Brasileiro evita ações de prevenção à dengue que exigem esforço físico
O retorno da chuva após o período de seca traz de volta a preocupação com a dengue. Um novo estudo do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), lançado nesta quinta-feira (24/10), mostra que as campanhas de prevenção à doença e outras arboviroses devem ser mais incisivas, com mensagens que vão além do conhecido “evite água parada”.
A pesquisa “Combate à dengue, zika e chikungunya — Estudo comportamental sobre a adesão a práticas de prevenção — foi feita com o apoio da farmacêutica Takeda. O estudo investigou os aspectos que motivam ou dificultam a adoção de práticas de prevenção contra o mosquito Aedes Aegypti.
Ao entrevistar populações de dois municípios brasileiros com alta incidência de dengue na última onda da doença, o Unicef constatou que, embora as pessoas tenham o conhecimento das ações de combate ao mosquito, muitas vezes essas ações não são colocadas em prática se envolvem esforço físico e/ou gastos financeiros, por exemplo.
“Há uma diferença entre o que as pessoas falam que fazem e os hábitos que efetivamente incorporam em suas rotinas diárias. Fazer ou não fazer algo depende de uma enorme confluência de fatores, comportamentos, normas sociais, infraestrutura e acesso a políticas públicas. São esses aspectos que revelamos nesse estudo”, explicou a chefe de saúde do Unicef no Brasil, Luciana Phebo.
O número de casos prováveis da doença no Brasil teve um aumento de 400% em 2024 em comparação ao ano passado. Foram 6,5 milhões de casos registrados até 7 de outubro e 5.674 mortes em decorrência da doença e 1.397 em investigação, segundo dados do Ministério da Saúde.
Limitações para a prevenção de arboviroses
Ao analisar os aspectos que motivam e limitam a adoção de práticas de prevenção ao mosquito Aedes Aegypti, os pesquisadores consideraram fatores psicológicos, sociológicos e estruturais. Entre os fatores psicológicos, destacam-se a percepção de risco, esforço e custos financeiros.
Pessoas que nunca tiveram a doença tendem a não acreditar na gravidade dela. Nesse caso, a percepção de risco e as práticas de prevenção podem aumentar em situação de epidemia, mas relaxar quando não há.
Por outro lado, pessoas que já tiveram dengue e sabem que a doença é impactante e traz repercussão rotina têm uma percepção de risco alta e tendem a se proteger mais, segundo Phebo esclareceu em coletiva de imprensa nesta quinta-feira (24/10).
Embora o conhecimento de que a limpeza de calhas, caixas d’água e locais de difícil acesso seja necessária para evitar a proliferação do mosquito, a medida é vista como algo difícil, demorado e complexo, para o qual as pessoas não têm tempo ou disponibilidade.
Além disso, a limpeza de caixa d’água, compra de repelentes e outras medidas preventivas são apontadas como inviáveis por populações de locais mais vulneráveis.
Do ponto de vista sociológico, o Unicef destaca como barreiras a organização coletiva e a influência comunitária.
Fazer parte de organizações de bairro aumentou o engajamento nas práticas de prevenção, enquanto que pensar no individual limita a prevenção à doença. “É muito fácil culpar o outro. ‘Eu cuido da minha casa, mas o outro não faz a parte dele’”, apontou Phebo, ao lembrar que os cuidados com o mosquito devem extrapolar os portões de casa.
A influência comunitária também é um fator importante. O levantamento mostra que muitas pessoas se sentem moralmente obrigadas a cumprir práticas de prevenção que acreditam que é esperado delas.
Entre os fatores estruturais foram apontados a falta de coleta de lixo e a presença de terrenos baldios, como estímulos para o descarte inadequado de lixo.
A atuação dos agentes de endemia foi associada à diminuição das arboviroses. Mas algumas regiões ainda contam com limitação no número de agentes ou com obstáculos na relação dos agentes com a comunidade, dificultando a comunicação.
Por fim, o estudo aponta que a baixa confiança da população nos órgãos de governo pode ser uma barreira para que as orientações de saúde e prevenção sejam seguidas.
O estudo foi realizado a partir de entrevistas conduzidas nas casas de moradores de Montes Claros (MG) e Sinop (MT). Os municípios foram escolhidos devido à alta incidência de casos de dengue, por integrarem a lista de municípios prioritários do Ministérios da Saúde para ações de combate às arboviroses. Também foram feitas entrevistas com gestores públicos de outras oito cidades das regiões da Amazônia e do Semiárido.
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