Saúde

Aumento de casos de coqueluche pode estar ligado à perda de imunidade vacinal e cobertura insuficiente


LAIZ MENEZES
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)

O aumento expressivo de casos de coqueluche no Brasil pode estar relacionado à perda de imunidade da vacina depois de cinco a dez anos de aplicação, associado à restrição etária do público-alvo elegível para receber o imunizante. A dose só está disponível para crianças de até quatro anos, gestantes, parteiras e profissionais de saúde.

As infecções por coqueluche aumentaram 1.419% em 2024 no Brasil, na comparação com todo o ano passado. Até o dia 31 de outubro, foram registrados 3.252 casos da doença e 12 mortes. Em 2023 e 2022 foram 214 e 245 infecções no país, respectivamente, sem óbitos.

O SUS (Sistema Único de Saúde) oferece três tipos de vacinas contra a coqueluche. A pentavalente é disponibilizada em três doses para crianças menores de um ano. Depois, há uma dose da DTP (vacina adsorvida difteria, tétano e pertussis) aos 15 meses de idade e uma segunda dose aos quatro anos.

Além dessas, a vacina dTpa (tríplice bacteriana acelular tipo adulto) é aplicada em grávidas a partir da 20ª semana de gestação, profissionais da saúde e parteiras.

O Ministério da Saúde afirma que “a imunidade [das três vacinas] não é permanente. Após cinco a dez anos, em média, da última dose da vacina, a proteção pode ser pouca ou inexistente”. A pasta informou que não tem previsão ou planos de alterar o público-alvo das vacinas.

A meta de vacinação estabelecida é de 95%. A cobertura da pentavalente está em 86,89%, enquanto a primeira e segunda dose da DTP, em 86,90% e 86,05%, respectivamente. A dTpa apresenta cobertura de 84,91%, segundo dados do Ministério da Saúde.

Apesar dos números não serem considerados baixos, infectologistas ouvidos pela reportagem afirmam que eles não são suficientes. Em 2023, a cobertura dos imunizantes foi parecida com 2024, mas a segunda dose da DTP teve um percentual menor: 78,28%.

A faixa etária mais afetada pela coqueluche é a de 10 a 14 anos, com 801 casos.

O infectologista Antônio Bandeira, assessor técnico do Lacen-BA (Laboratório Central de Saúde Pública da Bahia), diz que o ideal seria oferecer mais uma dose da vacina para pessoas entre 10 e 20 anos.

Segundo o médico, não há contraindicação do imunizante.

“O Programa Nacional de Imunização [PNI] tem que pensar em oferecer um reforço da vacina para adolescentes ou jovens adultos. Isso iria prevenir muitas infecções e óbitos”, diz.

O público com 30 anos ou mais é o segundo mais afetado pela doença, com 715 casos. Bandeira acrescenta que o Brasil também poderia passar a oferecer uma dose de reforço da vacina para idosos, já que nessa idade a infecção pode ser mais grave e levar ao óbito.

Marcelo Otsuka, coordenador do comitê de infectologia pediátrica da SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia), destaca que são vários os fatores que podem levar ao aumento no número de casos da coqueluche. Segundo ele, a doença tem picos a cada cinco ou sete anos.

“Existe uma oscilação. Tem períodos que não têm muitos casos e têm outros em que a população pode estar mais suscetível, o que causa um aumento de infecções”, explica.

A vacinação de gestantes, segundo Otsuka, permite que os bebês nasçam com uma resposta imune para a coqueluche. A cobertura insuficiente, no entanto, pode contribuir para que os menores de um ano sejam também um dos públicos mais afetados, com 502 casos até o momento.

“A criança ou adolescente, gestantes e outras pessoas que não se vacinaram podem levar a um aumento de casos na população. Podem transmitir a doença para pessoas mais vulneráveis, como bebês e idosos.”

Sobre a cobertura vacinal, o Ministério da Saúde afirma que houve um “crescimento significativo das coberturas das vacinas contra a coqueluche” e que o “aumento é resultado de mais de R$ 5,6 bilhões que foram investidos para compra de imunizantes e R$ 150 milhões que foram repassados aos estados e municípios para apoio das ações de imunização com foco em ações de comunicação regionalizadas”.

COQUELUCHE AFETA SISTEMA RESPIRATÓRIO

A coqueluche -conhecida popularmente como tosse comprida- é uma infecção respiratória causada pela bactéria Bordetella pertussis. A transmissão se dá por meio de gotículas eliminadas pela tosse, fala e pelo espirro. Outra forma, menos frequente, se dá através de objetos contaminados com secreções de infectados. O período de incubação é de cinco a dez dias, em média, mas pode variar de quatro a 21 dias.

“A doença acomete especificamente o aparelho respiratório, a traqueia e os brônquios humanos. A característica principal dela são as tosses, a tosse seca. , explica o infectologista Claudilson Bastos, professor da Uneb (Universidade do Estado da Bahia).

A doença tem três fases. Começa com um resfriado comum, com febre baixa, mal-estar, coriza e tosse seca. Gradualmente, a tosse se torna forte e incontrolável, com crises súbitas e rápidas. A pessoa tosse em guinchos e chega a perder o fôlego. Em alguns casos, ocorre vômito. Nesta fase -que pode durar de duas a seis semanas e é chamada de paroxística- é comum surgirem as maiores complicações da coqueluche.

Por último vem o período da recuperação. A tosse diminui, mas pode demorar cerca de três meses para ir embora.

Crianças, adultos com doenças crônicas e imunossuprimidos têm risco para evolução grave da doença.

Nos pacientes abaixo de quatro anos -principalmente menores de um ano- a coqueluche pode ser muito grave e levar à morte.

O projeto Saúde Pública tem apoio da Umane, associação civil que tem como objetivo auxiliar iniciativas voltadas à promoção da saúde


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