Absorventes internos podem causar choque tóxico se usados por muitas horas
LAIZ MENEZES
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)
Há diversos tipos de absorventes menstruais disponíveis no mercado, como descartáveis externos e internos, reutilizáveis, coletores e calcinhas absorventes. Cada opção tem vantagens, mas também pode apresentar alguns riscos.
Uma professora no Texas teve uma infecção bacteriana rara após o uso incorreto do absorvente interno.
Neste mês, Ashley DeSkeere, 43, relatou ao Daily Mail que teve calafrios, náuseas e dificuldade de respirar. Precisou ficar internada por cinco dias até conseguir se recuperar.
Apesar de ser rara, a síndrome do choque tóxico que acometeu Ashley pode acontecer com qualquer pessoa que menstrua e usa o absorvente interno por mais de oito horas. A condição, caso não tratada de forma correta e rápida, pode levar ao óbito.
Apesar de não serem comuns riscos grandes a partir do uso de diferentes tipos de absorventes, é importante ficar atenta aos cuidados para se manter saudável e evitar infecções. Por isso, a reportagem conversou com especialistas para trazer detalhes e informações essenciais de cada item.
ABSORVENTES INTERNOS
O absorvente interno é um produto inserido no canal vaginal durante a menstruação. Feito de algodão ou rayon (tecido sintético feito a partir da celulose), é disponibilizado em diferentes tamanhos e níveis de absorção.
Para a ginecologista Patrícia Magier, especialista em medicina integrativa e funcional, o ideal é que o uso do absorvente interno não ultrapasse quatro horas, porque o sangue mantido no algodão dentro da vagina mantém a umidade e favorece infecções.
Com mais de oito horas de uso, a mulher corre risco de desenvolver a síndrome do choque tóxico, já que o ambiente favorece a proliferação de uma bactéria chamada Staphylococcus aureus. Espalhada para outras partes do corpo, ela pode causar um quadro de sepse (infecção generalizada).
“A bactéria libera toxinas que têm sintomas muito rápidos, como febre alta, pressão baixa, dor muscular, fraqueza, náusea, vômito, confusão mental e vermelhidão nos olhos”, explica.
O estudo publicado neste ano na revista Environment International apontou a presença de metais tóxicos em diversas marcas de absorventes internos, mas ainda não se sabe qual é o risco real de contaminação do corpo humano por meio desses produtos.
“O estudo diz que tem o metal pesado nos absorventes, mas ainda não se sabe se esse metal pesado consegue ser absorvido pelo organismo ou se vai fazer efeito no corpo”, afirma Adriana Bittencourt, presidente da Comissão Nacional Especializada em Trato Genital Inferior da Febrasgo (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia).
A especialista também faz um alerta para que as mulheres não esqueçam o absorvente dentro do canal vaginal. Segundo ela, muitas pacientes já chegaram ao consultório usando o item há mais de três dias devido a esquecimento.
ABSORVENTES EXTERNOS DESCARTÁVEIS
Também existem diversos tipos de absorventes externos descartáveis: com ou sem abas, cobertura seca ou suave, noturnos, adaptáveis para exercícios físicos e protetores diários.
Alguns absorventes de material sintético ou que contenham perfume podem causar irritação, alergia, coceira, assadura, vermelhidão e até aumentarmos o risco de infecção.
Adriana Bittencourt diz que deve-se dar preferência aos absorventes com cobertura suave, com algodão, porque a cobertura seca é um plástico e tem mais chances de causar um incômodo local.
Já com relação aos absorventes diários, usados por muitas mulheres com corrimento vaginal ou até mesmo quando o fluxo da menstruação está menor, a médica argumenta que não é aconselhado o uso todos os dias.
“Alguns absorventes diários têm um plástico embaixo e tem outro que não tem esse plástico. Os que não têm são respiráveis. O ideal seria usar somente a roupa íntima, mas tem mulheres que não conseguem, então devem dar preferência ao respirável.”
COLETORES MENSTRUAIS
O coletor menstrual é um dispositivo reutilizável de silicone ou borracha médica, inserido no canal vaginal para coletar o fluxo menstrual, em vez de absorvê-lo.
Existem dois tipos principais: o coletor com formato de copinho, que fica posicionado mais baixo no canal vaginal, e o disco menstrual, que se adapta mais perto do colo do útero.
Apesar de a bula de alguns coletores indicarem o uso de 8 a 12 horas, para Bittencourt, como eles também ficam no canal vaginal com o sangue parado, é preciso seguir o padrão de uso do absorvente interno.
“Eu recomendo que o coletor deve ser retirado e lavado a cada 3 ou 4 horas para que a mulher tenha uma higiene adequada.”
Entre uma mensuração e outra deve-se ferver o coletor para esterilizar. Para isso, é importante ter uma panela só para isso.
CALCINHAS E ABSORVENTES EXTERNOS REUTILIZÁVEIS
Os absorventes de pano ou calcinhas menstruais têm camadas de tecido feitas para absorver o fluxo menstrual. São comercializados em diferentes estilos e níveis de absorção para se ajustar ao fluxo leve, moderado ou intenso.
São parecidos com o absorvente externo, mas a chance de causar alergia é menor, porque geralmente são feitas de algodão na parte interna. E também deve-se trocar com frequência para não causar odor e proliferação de fungos e bactérias.
Os médicos recomendam a lavagem com sabonete neutro, se possível um sabão de coco.
EXISTE UM ABSORVENTE MAIS INDICADO?
Ginecologista, obstetra e perita médica, Fatima Oladejo destaca que não há um absorvente mais indicado para uso, mas que é interessante que a mulher possa testar os produtos disponíveis para encontrar um ideal para o seu fluxo e corpo.
Com relação a possíveis contraindicações de uso, a médica explica que mulheres que nunca tiveram relação sexual devem ficar atentas ao uso dos absorventes internos e dos coletores menstruais.
“Pacientes que têm o hímen íntegro podem sentir um pouco de dificuldade de introduzir o coletor. Eu acho que fica praticamente impossível, a não ser que ela não se importe em romper o hímen”, afirma.
Se tiver infecção vaginal ou qualquer outro problema na região, também não é indicado o uso de nenhum tipo de absorvente interno ou coletor, porque pode aumentar a gravidade do quadro de saúde da paciente.
Para não gerar infecção, a outra condição em que também não é indicado usar absorvente interno nem coletor é após o parto, seja ele normal ou cesáreo, ou após um aborto.