Brasilia

Bets em escolas preocupam pais


A atual facilidade para acessar sites e aplicativos de apostas por pessoas de qualquer idade tem gerado preocupação em pais e responsáveis de crianças e adolescentes. Eles relatam que os filhos têm gastado tempo e dinheiro na nova moda, que invadiu também o ambiente escolar, trazendo prejuízos cognitivos e comportamentais aos menores de idade.

Com base nesta realidade que adentra o ambiente escolar, a Associação de Pais e Alunos das Instituições de Ensino (Aspa) do Distrito Federal emitiu uma nota de preocupação quanto aos riscos do desenfreado acesso às plataformas de apostas por alunos na capital, tanto em escolas públicas quanto em particulares.

O presidente da associação, Alexandre Veloso, destaca que este tipo de prática pode representar uma ameaça tanto ao presente quanto ao futuro dos estudantes, trazendo prejuízos na aprendizagem e à saúde deles. Ainda na nota, a associação destaca que a natureza viciante dessas plataformas pode “gerar estresse e ansiedade, à medida que as apostas deixam de ser por diversão e passam a ser motivadas pelo ganho financeiro”.

“Os impactos na aprendizagem já podem ser notados, na medida em que estudantes começam a passar mais tempo apostando do que pretendiam inicialmente, o que pode resultar em procrastinação na entrega de atividades escolares, problemas de sono e perda de foco nos estudos”, continua a nota.

De acordo com Alexandre, uma das principais reclamações é que plataformas que promovem jogos de azar não possuem métodos e requisitos mais sofisticados para impedir a entrada de menores no mundo das apostas, permitindo o acesso irrestrito ao entretenimento voltado apenas para o público adulto. Basta que o menor de idade minta sobre a data de nascimento para que tenha acesso completo às opções de aposta em muitos sites e aplicativos.

“A associação percebeu essa fragilidade do sistema [de aposta] juntamente com os pais. O sistema não faz uma checagem biofacial ou outros elementos de indicação que comprovem que o usuário é realmente aquele que está se cadastrando. Nós temos essa situação de que o próprio aluno colocava a sua data de nascimento incorreta com o fim de burlar o sistema e poder fazer uso desses jogos”, afirmou.

Conforme relatou, os pais e responsáveis perceberam que os filhos passaram a passar um tempo ainda maior nas telas, para além do tempo gasto em redes sociais e em conversas por aplicativo.

Com o uso desenfreado dos aplicativos e sites de aposta, o vício do jogo acaba por empobrecer a economia dos alunos e também das famílias caso usem o cartão de crédito dos pais e responsáveis, porque passam a apostar o que não têm em busca de um rendimento baseado na sorte. 

“Os comentários que viemos acompanhando é que isso vem gerando ansiedade neles, uma falsa percepção de ganho fácil, como se fosse fácil ganhar R$ 500,00 ou R$ 300,00 por dia com esses tipos de jogos. Tem os influenciadores também que incentivam a prática como meio de vida. Os próprios estudantes então ficam desestimulados de criar um currículo com anos de formação escolar e superior ou técnica”, disse Alexandre.

Uso indisciplinado do celular

O que começou como uma brincadeira entre os alunos e colegas de escola, com a possibilidade de ganhos fáceis a partir de valores menores como R$ 10,00 ou R$ 30,00 vindos de alguma mesada ou outro dinheiro que estava guardado, na medida em que o tempo passou, se tornou mais um caso de urgente atenção aos acessos dentro da internet por crianças e adolescentes.

De acordo com Alexandre, a dificuldade decorre de uma problemática primária, que é o uso indisciplinado do celular em sala de aula e em casa. “Não tem política pública que dê certo se não tiver a família e a escola monitorando. Nós já vínhamos discutindo a dependência do uso de telas e agora com a questão das apostas, percebemos que uma grande parcela de alunos estavam acessando essas plataformas – o que nem é permitido para a idade deles”, afirmou Alexandre.

“Vimos a necessidade de unir forças para que se tivesse uma atenção especial em relação aos estudantes, porque é um ambiente em que passam boa parte do dia, dentro da escola, na sala de aula. É importante uma regulação mais firme com maior limitação de acesso ao celular e aos aplicativos de apostas, para salvar os estudantes dessa mazela, para não se criar um novo vício”, acrescentou.

Segundo ele, ainda há desconhecimento e despreparo de muitos pais para fazer o acompanhamento dos filhos quanto ao que acessam na internet e o que estão consumindo dentro das redes sociais. Conforme destacou, esta é uma nova situação em que é necessário preparar os responsáveis para também poderem fazer um controle mais efetivo. “Não basta só proibir, é preciso também mostrar os males que isso causa – da dependência, do vício – e fazer com que os pais possam monitorar e acompanhar, proibindo sim em alguns momentos”, disse Alexandre.

O que diz a Secretaria de Educação

Consultada pelo Jornal de Brasília a respeito da problemática, apesar de ser uma reclamação dos pais, a Secretaria de Educação do DF (SEE/DF) informou que “não recebeu das escolas nenhuma demanda sobre apostas em jogos online em ambientes escolares”, mas ressaltou a proibição do uso de celulares e outros dispositivos eletrônicos por alunos dentro de sala de aula nas escolas públicas e privadas do DF, com base na Lei nº 4131, de 02 de maio de 2008. 

O uso dos dispositivos, portanto, é permitido apenas nos intervalos e horários de recreio, fora do ambiente de sala de aula, ressaltados os casos de utilização estrita para fins pedagógicos. É dentro desse aspecto que a pasta destaca a autonomia das escolas para implementar decisões pedagógicas e administrativas, destacando que há escolas que proíbem o uso no horário do intervalo por entender que a socialização dos alunos é mais importante.

“A Pasta expressa preocupação com toda prática que pode comprometer o sucesso do processo pedagógico dos estudantes da rede pública e privada de ensino do Distrito Federal e defende a discussão do tema entre o governo e sociedade”, acrescentou.


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