À CNN, José Anibal defende travar fluxo de drogas na Cracolândia e oferecer tratamento humanizado a dependentes
O ex-senador José Aníbal (PSDB), candidato a vice-prefeito na chapa de José Luiz Datena (PSDB), defendeu travar o fluxo de drogas na Cracolândia e oferecer tratamento humanizado aos dependentes químicos.
A afirmação foi feita nesta sexta-feira (27) em entrevista à CNN, conduzida pela jornalista Muriel Porfiro ao lado dos analistas de Política Julliana Lopes e Pedro Duran.
“Primeiro, tem que travar o fluxo de droga”, segundo ele, senão “você vai enxugar gelo”.
“Tem que dar um tratamento humano a essa gente. Não pode dar porrada, jogar esguicho de água gelada. O que isso vai resolver? Só dispersar”, disse o candidato.
“Vai gastar, vai custar dinheiro. E não venha com essas políticas bárbaras de dar qualquer fim para essa gente. Que dar qualquer fim! São seres humanos passíveis de recuperação”, pontuou.
A respeito da internação compulsória de usuários, ele falou que “cabe aos médicos decidirem”, ressaltando que toda ação deve ser realizada “dentro de critérios científicos”.
Aumento da GCM e uso de fuzil
Durante a entrevista, o candidato também falou sobre a proposta de duplicar o número de agentes da Guarda Civil Metropolitana (GCM).
“Dobra a Guarda Civil Metropolitana. Custa R$ 1 bilhão. Não, custa R$ 900 milhões. Dobrar de 7.5 mil para 15 mil guardas civis. Treina, dá equipamento adequado”, disse.
Quando perguntado sobre o tipo de armamento que deve ser utilizado, ele afirmou que são “fuzis” e defendeu a integração entre as forças de segurança.
“Por exemplo, como é que você enfrenta crime organizado sem fuzil? Quando você tem operações especiais… Ela [a GCM] vai combinar a operação junto com a [polícia] civil, com a [polícia] militar, com a inteligência da Polícia Federal. Ela vai poder auxiliar nisso aí. A função dela não é fundamentalmente isso, mas adicionalmente, também”, segundo ele.
José Aníbal falou ainda sobre a necessidade de treinamento e qualificação para os agentes da corporação.
“A guarda só pode ter esse equipamento muito bem treinada e qualificada. Não é só treinar, tem que qualificar, ficar claro quais são os casos, momentos que se pode usar equipamentos com maior grau de letalidade. Quando você tem ameaça à vida humana, de fato, você tem que fazer opção entre o bandido e o agredido, ali, o refém”, declarou.
Violência eleitoral
O candidato opinou sobre as situações de agressão vistas na campanha deste ano.
Ele apontou para um acirramento da polarização política, que teria transformado adversários “em inimigos definitivamente”. “E aí, o ódio não te permite pensar, não te permite refletir, não te permite admitir o contraditório”, disse.
Ao ser questionado sobre o episódio protagonizado pelo companheiro de chapa Datena, que jogou uma cadeira em Pablo Marçal, José Aníbal disse considerar o candidato do PRTB “uma figura muito preocupante, muito agressiva”.
Segundo ele, José Luiz Datena foi alvo de uma acusação “brutal” e agiu em “legítima defesa”.
“O próprio Datena diz: ‘Olha, eu não faria isso. Fiz porque foi uma coisa que me constrangeu muito e me agrediu fortemente’”, observou.
Apesar da repercussão do fato, o candidato a vice-prefeito disse entender que já “passou”.
Intenções de voto
José Aníbal minimizou os resultados das pesquisas de intenções de voto e disse não se arrepender de ter embarcado na candidatura com Datena.
“Eu não me arrependo em nada de ele ter vindo e ter sido o nosso candidato”, declarou.
Segundo ele, Datena “não tinha ideia do que era uma candidatura a prefeito de uma cidade como São Paulo. Mas ele já está muito familiarizado com a candidatura no sentido de saber o que o que seria, o que é fundamental para você fazer uma gestão disruptiva” na cidade.
Sobre o político ter desistido de formar chapa com a candidata Tabata Amaral (PSB) para lançar candidatura própria, ele revelou ter simpatia pela adversária, mas afirmou ter sido “uma decisão acertada” por parte de Datena.
Remédios em casa
O representante do PSDB comentou a falta de acesso a medicamentos pelo serviço público.
“Tem que ver como é duro para uma pessoa que tem diabetes não ter remédio no posto”, ele falou.
“O Datena propõe inclusive voltar a entregar remédio na casa das pessoas que têm uso continuado de medicamento. Ah, problema nenhum, é logística elementar. Ou você faz com os Correios ou você monta cooperativas de mototáxi. Distribui, a pessoa recebe com antecedência”, ele afirmou.
Segundo o candidato, o custo para esse tipo de programa seria de “quase nada” para a prefeitura paulistana.
Ele também falou sobre o projeto de ampliar o funcionamento das unidades de saúde com o objetivo de desafogar a fila de espera por atendimento.
“Tem um custo você por duas horas a mais nos equipamentos de saúde para saldar, resolver o déficit de atendimento de consulta, de exame etc. Tem um custo também, R$600 milhões, R$ 700 milhões. Tudo isso a prefeitura pode”, segundo ele.
Creches e ensino integral
Na entrevista, José Aníbal comentou a proposta de ampliar o horário de funcionamento das creches.
“As mães podem deixar às 7h, logo que a criança acorda, e receber às 19h, quando a criança já está pronta para dormir. Significa mais uma refeição, aquelas que já têm hoje, e significa um certo conforto para os pais em termos de tempo para chegar, pegar a criança e tal”, ele disse, acrescentando que o incremento custaria R$550 milhões por ano aos cofres paulistanos.
O candidato também falou sobre a importância de programas de assistência e qualificação para profissionais da Educação Infantil.
“É preciso dar uma atenção maior às professoras, às crecheiras, às pessoas que ficam lá. Porque uma professora da rede pública já aposentada, ela me disse: ‘Olha, elas ganham pouco e, se um livro custar R$ 30, elas, às vezes, sustentam família, ajudam muito. Elas vão ficar na dúvida entre o livro e uma proteína. E no fundo elas vão decidir pela proteína”, de acordo com ele.
“Tinha que haver um programa de livros, de materiais para todo esse pessoal que trabalha em creches. Uma assistência maior a elas de qualificação e tal. Isso sempre é bom. Você está falando de gente e de criança”, ele declarou.
O representante do PSDB ainda destacou a necessidade de ampliação de vagas em tempo integral nas demais etapas de ensino.
“A criança sai da creche, depois de um período de três anos, três anos e meio, é tempo integral. As EMEIs [Escolas Municipais de Educação Infantil] não dão conta de toda a demanda e são período parcial. Imagina o choque para a criança. Aí depois ela vai para o primeiro ano do Ensino Básico, isso já impactou. Nós vamos ter que criar uma dinâmica que seja algo mais que tenha mais sequência, sem nenhum impacto externo de horário”, disse.
Recuperação das periferias
O candidato disse considerar essencial o investimento do poder público nas periferias paulistanas.
“Você tem que investir forte na recuperação urbana, na recuperação econômica, na recuperação social das periferias de São Paulo”, disse.
“Está cheio de jovens, 16, 24 anos, nem-nem. Nem trabalham, nem estudam. Qualifica esses jovens, pelo amor de Deus, senão você vai queimar uma geração. Quantos talentos tem ali?”, questionou.
Segundo José Aníbal, “tem que fazer isso lá onde eles vivem. Tem que descentralizar”.
“Chama a iniciativa privada, põe empresa de logística, de TI, de serviços, faz torres de habitação”, ele afirmou.
Apoiadores de Nunes no PSDB
Durante a entrevista, o candidato a vice-prefeito de São Paulo comentou a expulsão, por infidelidade partidária, de mais de 50 nomes que fizeram campanha aberta para o adversário Ricardo Nunes (MDB).
Segundo ele, os ex-colegas “não fazem menor falta” e não “davam ao partido nenhum protagonismo”.
A respeito de a legenda ter poupado Tomás Covas (PSDB), filho do ex-prefeito Bruno Covas (PSDB) – morto em 2021 em decorrência de um câncer – ele afirmou que “se ele não tomar iniciativa de sair, ele certamente será afastado”.
José Aníbal pontuou que a decisão será tomada em “outro momento”, após o período eleitoral.
“Ele é filho do Bruno e é um garoto que, na minha opinião, está sendo muito manipulado por essa gente, muito. É a minha opinião, por isso eu achei… Deixa o Tomás fora disso. Depois, vamos ver se, passado o processo eleitoral, ele próprio tomou uma iniciativa, e a gente pode até mandar uma correspondência para ele de sair. Se ele não sair, então, haverá afastamento”, disse.
Segundo o candidato, Tomás Covas “não tem mais nada a ver com o PSDB” após apoiar o atual prefeito de São Paulo, considerado um “bolsonarista itinerante”. “Porque ele vai para lá, para cá, se for o bolsonarismo mais exacerbado, ele vai também”, declarou.
Alianças políticas
O candidato disse não acreditar que o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSDB) tenha traído de alguma forma a própria história ao se aproximar do partido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
“O único interesse que motivou o Alckmin foi o interesse público”, afirmou.
Sobre a frente ampla que ajudou a eleger Lula na disputa contra Jair Bolsonaro (PL) em 2022, ele declarou ter sido uma decisão de cunho prático.
“Do lado de lá, nós temos essa opção aqui com a qual nós não vamos concordar nunca. Esse pessoal não tem compromisso nenhum com a democracia, nenhum. Então, por aí, nós não vamos”, explicou.
José Aníbal, entretanto, criticou a articulação do atual governo Lula. De acordo com ele, houve falta de diálogo com os apoiadores.
“Acho até que o Lula não soube operar isso aí. Não soube dialogar com esse pessoal. Esse pessoal, até boa parte deles… Não é que se afastou, é que não estava no PT e continuaram. E hoje tem muita resistência a esse fato de que o PT é incapaz de fazer uma gestão que tenha mais ouvidos”, completou.
Entrevistas com candidatos
A CNN exibe uma série de entrevistas com os candidatos a vice-prefeito de São Paulo.
Cada entrevista será transmitida primeiramente ao vivo no canal da CNN Brasil no YouTube, às 15h30, com exibição na televisão no mesmo dia, às 23h30.
Participarão os candidatos mais bem colocados no agregador de pesquisas eleitorais Índice CNN, selecionados de acordo com o resultado mais recente, com sete dias de antecedência.
Já foram entrevistados:
Ainda será entrevistado:
As candidatas Marta Suplicy (PT), vice de Guilherme Boulos (PSOL), e Antônia de Jesus (PRTB), vice de Pablo Marçal (PRTB), decidiram não participar. Suas entrevistas foram marcadas, respectivamente, para os dias 23 e 25 de setembro.
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