriga da mãe aos primeiros passos

A maternidade e o nascimento eram temas frequentemente representados em arte rupestre.

No período Neolítico, por exemplo, cenas de mulheres grávidas e bebês com cordões umbilicais ou até de partos foram registradas nas paredes de cavernas de Centelles e de Higuera de Estercuel, ambas na Espanha.

Embora em representações sobre a maternidade o bebê tenha um papel secundário, isso muda em cenas que refletem as dinâmicas de transporte, como caminhadas, onde crianças são retratadas andando ao lado de adultos ou carregadas por mulheres.

Essas imagens mostram bebês com cabeças eretas e braços estendidos, sugerindo vitalidade e cuidado constante.

Sulcos feitos por dedos de pessoas na faixa dos 2 a 5 anos revelam ações que conhecemos até hoje, como o gesto de pegar o bebê do chão e levantá-lo no colo.

Em outras ocasiões, essas cenas podem simbolizar ritos de iniciação ou apresentações sociais, reforçando a presença ativa das crianças como parte da comunidade.

Dia a dia

Desde os primórdios da humanidade, as crianças encontraram maneiras de brincar e explorar o mundo a seu redor. 

Evidências arqueológicas revelam que, mesmo na pré-história, a atividade desempenhava um papel fundamental no desenvolvimento infantil.

Um exemplo fascinante vem de La Garma, na Cantábria, onde pegadas de pessoas entre 6 e 7 anos, datadas de 16,5 mil anos atrás, mostram movimentos que sugerem brincadeiras na lama.

No estuário do Severn, na Grã-Bretanha, marcas de crianças com cerca de 4 anos indicam atividades lúdicas enquanto acompanhavam adultos em trilhas de pesca.

Além de brincadeiras, elas tinham acesso a objetivos que também serviam como ferramentas educacionais. 

Exemplos incluem esculturas de animais , como ursos, bisões, leões das cavernas e corujas — encontrados nos locais onde a comunidade vivia — e dispositivos mais sofisticados que eram perfurados e tinham uma corda que, ao girar, criavam a ilusão de movimento. 

Esses objetos ajudavam no aprendizado e conectavam as crianças à fauna e cultura ao seu redor.

A observação e participação nas atividades do grupo eram os principais meios de aprendizado conjunto com adultos, consolidando o papel social e educacional da infância pré-histórica.

Morte

As representações artísticas e os sepultamentos infantis oferecem um vislumbre importante sobre como as crianças eram vistas na pré-história. 

Elas eram frequentemente representadas com características simplificadas, como cabeças arredondadas e corpos curvados, com traços sexuais pouco definidos. 

Um exemplo é uma placa de La Marche, na França, do Paleolítico, que traz cinco cabeças infantis, possivelmente representando uma cena de dança. Essas gravuras mostram que as crianças participavam das atividades sociais da comunidade.

Quando uma criança morria, recebia rituais semelhantes aos dos adultos: eram lavadas, vestidas e enterradas com itens pessoais, como chapéus e roupas, e, em alguns casos, oferendas.

Pertences valiosos encontrados nos túmulos sugerem que a criança pertencia a uma linhagem importante.

Com o tempo, os rituais funerários evoluíram. Na Idade do Cobre, por exemplo, as crianças passaram a ser enterradas ao lado de adultos, acompanhadas de ornamentos de osso, conchas e cerâmica, refletindo mudanças nas estruturas sociais e culturais das comunidades.

Legado das crianças na pré-história

As descobertas arqueológicas revelam que as crianças da pré-história eram agentes sociais importantes, com vidas que envolviam aprendizado, brincadeiras, interações e rituais.

A atenção aos detalhes em suas representações e sepultamentos nos mostra que, mesmo em tempos antigos, a infância era valorizada e reconhecida como parte essencial da comunidade.

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