Saúde

Cientistas desenvolvem 1ª caneta de adrenalina brasileira para crises de alergia graves


LAIZ MENEZES
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)

Um grupo de pesquisadores brasileiros da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) desenvolveu a primeira caneta de adrenalina do Brasil. O medicamento é usado em casos de crises graves de alergia (anafilaxia) e pode ser aplicado pelo próprio paciente.

A anafilaxia, forma mais grave de reação alérgica, pode causar sintomas como dificuldade para respirar, perda de consciência, vermelhidão, pressão arterial baixa e alterações na frequência cardíaca, podendo causar até à morte. A caneta serve para estabilizar o paciente.

O Brasil não tem canetas de adrenalina disponíveis no mercado. Pelo SUS (Sistema Único de Saúde), o paciente só pode ter acesso a partir de judicialização.
Para importar, é preciso pagar mais de R$ 2.000, mas o valor pode aumentar de acordo com a variação do dólar. Os pesquisadores estimam que o produto nacional seja vendido por R$ 400.

Líder do grupo que desenvolveu a caneta nacional, o pesquisador e professor da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) Renato Rozental explica que os pesquisadores estão em busca da parceria de laboratórios para a produção em larga escala do produto e registro na Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).

“Uma vez aprovado pela Anvisa, qualquer brasileiro pode conseguir ter acesso a essa caneta injetável por um preço infinitamente menor do que os praticados por importação ou através de judicialização”, diz.

A caneta será apresentada a um representante da Anvisa durante o 51° Congresso Brasileiro de Alergia e Imunologia, em Salvador (BA), este mês.

“A diferença de ter uma caneta dessa é que não requer treinamento de um profissional da área de saúde.

Se a pessoa estiver no campo, estiver com trabalho, ela pode aplicar a adrenalina. Basta destravar e apertar o botão. É um processo muito fácil, a agulha perfura até mesmo o jeans, não precisa tirar”, explica Rozental.

Para desenvolver o produto, o pesquisador detalha que foi avaliada a dificuldade de administrar adrenalina fora de áreas hospitalares ou em unidades de saúde que não tenham pessoal treinado e qualificado.

Segundo ele, o processo não é simples. “A pessoa tem que fazer cálculo de dosagem, tem que ter uma certa experiência com ampolas, retirando o conteúdo líquido, posicionando agulhas. Isso, se a pessoa estiver nervosa, pode cometer mil erros.”

A caneta de adrenalina já tem a quantidade exata do medicamento para adultos e para crianças. Com o quadro de saúde estável, o paciente pode ser levado para exames complementares em uma unidade de saúde.

Caso aprovado pela Anvisa, a ideia é que o medicamento esteja disponível em cerca de 11 meses e que o paciente possa manter a caneta por perto, como se fosse uma bombinha de asma. Se incluído no SUS, o produto poderá ser disponibilizado gratuitamente.

O Ministério da Saúde foi perguntando sobre a possível inserção do medicamento na saúde pública, mas não respondeu até a publicação da reportagem.

Fábio Chigres Kuschnir, presidente da Asbai (Associação Brasileira de Alergia e Imunologia), explica que o funcionamento da caneta de adrenalina é similar ao de uma caneta esferográfica, mas que no lugar da tinta está o medicamento.

A tecnologia não é nova, mas ele atribui a indisponibilidade no Brasil a uma falta de interesse da indústria de medicamentos. Nos hospitais, existem doses de adrenalina em ampolas, que não são vendidas em farmácias e a aplicação só pode ser feita por profissionais da saúde.

“De alguns anos para cá, nós tivemos um aumento muito grande de alergias, inclusive das alergias mais graves, que a gente chama de anafilaxia. Então isso tem despertado não só no Brasil, mas no mundo inteiro uma atenção especial”, comenta.

Já são comercializados no país antialérgicos. O presidente da Asbai destaca, no entanto, que esses remédios só começam a agir dentro de 20 minutos e não estabilizam completamente o paciente caso ele esteja com um quadro mais grave. Também há os corticoides, mas só começam a agir dentro de duas horas.


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