Política

Tentativa de barrar benefícios da Previdência em bets enfrenta entrave

O ministro da Previdência Social, Carlos Lupi, tem enfrentado problemas jurídicos na tentativa de proibir o uso dos benefícios pagos a aposentados e pensionistas em apostas, as chamadas bets.

A intenção de impedir esse uso foi anunciada por Lupi ainda em 2024, quando foi lançado o cartão Meu INSS Vale+, que permite o adiantamento de até R$ 150 dos benefícios do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). Esse cartão já não pode ser usado em apostas, segundo a pasta, mas a extensão desse impedimento a outros pagamentos ainda não foi feita.

Em novembro, Lupi informou que o setor jurídico de sua pasta estava estudando a possibilidade de proibir o uso dos recursos do INSS para apostas no caso de todos os benefícios pagos pelos instituto.

“Ainda estamos com alguns problemas jurídicos, porque há uma interpretação de que isso é ferir o direito da cidadania de usar o seu dinheiro como quer”, disse o ministro em resposta ao Metrópoles durante coletiva na quarta-feira (6/2).

Ele completou dizendo que não desistiu da ideia e que busca solução: “Ainda não tem uma definição jurídica da nossa consultoria jurídica que nos dê respaldo a fazer uma proibição do sistema, mas eu estou trabalhando nela”.


O que está em jogo

  • Em 2024, quando o governo iniciou a regulamentação do mercado de apostas de quota fixa (as chamadas bets) no país, alguns integrantes do governo defenderam a proibição das apostas por beneficiários de programas sociais.
  • O tema foi judicializado e o Poder Executivo ainda não implementou a proibição a nenhum público.
  • Especialistas afirmam que proibição seria uma espécie de discriminação de quem recebe benefícios sociais e interferência na liberdade de escolha de cada cidadão. A pasta da Previdência, por outro lado, sustenta que é preciso proteger o aposentado e o pensionista do endividamento.
  • O ministro Carlos Lupi defende a proibição de uso dos recursos pagos pelo INSS em bets, mas área jurídica ainda não encontrou uma brecha legal para dar aval a esse impedimento.

O INSS paga benefícios sociais a cerca de 40 milhões de pessoas por mês, principalmente a aposentados. Apesar de, via de regra, não enfrentarem insegurança alimentar como quem recebe o Bolsa Família, os aposentados têm um orçamento curto e há preocupações com o risco de endividamento desse público.

Regulamentação das bets no Brasil

Entre 2023 e 2024, o governo trabalhou na regulamentação do mercado de apostas de quota fixa no país, que haviam sido liberadas por lei em 2018, mas sem a devida regulação.

No ano passado, foi instituída a Secretaria de Prêmios e Apostas (SPA) no âmbito do Ministério da Fazenda. A pasta conduziu o primeiro processo de análise e avaliação dos pedidos de autorização.

No fim do ano passado, o plenário Supremo Tribunal Federal (STF) referendou decisão do ministro Luiz Fux, que decidiu que o governo deveria instituir medidas para impedir que beneficiários do Bolsa Família usem os valores do programa para realizar apostas.

Em seguida, o governo Lula (PT) apresentou recurso ao STF contra a decisão, por meio da Advocacia-Geral da União (AGU). Um dos argumentos foi de que não há, por parte dos órgãos fiscalizadores do mercado, a atribuição regimental direta para tratar dados de beneficiários de programas sociais, incluindo os recursos pagos a esses beneficiários.

Além disso, o governo alegou que valor financeiro repassado pelo programa a cada família beneficiária é recurso privado a partir do momento que integra sua conta bancária, e não mais recurso público.

Também foi apresentado o argumento de que a conta bancária de pagamento dos benefícios do Bolsa Família (utilizada por 99% das famílias beneficiárias) não é de uso exclusivo do programa e pode movimentar valores monetários oriundos de fontes diversas, sem qualquer vínculo com o programa.

Por fim, o governo sustentou que não há meios técnicos para impedir que os valores do Bolsa Família depositados em uma conta bancária sejam utilizados para fins específicos (como para apostas).

O tema é analisado em duas Ações Diretas de Inconstitucionalidade (ADI), propostas pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) e pelo partido Solidariedade, respectivamente. Hoje, o caso está em fase de recurso, após alegações da União.

O recurso pede esclarecimentos sobre o cumprimento da decisão liminar, com efeito imediato, dada pelo ministro Luiz Fux e referendada pelo plenário do STF.

Fux abriu prazo para contrarrazões da CNC e do partido Solidariedade e, posteriormente, para manifestação da Procuradoria-Geral da República (PGR) sobre o recurso.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *