Dianabol: quais os usos e as contraindicações do anabolizante
A metandienona é um dos anabolizantes mais usados no Brasil por pessoas que querem ganhar músculos rapidamente, apesar de seus impactos na saúde serem bastante conhecidos e graves.
Conhecida pelo nome comercial que tem nos Estados Unidos, dianabol ou simplesmente diana, a substância é classificada como um esteroide. A categoria reúne todas as substâncias artificiais com ações semelhantes à testosterona.
Os esteroides são fundamentais no tratamento de pacientes com disfunções graves, como as pessoas que tiveram glândulas retiradas cirurgicamente no tratamento de cânceres, por exemplo. Eles podem ser excepcionalmente indicados para ganho de massa muscular (anabolismo) de indivíduos que têm problemas musculares, como desnutridos ou acamados por longos períodos.
Entretanto, os hormônios sintéticos ganharam popularidade para o aumento dos músculos com objetivo estético. Eles aceleram o ganho de massa muscular, mas os custos à saúde podem ser muito altos.
O que é o dianabol?
A metandienona é derivada diretamente da estrutura molecular da testosterona com a mudança apenas de duas de suas moléculas. A alteração foi feita para aumentar o efeito anabolizante em comparação com o hormônio natural e reduzir seu efeito masculinizante, que causa queda de pelos e surgimento de acne.
No Brasil, a venda é permitida em comprimidos e apenas sob demanda em farmácias de manipulação, mas existem versões injetáveis em outros países.
Para que foi criado e quando?
O dianabol foi um dos primeiros esteroides sintetizados no mundo. Ele foi criado em 1955, quase 10 anos antes de outros anabolizantes muito consumidos, como a oxandrolona. Seu inventor foi o médico John Ziegler, representante das equipes olímpicas de levantamento de peso e atletismo americanos — ele esperava aumentar o desempenho dos atletas durante as disputas contra os soviéticos.
O dianabol chegou a ser vendido comercialmente nos Estados Unidos para tratar indivíduos com condições musculares debilitadas ou osteoporose. Porém, em 1983, após muita pressão da comunidade médica, a droga foi retirada do mercado por inconsistências nos testes clínicos que examinaram suas funções terapêuticas e o aumento das evidências de efeitos colaterais, principalmente no fígado e coração.
Tem registro na Anvisa? Para que tipo de uso?
No Brasil, nunca houve produção em larga escala do dianabol. O uso de metandienona não é aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e, desde 2023, o Conselho Federal de Medicina (CFM) proíbe a prescrição de hormônios anabolizantes para fins estéticos.
O dianabol é raramente usado na prática clínica, já que os efeitos colaterais impedem que ele seja um tratamento eficaz da deficiência hormonal masculina (hipogonadismo). Quase a totalidade de seu uso é com objetivo anabolizante.
Qual os efeitos do uso?
O dianabol funciona como a testosterona no corpo, ajudando a manter as proteínas musculares coesas, captando aminoácidos e estimulando a síntese de proteínas para o músculo, aumentando seu volume. Isso impede que as estruturas se rompam mesmo com exercícios físicos de alto impacto.
Segundo o personal trainer Leandro Twin, consultor da rede de academias Bluefit e um dos maiores influenciadores do país sobre anabolizantes, o dianabol tem efeito rápido, mas o custo pode ser muito alto.
“Na comparação em miligrama por miligrama, é o esteroide com maior poder anabólico, mas ele afeta muito a saúde, especialmente o fígado. Quanto mais prolongado o uso, maior o risco”, indica.
O endocrinologista Clayton Macedo, representante da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia de São Paulo (SBEM-SP), não recomenda que o uso da substância seja feito em nenhuma hipótese.
“A metandienona leva a um efeito anabólico intenso, então é muito usada por quem está em uma fase de bulking e busca crescimento muscular rápido e aumento de força, mas é extremamente tóxico ao fígado. Ela tem um radical modificado, o 17-alfa-alquilado, que causa lesão hepática, e também dá muita retenção hídrica, aumentando a pressão arterial e causando ginecomastia”, resume Macedo.
Quais são os riscos do uso estético?
Mesmo os usuários frequentes de anabolizantes têm restrições ao uso de dianabol pelos seus volumosos efeitos colaterais. Ele pertence ao grupo de esteroides que é mais tóxico ao fígado e o uso da substância por mais de seis semanas pode levar a danos permanentes e irreversíveis no órgão.
Além disso, ele leva a mudanças no perfil lipídico, aumentando o colesterol ruim e diminuindo o bom, o que prejudica o funcionamento do sistema circulatório. Para piorar, a metandienona ainda causa uma grande retenção hídrica, o que pode desencadear quadros de pressão alta.
O esteroide ainda tem um efeito duplo no organismo. Como é um derivado potencializado de testosterona, causa queda de cabelo, mudança na voz e crescimento de clitóris em mulheres — por isso, não é muito usado por elas.
Já nos homens, ele pode levar à ginecomastia (crescimento da mama) e ao aumento de proporção de hormônios femininos. É que o dianabol é processado pela enzima aromatase, gerando o estradiol, um subproduto com funções semelhantes ao estrogênio, que pode causar crescimento de mamas em homens.
Restrição de vendas
O endocrinologista Paulo Augusto Miranda, presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), afirma que, embora o dianabol seja facilmente encontrado em fóruns dedicados à hipertrofia, sua produção e comercialização em larga escala é proibida no Brasil, assim como todas as substâncias inscritas na lista C5 da Portaria 344, de 1998, do Ministério da Saúde, que controla a venda de anabolizantes.
“Mesmo as poucas substâncias que têm venda permitida só podem circular com um receituário médico individualizado e com justificativa de seu uso. A venda fora de farmácias de manipulação é criminosa”, esclareceu o presidente da SBEM em entrevista anterior ao Metrópóles.
Em alguns casos, o dianabol pode causar complicações de saúde mental, como agressividade aumentada e dependência causada pela redução da produção natural de testosterona. A substância também pode influenciar o sistema digestivo, com vômitos e enjoos constantes.
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