Análise: velha esquerda x nova esquerda
Passada as eleições municipais, partidos e caciques passam, agora, a olhar para o futuro. Mesmo sem o pleito para prefeitos e vereadores, o Distrito Federal também precisa entrar na conta para 2026, quando a capital escolherá deputados federais, distritais, senadores e o governador. Maior derrotada em 2024, para voltar a ter protagonismo nas próximas eleições da capital do país, a esquerda precisará entrar em uma guerra de gerações, como analisam nos bastidores dirigentes que buscam uma renovação do campo brasiliense.
Segundo uma fonte partidária, ainda consequência de 2022, a esquerda do DF se encontra pulverizada. Esse reflexo já aparece a dois anos do próximo pleito. Atualmente, estão “pré-lançados” ao Palácio do Buriti o ex-deputado federal Geraldo Magela (PT) e Ricardo Capelli, ex-secretário interventor de Segurança Pública do DF. Ambas causam incômodo.
O primeiro, de acordo com a fonte, por se tratar de um nome da velha guarda do PT local e, principalmente, por ter se lançado, sem uma conversa com as demais siglas do campo progressista. O segundo, apesar do papel que teve no 8 de janeiro de 2023, por ser um novato no cenário local e que nunca foi experimentado em uma urna.
Do outro lado, há uma esquerda “jovem” — entre 40 e 50 anos — que deseja seguir por novos caminhos, se descolando dos “mais velhos” — entre 60 e 70 anos — que “tiveram seu tempo” e não representam o pensamento dos eleitores mais novos, na visão dos críticos. “Para que a esquerda volte a vencer será necessário primeiro vencer a velha guarda. A esquerda está em flagelos”, aponta.
No campo jovem do progressismo do Distrito Federal, estão nomes como Leandro Grass (PV), Leila Barros (PDT), Reginaldo Veras (PV), Max Maciel, Fábio Felix e Keka Bagno (os três do PSol). Do lado mais experiente, Magela, Rodrigo Rollemberg (PSB) e Érika Kokay (PT).
Com esse racha de gerações, por maior que seja a proximidade de Leandro Grass com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o candidato derrotado para o GDF em 2022 pode não ter o apoio, por exemplo, do PT-DF que lhe deu a cabeça de chapa no último pleito.
Vendo parte do sucesso do governo de Lula, o Partido dos Trabalhadores tende se empolgar e lançar o próprio Magela, Érika Kokay ou ainda trazer de fora um nome, aumentando as dificuldades de um nome divergente.
Para membros do campo progressista, Magela não é uma opção para os mais novos, que acredita que mesmo para distrital o veterano teria dificuldade de se eleger.
Por outro lado, o legislativo pode ser mais competitivo, para 2026. Mesmo diante das dificuldades de uma cidade mais a direita, Leila e Veras deverão tentar a reeleição. A senadora está no fim de seu mandato de oito anos. Ela tentou se eleger ao governo em 2022, mas a leitura é de que Grass, tendo se experimentado e ficado em segundo, pode ter mais chances se todos estiverem juntos.
Mais votado para a Câmara Legislativa, Fábio Felix manifesta publicamente seu desejo de se candidatar a deputado federal, possivelmente, com apoio da petista Érika Kolay — que pretende ir para o Senado —, mas sob o receio de que ela possa ainda voltar atrás, para que o PT tenha uma bancada viva na Câmara dos Deputados, inclusive com maior volume de recursos do Fundo Eleitoral.
Ao cabo, o que se prevê nos bastidores é que a esquerda do Distrito Federal só terá alguma chance unindo-se, mas que a união dependerá necessariamente de uma cisão entre a nova e a velha geração do progressismo da capital federal.