Comida: A vilã oculta da ansiedade
Por: Franz Burini
Especial para Jornal de Brasília
Em um mundo de dietas, fast food e redes sociais, você sabe como a comida e o exercício físico podem afetar a sua saúde mental?
Na correria do dia a dia, é comum que nossas escolhas alimentares sejam impulsionadas pela praticidade e pelo prazer imediato. Comidas ultraprocessadas, ricas em açúcares e gorduras saturadas, ocupam o centro das refeições, enquanto por outro lado a prática regular de exercícios físicos fica relegada a um plano secundário ou até mesmo esquecida. No entanto, essas decisões têm um preço alto: a crescente taxa de ansiedade e depressão na sociedade moderna. E o mais preocupante? Muitos desconhecem o papel crucial que a comida desempenha na indução de estados ansiosos e o potencial transformador do exercício como um dos mais potentes antidepressivos naturais.
A comida como gatilho da ansiedade
Seja aquele pacote de salgadinho consumido sem pensar enquanto trabalha, ou o chocolate devorado às pressas em um momento de estresse, a comida é frequentemente usada como um meio de lidar com algumas emoções. No entanto, essa “comida de conforto” pode estar exacerbando os níveis de ansiedade. Pesquisas mostram que dietas ricas em açúcar e alimentos processados podem aumentar a predisposição à ansiedade, seja via respostas inflamatórias ou alterações e desequilíbrios em neurotransmissores, até mesmo prejudicando função cognitiva.
Alimentos com alta densidade calórica, ricos em açúcar e gorduras trans podem alterar a produção de neurotransmissores como a serotonina, um dos envolvidos na que regulação do humor. Em vez de acalmar a mente, esses alimentos criam um ciclo vicioso, onde os picos e quedas de açúcar no sangue levam a sentimentos de inquietação e ansiedade.
Além disso, o consumo excessivo de cafeína, presente em cafés, chás energéticos e refrigerantes, pode amplificar os sintomas de ansiedade, como palpitações e insônia. Embora a cafeína ofereça um impulso temporário de energia, ela pode deixar o corpo em um estado de alerta constante, alterando o sistema nervoso e dificultando a sensação de relaxamento.
Exercício: o antidepressivo natural negligenciado
Enquanto a comida desempenha um papel crucial na indução de ansiedade, o exercício físico permanece como um dos antidepressivos mais subutilizados em nossa sociedade. Estudos comprovam que a prática regular pode ser tão eficaz quanto medicamentos antidepressivos em determinadas circunstâncias, e mesmo em casos mais expressivos também tem papel fundamental coadjuvante aos medicamentos. No entanto, apesar desses benefícios comprovados, a maioria das pessoas ainda não vê o exercício como uma ferramenta essencial para a saúde mental.
Exercício físico libera substâncias, como endorfinas e serotonina, conhecidas como os hormônios do bem-estar, que estão associados à sensações de alegria e relaxamento, diminuindo os níveis de estresse e ansiedade. Além disso, o exercício melhora a qualidade do sono, um fator crucial para a saúde mental.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), é recomendado que adultos pratiquem pelo menos 150 minutos de atividade física moderada por semana. No entanto, uma pesquisa recente revelou que quase 40% dos brasileiros não atingem essa meta. E, ironicamente, muitas pessoas recorrem a medicamentos para tratar sintomas que poderiam ser significativamente reduzidos com a prática regular de exercícios.
Como encontrar o equilíbrio?
Reconhecendo o impacto da alimentação e do exercício na saúde mental, é possível reverter esse quadro com algumas mudanças práticas. Aqui estão algumas dicas para ajudar a reduzir a ansiedade induzida pela alimentação e aproveitar os benefícios do exercício como um antidepressivo:
- Opte por alimentos ricos em determinados nutrientes, como frutas, vegetais, peixes ricos em ômega-3 (como salmão e sardinha) e grãos integrais.
- Reduza o consumo de açúcar e cafeína: Tente substituir o café por chás calmantes, como camomila ou erva-cidreira, e troque os doces por frutas frescas ou secas.
- Pratique exercícios regularmente: o melhor exercício é o que é feito. Você não precisa de uma academia para se beneficiar da atividade física. Caminhadas diárias, sessões curtas de ginástica ou até mesmo dançar em casa podem ter um impacto positivo no humor e na saúde mental.
- Pratique a atenção plena durante as refeições. Isso significa comer devagar, saboreando cada mordida, o que pode ajudar a reduzir o consumo excessivo e melhorar a digestão.
- Busque ajuda profissional se necessário: Caso sinta que a ansiedade está impactando sua qualidade de vida, não hesite em procurar um profissional capacitado.
O futuro da saúde mental passa pela mesa e pelo movimento
A relação entre alimentação, exercício e saúde mental é um campo em constante evolução. Especialistas já alertam que a saúde mental no século XXI depende de um olhar mais atento às nossas escolhas diárias, indo além de remédios e tratamentos tradicionais. A boa notícia é que, com um pouco mais de consciência e algumas mudanças em nossa rotina, podemos não apenas melhorar nossa saúde física, mas também promover um estado de bem-estar mental duradouro.
Afinal, o poder de curar ou prejudicar está em nossas mãos — e na forma como escolhemos alimentar nossos corpos e mover nossos músculos. Então, na próxima vez que se sentir ansioso, pense duas vezes antes de recorrer ao pote de sorvete e, em vez disso, considere uma caminhada ao ar livre. Seu corpo e sua mente agradecerão. Saúde-SE.