Agosto responde por metade da área queimada no Brasil em 2024
JÉSSICA MAES
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)
Após meses de seca, boa parte do Brasil entrou em chamas em agosto, dobrando a área atingida desde o início do ano. Segundo dados do Monitor do Fogo da plataforma MapBiomas, divulgados nesta quinta-feira (12), no último mês a área queimada no país foi de 56.516 km².
A área é maior do que a de cinco estados brasileiros (Sergipe, Alagoas, Rio de Janeiro, Espírito Santo e Rio Grande do Norte) e equivale à da Paraíba (56.467 km²). Foi o pior agosto da série histórica da plataforma, iniciada em 2019.
Com esse resultado, o total atingido pelo fogo no Brasil em 2024 chega a 113.960 km² -mais do que o dobro do registrado nos primeiros oito meses de 2023 (52.519 km²).
“É importante entendermos o que está queimando”, diz Ane Alencar, coordenadora do Mapbiomas Fogo e pesquisadora do Ipam (Instituto de Pesquisa da Amazônia).
“O que queima no Brasil são áreas de vegetação nativa, principalmente aquele tipo de vegetação mais savânica, como do cerrado e de formações campestres com algumas árvores. Em seguida vêm as áreas de campo e de floresta. Juntando tudo isso dá 65% da área queimada no Brasil em agosto.”
A área de agropecuária atingida foi de cerca de 34% do total, sendo que a maior parte se deu em pastagens (24.045 km²). A especialista ressalta que, na amazônia, esse índice aumenta.
“Cerca de 55% do que queimou na amazônia em agosto foi em áreas de pastagem. E essa área normalmente é maior, em torno de 70% a 75%, o que comprova o uso do fogo para a renovação do pasto [como uma fonte de focos]”, explica Alencar. “Isso é muito relevante. As pastagens são o principal uso da terra e ocupam grande parte da área desmatada na região”.
No país todo, áreas de pastagem respondem por um quarto (25%) do que foi queimado em agosto.
Os estados mais atingidos foram Mato Grosso (17.169 km²), Pará (9.194 km²) e Mato Grosso do Sul (6.282 km²).
Outro destaque foi São Paulo. No total, foram 3.704 km² queimados no estado no último mês, o que representa 86% do total para 2024. O fogo atingiu principalmente áreas agropecuárias (89%), especialmente de cultivo de cana-de-açúcar, com cerca de 2.360 km² queimados. Os municípios mais afetados foram Ribeirão Preto, Sertãozinho e Pitangueiras.
Entre os biomas, o cerrado (43%) foi o que mais queimou em agosto, seguido da amazônia (35%) e do pantanal (11%).
Mesmo diante dos altíssimos índices registrados em agosto, Alencar avalia que a situação deve ser ainda pior neste mês.
“Acho que em setembro nós vamos bater o recorde de agosto. Os números de focos de calor dão o indicativo de que vamos ter um setembro bem difícil”, afirma.
Em agosto, foram registrados mais de 68 mil focos no país, enquanto de 1º a 11 de setembro o número chega a quase 46 mil focos, segundo dados do Inpe (Instituto de Pesquisas Espaciais).
“O grande ponto é saber se a chuva vai começar a chegar em outubro ou não. Quanto mais estender essa época seca, mais vamos continuar nessa situação”, explica a pesquisadora. Ela acrescenta que o estabelecimento do La Niña pode trazer chuvas que aliviem a seca e amenizem a situação, mas o início do fenômeno climático está demorando mais do que o previsto inicialmente.
“As condições climáticas são um fator muito preponderante para que as queimadas extrapolem e virem grandes incêndios”, diz.
Alencar ressalta, ainda, que a situação é particularmente assustadora porque, mesmo com a gravidade da situação, as pessoas seguem usando o fogo na agropecuária e, em menor grau, para outros fins, como para queima de lixo.
“A crise requer que as pessoas parem de usar o fogo nesse momento e os criminosos comecem a ir para a cadeia. O governo está usando todos os seus esforços para combater o fogo e, mesmo que queira combater todos os incêndios, não vai dar conta. É preciso cortar o mal pela raiz, que é o uso do fogo.”