Ambidestria corporativa: a ginástica das empresas entre inovar e pagar as contas
Já ouviu falar em ambidestria corporativa? Não, não é a habilidade de uma empresa de escrever com as duas mãos (embora pareça útil!). O conceito é sobre fazer malabarismo entre inovar para o futuro e tocar a operação de hoje sem deixar a peteca cair.
A ambidestria corporativa refere-se à capacidade de uma organização de equilibrar a exploração de novas oportunidades com a explotação de recursos existentes. Sim, a palavra é explotação. Estranha, né! No âmbito das empresas, a explotação é uma estratégia de eficiência que pode aumentar o desempenho da empresa.
O termo foi introduzido por Michael Tushman e Charles O’Reilly em 1996, e desde então se tornou um conceito central em discussões sobre inovação e competitividade organizacional (TUSHMAN; O’REILLY, 1996). Em um mundo empresarial cada vez mais dinâmico e volátil, a ambidestria se destaca como uma estratégia essencial para garantir a longevidade e a relevância das empresas.
Em um mundo onde o que era verdade ontem vira meme hoje, empresas precisam equilibrar essa tal ambidestria para não virar história. Só que, no meio do caminho, tem sempre uma pedra – ou várias. Com a aceleração da transformação digital e as mudanças constantes no comportamento do consumidor, as empresas enfrentam um cenário desafiador.
De acordo com uma pesquisa da McKinsey, 70% das iniciativas de transformação falham, muitas vezes devido à falta de alinhamento entre inovação e operações existentes. Nesse contexto, a ambidestria corporativa emerge como uma estratégia vital para garantir que as organizações não apenas sobrevivam, mas prosperem.
Ou seja, as empresas falham porque faltou conexão entre o “vamos inovar” e o “temos que pagar o café”.
Mas quais os benefícios da ambidestria corporativa?
Organizações ambidestras tendem a ser mais inovadoras. Um estudo realizado por He e Wong demonstrou que empresas que praticam a ambidestria superam seus concorrentes em termos de receitas e lucros. A combinação de exploração e explotação permite que essas empresas desenvolvam novos produtos enquanto refinam os existentes.
- 2. Melhoria na eficiência operacional
A capacidade de manter operações eficientes enquanto se busca inovação é um dos principais benefícios da ambidestria corporativa. Empresas como o Magazine Luiza, no Brasil, exemplificam essa abordagem ao integrar suas operações físicas com plataformas digitais, otimizando a experiência do cliente. Não é só sobre inventar, mas fazer o arroz com feijão bem temperado. Ambidestria é isso: enquanto ajusta o tempero da receita antiga, já está pensando no prato novo.
- 3. Resiliência em ambientes turbulentos
A ambidestria corporativa também confere resiliência às organizações em tempos de crise. Durante a pandemia de COVID-19, empresas que conseguiram rapidamente adaptar suas operações para atender à nova realidade do mercado foram aquelas que já possuíam estruturas ambidestras. Quem era ágil, se virou; quem não era, foi virando museu.
Ser ambidestro dá lucro? Claro que dá!
- Receita cresce: quem sabe inovar e operar ao mesmo tempo consegue faturar mais, simples assim. De acordo com um estudo da McKinsey, as empresas que são líderes em transformação digital apresentam taxas de crescimento três vezes superiores às demais. Isso se deve à capacidade dessas organizações de inovar continuamente enquanto mantêm operações eficientes.
- Custos diminuem: ambidestria não é só criatividade; é eficiência. Um estudo realizado pela Gartner revelou que 53% das empresas buscam melhorar a experiência do cliente e aumentar a receita através da inovação, o que implica também na eficiência dos processos.
- Vantagem competitiva: em um mercado que muda mais rápido do que você troca de ideia, ser ambidestro é o escudo e a espada. Organizações ambidestras conseguem se destacar em mercados saturados. Elas não apenas mantêm sua posição no mercado, mas também se adaptam rapidamente às mudanças nas demandas dos consumidores. Isso é crucial em um ambiente onde novos concorrentes podem surgir rapidamente, como demonstrado pelo sucesso inicial de empresas como Google (minha antiga casa), Apple e Facebook, que começaram como startups em garagens e rapidamente desbancaram grandes marcas.
- Melhoria na satisfação do cliente: empresas que praticam a ambidestria têm maior capacidade de responder às necessidades dos clientes, resultando em maior satisfação e fidelização. Uma pesquisa da McKinsey também indica que as empresas que investem em inovação centrada no cliente conseguem não apenas reter clientes existentes, mas também atrair novos consumidores, aumentando assim sua base de receita.
Mas nem tudo são flores e post-its.
Por que ser ambidestro é tão vital quanto difícil?
Fazer mais com menos é o esporte olímpico das empresas. Quem consegue inovar enquanto mantém a engrenagem rodando merece ouro. Mas a ginástica não é só técnica, é também resistência emocional.
Imagine o seguinte: de um lado, você precisa criar o próximo grande hit; do outro, a operação grita que o estoque de clips acabou. É essa dualidade que define a tal da ambidestria.
Implementar isso é tipo tentar equilibrar pratos enquanto anda de monociclo: difícil pacas.
Por quê?
Porque:
- 1. Cultura é bicho teimoso: valorizar inovação e eficiência ao mesmo tempo é como pedir para o gato e o cachorro se amarem.
- 2. Orçamento não dá em árvore: às vezes, falta grana até pra manter o velho, imagina investir no novo.
- 3. Conflitos internos: as áreas batem cabeça porque ninguém quer perder espaço no tapete vermelho corporativo.
Mas qual o papel da liderança ambidestra?
Ser líder em um ambiente assim exige habilidade cirúrgica. Não basta só ter boas ideias; é preciso integrá-las na rotina sem derrubar a casa. Onde este líder impacta?
- Cultura organizacional: líderes ambidestros promovem uma cultura que valoriza tanto a eficiência quanto a inovação. O líder ambidestro precisa ser tipo aquele professor que inspira os alunos a amar a matéria e tirar nota alta. Isso significa que as equipes são incentivadas a experimentar novas ideias enquanto mantêm um foco nos resultados operacionais. Essa cultura ajuda a criar um ambiente onde a inovação pode florescer, pois os colaboradores se sentem seguros para apresentar novas propostas.
- Estruturas flexíveis: a implementação da ambidestria pode ocorrer através de diferentes estruturas organizacionais. Em algumas empresas, as equipes de inovação operam separadamente das operações tradicionais, enquanto em outras, todos os colaboradores são incentivados a dividir seu tempo entre as duas atividades. Essa flexibilidade permite que as empresas respondam rapidamente às mudanças e integrem inovações em seus processos existentes.
- Mentalidade paradoxal: líderes ambidestros não apenas toleram, mas também aproveitam as tensões entre eficiência e inovação.
Não dá pra fugir: eficiência e inovação vão sempre brigar. Mas líderes inteligentes transformam tensão em oportunidade.
Eles articulam uma visão clara que abrange essas tensões, ajudando a criar uma cultura organizacional onde tanto a descoberta quanto a operação são vistas como essenciais para o sucesso. Essa mentalidade é fundamental para motivar as equipes e garantir que todos estejam alinhados com os objetivos da empresa.
- Capacidade de tomar riscos: a liderança ambidestra envolve um apetite por riscos calculados. Os líderes devem estar dispostos a investir em inovações, mesmo quando isso implica incertezas. Essa disposição para assumir riscos é o que frequentemente leva à criação de produtos e serviços disruptivos. O que seria de nós sem um pouquinho de ousadia, né?
- Integração de processos: a prática da liderança ambidestra requer uma integração eficaz entre as operações existentes e as novas iniciativas. Isso pode ser alcançado através de práticas como feedback contínuo e colaboração entre equipes, permitindo que as inovações sejam testadas e implementadas sem comprometer a eficiência operacional
No fim das contas: é saber remar e velejar.
Ambidestria é isso: o equilíbrio entre inovar e entregar. Empresas ambidestras sabem que, às vezes, é preciso colocar a jangada no mar enquanto constrói a vela. Quem não entende isso, fica à deriva.
Se sua empresa ainda não pratica ambidestria, talvez seja hora de parar de tomar espumante na lancha e começar a esculpir o remo.
Vai por mim, dá trabalho, mas vale cada gota de suor.