A primeira impressão é a que fica?
A 30ª edição do Restaurant Week Brasília prossegue até o próximo dia 8 de setembro, movimentado a cena gastronômica da cidade com um número recorde de casas participantes. Visitei duas delas nas últimas semanas e tive experiências completamente distintas, que resultaram nesta coluna, na qual sempre trago minhas impressões sinceras.
Solo Ristorante: sabor na cozinha, falha no atendimento
Começando pelas más notícias, vamos falar sobre o Solo Ristorante. Como muitos clientes do RW, aproveitei o menu promocional de entrada + prato + sobremesa para conhecer o restaurante. Acredito que uma das grandes vantagens da Restaurant Week seja, exatamente, aproveitar o festival para visitar aquela casa que você vem “namorando” há um tempo, mas não queria arriscar muito.
As sugestões de entradas incluíam salada de alface, tomate sweet grape, figos frescos, emulsão de balsâmico, amêndoas torradas e grana padano; e creme de abóbora defumada com espuma de creme de leite e frutas vermelhas, a escolher entre uma e outra. Já para o principal, o cliente poderia optar por Fettuccine San Marzano (massa artesanal com ragu de filé-mignon, tomate pelati San Marzano e manjericão); ou Cotoletta Suína En Crosta (costela suína em crosta de ervas finas, servida com fettuccine artesanal na manteiga e sálvia); ou o Pesce All’arrabbiata (filé de pescada-amarela ao molho arrabbiata, azeitonas e pimenta-calabresa, servida com gnocchi ao próprio molho). Para fechar, a casa oferece a Torta Caprese (torta de chocolate com frutas vermelhas) ou a Pêra Al Vino (pera cozida em baixa temperatura ao vinho italiano com cravo e canela).
Escolhi o creme de abóbora para abrir a refeição e adorei a apresentação e o sabor. Uma pitadinha de sal a mais faria diferença, mas foi um bom começo. Como prato principal, optei pelo Pesce All’arrabbiata, e a pescada estava no ponto certo; o nhoque, com boa textura e sem gosto de farinha, estava correto, e o molho bem saboroso. A torta de chocolate também cumpriu bem seu papel.
Tudo caminharia para uma primeira impressão positiva da casa, caso a comida não tivesse sido ofuscada por um dos piores atendimentos que já tive na cidade. Pedi uma mesa na varanda; a hostess indicou uma na ponta, que adorei, mas não sabia que, sentado ali, teria de me humilhar para que alguém do staff fosse até lá cada vez que eu quisesse pedir algo.
Não consigo compreender como uma casa entra em um festival desse porte, sabendo da demanda que ele trará, e não prepara a equipe. Não adianta preencher mesas até o limite do jardim, na área externa, se nenhum garçom fica ali para se atentar às demandas. Outra irritação é a divisão de “praças”, que entendo funcionar como logística, mas, se mal executada, evidencia ainda mais o despreparo. Passei vários minutos com o braço erguido, vendo garçons atendendo mesas a 10 metros de distância da minha e passando reto apenas porque eu não estava “na praça deles”. Um mínimo de atenção e boa vontade para chamar o colega ou apenas saber o que eu queria já resolveria muito.
Junte a isso a demora de quase meia hora para trazer um clericot ou as quase duas horas e meia para completar um almoço de três etapas, e a receita para esgotar todo e qualquer carisma meu está pronta. “Solamente una vez” é a minha disposição com a casa depois disso.
Zante: a viagem ao Mediterrâneo que vale a pena
Por outro lado, o Zante, a única casa grega de Brasília atualmente, entregou tudo e um pouco mais de experiência. No jantar, eles oferecem como entradas os Keftedes (bolinhos de cordeiro fritos, empanados na farinha panko, sobre maionese da casa) e a salada Tzatziki (composta por grão-de-bico cozido, pepinos em cubos, cebola roxa, pedaços de queijo tipo feta e iogurte grego artesanal).
Para os principais, a pedida pode ser o Anarki (cordeiro braseado, acompanhado de arroz branco e legumes grelhados no azeite); o Orzo a Kalamari (duo de lulas recheadas com queijo tipo feta, ricota e azeitonas pretas, acompanhado de massa orzo refogada na redução de tomate e azeitonas pretas); ou Pita Gyros de Cogumelos (sanduíche grego feito com pão pita artesanal, molho tzatziki, shimeji ao shoyu, tomates e cebolas roxas em tiras e batatas fritas).
Como sobremesa, a decisão fica entre a Bougatsa (creme de semolina com raspas de laranja-bahia, creme de leite, leite e ovos, envolto em massa filo, finalizado com açúcar de confeiteiro e canela) e a Kataifi (fios de farinha de trigo hidratados na manteiga, enrolados em mix de castanhas e finalizados com calda de flor de laranjeira).
Minha sequência oficial foi Keftedes, Orzo a Kalamari e Bougatsa, mas acabei provando de tudo, já que estava acompanhado da amiga Lulu Peters (sua ex-colunista preferida do JBr) e da embaixadora desta edição da RW, a chef Raquel Amaral.
Tempero? 10/10. Ponto de cozimento de tudo? 10/10. Atendimento? 10/10. A noite foi um mix de texturas e sabores ricos que passaram, sim, pelo Mediterrâneo, mas trouxeram a identidade grega na finalização do fundo de boca, na puxada do feta, na redução do tomate com acidez perfeita ou na massa do pão, quase impossível parar de comê-lo. As porções também são para ninguém colocar defeito, e o aroma dos pratos toma conta da mesa.
Essa combinação de cozinha bem executada com uma equipe afiada no salão faz do Zante uma parada obrigatória para quem ainda não foi e um retorno certo para quem já conhece e quer aproveitar o RW para matar a saudade. O almoço custa R$ 68,90 e o jantar, R$ 89,90. Vale cada centavo.
Se as mais de 100 casas que estão participando desta edição da Restaurant Week se dedicarem à utilizá-lo como um gancho para conquistar novos frequentadores, assim como o Zante faz, a iniciativa terá, com certeza, uma longa vida por aqui.