“Café fake”: saiba como diferenciar o produto adulterado do original
O café uma paixão nacional e faz parte da rotina do brasileiro, mas nem sempre o que está na xícara do consumidor é 100% café. Nos últimos meses, com o preço do produto nas alturas, um novo produto tem sido vendido: o “pó sabor café”, apelidado de “café fake” ou “cafake”. O item contém misturas de milho, cevada e até cascas, sem aviso claro no rótulo. A prática, além de enganar o consumidor, levanta preocupações sobre fiscalização e qualidade.
A alta no preço do café tem levado ao aumento de fraudes no mercado, tornando a adulteração do produto um dos principais problemas para os consumidores. Esse tipo de fraude é uma grande preocupação para a indústria cafeeira, principalmente pelo cenário econômico desfavorável vivenciado, e o consumidor fica vulnerável diante de embalagens ilusórias.
Como identificar um café adulterado?
- Segundo especialistas, existem algumas pistas que podem indicar se o consumidor está levando para casa um “café fake”.
- Preço muito abaixo do normal: se o valor for significativamente menor que o de outras marcas, é um sinal de alerta.
- Rótulo impreciso: a embalagem deve conter os termos “café torrado em grão” ou “café torrado e moído”. Se houver outras descrições como “bebida sabor café”, pode ser sinal de adulteração.
- Cor e textura do pó: cafés 100% puros tendem a ter uma coloração marrom-avermelhada. Caso o pó seja muito escuro, quase preto, pode indicar excesso de torra ou presença de outros ingredientes.
- Cheiro e sabor: o aroma do café puro é intenso e característico. Cafés falsificados podem ter um cheiro mais fraco ou que se assemelhe ao de “borracha queimada”. O sabor pode ser mais amargo do que o normal.
O que é o café fake e como ele chega ao mercado?
O café adulterado, também chamado de “cafake”, surge principalmente por dois fatores: redução de custos e falta de fiscalização rigorosa. Sem um controle eficiente, marcas conseguem vender esses produtos como se fossem cafés puros, enganando os consumidores. São inseridos elementos como cascas, paus, pedras e até palhas no produto, visando reduzir custos e aumentar o volume vendido.
No Brasil, a legislação determina que um produto só pode ser chamado de “café” se for feito exclusivamente com grãos de café torrados e moídos. Caso haja qualquer outro ingrediente na mistura, a embalagem deve deixar isso claro com termos como “mistura para café” ou “bebida a base de café”. No entanto, nem sempre a regra é respeitada, e os consumidores acabam levando para casa um produto que não é exatamente o que parece.
“A falta, a carência do café no mercado, e os valores mais elevados, trouxeram esse tipo de produto novamente, que no passado já apareceu e está voltando até no mercado”, afirma o nutricionista Guilherme Falcão Mendes, professor de nutrição da da Universidade Católica de Brasília (UCB).
Esse cenário não é exclusivo ao café. Durante a pandemia de Covid-19, em 2020, observou-se um aumento significativo no consumo de produtos lácteos indulgentes, como o leite condensado, em diversos lares brasileiros.
Tal crescimento na demanda levou grandes indústrias a adotarem práticas questionáveis, como a utilização de soro de leite na produção, visando reduzir custos. O soro de leite possui menor valor nutricional e pode comprometer a qualidade do produto, assim como acontece com o café adulterado.
Impacto na saúde
Mendes alerta que o consumo de café fake pode ter impactos na saúde, especialmente para pessoas com problemas gastrointestinais ou alergias. Isso, pois a própria legislação permite a presença de certos contaminantes naturais no processo de produção.
“Pode ter galho, folha, até presença de inseto, inclusive. Pessoas sensíveis, com problemas gástricos ou alérgicos, podem perceber sintomas ao consumir esses cafés”, declara.
Para quem depende da cafeína para se manter alerta, há outro problema: os cafés falsificados geralmente tem menos cafeína do que o puro, o que pode levar a sintomas como fadiga, irritabilidade e dificuldades de concentração.
“Nessa situação, a ausência da cafeína pode causar irritabilidade, maior sensação de cansaço, dores de cabeça e estresse”, afirma a nutricionista Adriane Antunes.
Como diferenciar
Para identificar um café de qualidade inferior ou possivelmente adulterado, é importante observar o comportamento durante o preparo tradicional com filtro de papel ou pano. Caso forme uma sedimentação preta e homogênea, pode indicar moagem excessivamente fina e torra intensa, características comuns em cafés de menor qualidade. A melhor forma de garantir a qualidade do café é verificar a embalagem e procurar selos de certificação, como o da Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic).
Em 2025, o preço do café registrou aumentos significativos devido a uma combinação de fatores climáticos e econômicos. Condições adversas, como secas e geadas, afetaram as principais regiões produtoras, especialmente no Brasil, o que resultou em uma considerável redução na oferta do grão.