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Europa pode perder muito na guerra comercial entre EUA e China, alerta BCE

As taxas de juros do Banco Central Europeu têm espaço para cair ainda mais com a moderação da inflação, disse Piero Cipollone, membro do conselho do BCE, alertando que a guerra comercial do governo dos Estados Unidos com a China pode ter um impacto prejudicial sobre os 20 membros da zona do euro.

O BCE reduziu os custos dos empréstimos cinco vezes desde junho, à medida que as preocupações com o crescimento começam a superar os temores com os preços, e investidores preveem pelo menos mais três cortes este ano, em uma tentativa de impulsionar uma economia que está lutando para se recuperar de dois anos de quase estagnação.

“Todos concordamos que ainda há espaço para ajustar as taxas para baixo”, disse Cipollone à Reuters em uma entrevista. “Estamos quase na meta… (e) ainda estamos em território restritivo”.

Porém, os preços mais altos da energia e as tensões comerciais globais estão levando o BCE a diferentes direções, de modo que não faz sentido se comprometer com qualquer medida específica por enquanto, incluindo um corte amplamente esperado e totalmente precificado em março, acrescentou Cipollone.

Ainda assim, a economia da zona do euro não mudou fundamentalmente desde dezembro, quando as projeções do BCE presumiam quatro cortes nas taxas de juros em 2025, incluindo um movimento já realizado no mês passado.

“A compreensão geral sobre para onde estamos indo está presente, os fundamentos não mudaram, portanto não espero uma grande mudança de direção”, disse Cipollone. “Essa convergência com a meta de inflação é coerente com uma trajetória de declínio da taxa de juros.”

A inflação anual subiu para 2,5% no mês passado, mas o BCE prevê que ela volte a 2% em algum momento de meados do ano, depois de quatro anos acima da meta.

Risco China

A grande incerteza é a política comercial dos EUA e isso pode afetar fortemente a Europa, mesmo antes de qualquer barreira comercial direta ao bloco, argumentou Cipollone.

“O que mais me preocupa é se o presidente Trump se envolver em uma guerra comercial total com a China”, acrescentou Cipollone, o mais novo membro da diretoria do BCE. “Essa é uma ameaça mais séria porque a China tem 35% da capacidade de fabricação do mundo.”

Os EUA impuseram uma tarifa de 10% sobre todas as importações chinesas nesta semana, o que provocou medidas de retaliação por parte de Pequim.

A redução do acesso aos EUA forçaria a China a encontrar outros mercados e poderia despejar produtos com desconto na Europa, reduzindo o crescimento e os preços, disse Cipollone.

Modelos compilados pelo Instituto Peterson de Economia Internacional, um think tank sediado em Washington, concluíram que, embora a imposição de tarifas afete o crescimento dos EUA, o país sofreria menos do que qualquer um de seus alvos.

Entretanto, Cipollone pareceu minimizar o impacto de possíveis tarifas direcionadas à Europa.

Ele disse que as empresas poderiam absorver parte dos custos mais altos sacrificando a margem de lucro, enquanto o inevitável enfraquecimento do euro em relação ao dólar também protegeria o bloco.

Os conflitos comerciais poderiam reduzir o crescimento econômico, mas não o suficiente para induzir uma recessão, especialmente porque outras partes da economia estão mostrando resiliência.

Cipollone observou que o mercado de trabalho está se mantendo, é provável que o consumo se recupere, a construção civil está forte, os cortes nas taxas de juros estão sendo transmitidos à economia e até mesmo o setor industrial, em recessão nos últimos dois anos, está mostrando sinais de recuperação.

“Podemos não estar crescendo, mas não estou esperando uma recessão”, disse ele.

Mesmo que as tensões comerciais ameacem arrastar a inflação para baixo, outros fatores, especialmente os custos de energia, estão puxando os preços na outra direção, de modo que os riscos para as perspectivas permanecem equilibrados, mesmo que algumas autoridades temam que o BCE possa não atingir sua meta.

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