A saúde dos dentes após a cirurgia bariátrica
Segundo um estudo da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), os pacientes que já fizeram a cirurgia bariátrica, tendem a apresentar piora no estado de saúde bucal. A análise confirmou a suspeita de dentistas como a doutora brasiliense Dirce Nascimento, que aponta casos de maior ocorrência de cáries, gengivite e doença periodontal. A especialista defende que esse procedimento também precisa de acompanhamento odontológico.
A brasiliense Fabiana Dantas, de 49 anos, está passando por problemas de saúde bucal desenvolvidos após ter realizado o procedimento cirúrgico. A empresária passou pela cirurgia quando tinha apenas 36 anos e atualmente sofre com os desgastes dos dentes. Fabiana alertou que os dentes dela quebram com muita facilidade hoje em dia. “É como se estivessem se esfarelando. Eles estão mais fracos, porosos e as cáries aparecem com muito mais frequência de antes da intervenção”.
O estudo apontou que o sequenciamento bacteriano da flora intestinal sofreu alterações de diversidade, aumentando a proporção de microrganismos que causam periodontite. A doutora Dirce, especialista em periodontia, aponta que quem faz a bariátrica tem como um dos maiores problemas para a saúde bucal, a redução do fluxo salivar, que é a hipossalivação. “E a saliva é importante por vários motivos, a começar por produzir os anticorpos, as imunoglobulinas que nos protegem contra os agentes agressores que causam tanto a carrie, quanto a inflamação da gengiva”.
Ela conta que geralmente, o que acontece é que os pacientes ficam com a boca seca e arrecadam uma alteração bucal que contribui também para a má qualidade salivatória, o que vai diminuir o PH, devido a uma deficiência de vitamina D, cálcio, e a vitamina B12.
Existe ainda um agravante, que é o uso contínuo de Ozempic depois que é realizada a operação da bariátrica. Segundo Dirce, esse produto interfere diretamente na produção da saliva. “E principalmente no início, após a cirurgia, as pessoas comem comidas mais pastosas e não têm um estímulo da mastigação, que a gente precisa”. Portanto, a doutora insiste na importância de um acompanhamento com dentista e nutricionista. “Esses pacientes precisam utilizar o creme dental com a quantidade de flúor maior e fazer estímulos com laser nas glândulas parótidas, essas glândulas maiores, que são responsáveis pela produção da saliva”.
Acompanhamento com o dentista
Segundo a Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM), no Brasil são realizadas mais de 60 mil cirurgias bariátricas anualmente. Em 2021, o número foi de 63.016 procedimentos, sendo 57.152 através de planos de saúde, 2.864 pelo SUS e cerca de 3 mil particulares. E como a doutora Dirce apontou, quando o paciente vai fazer a cirurgia, ele tem que passar por vários especialistas, incluindo uma avaliação psicológica, por um endocrinologista e outros.
Dirce acredita que o estudo feito pela Unifeso só reforça a importância de um profissional de odontologia participar do acompanhamento e aconselhamento desses pacientes. “Notamos uma piora significativa na saúde bucal, com aumento no número de dentes cariados e uma piora do índice periodontal”. Para a doutora, isso precisa ser repassado ao paciente que se submete a uma cirurgia tão complexa e delicada quanto a esta. “Em especial àqueles que pensam em realizá-la sem que haja um indício forte da real necessidade, como obesidade mórbida, por exemplo”, completou.
A especialista aponta que o acompanhamento do dentista deve ser feito alinhado ao nutricionista para que ele tenha uma dieta que contribua para um PH favorável, porque a mudança nos hábitos alimentares, na dieta com o aumento do número de ingestão diária de pequenas refeições fracionadas sem aumentar o número de escovações, podem contribuir para o comprometimento da saúde bucal.