Como séries nacionais se tornaram fenômeno de audiência fora do Brasil
Cangaço Novo, Sintonia, De Volta aos 15, Bom Dia, Verônica e Irmandade são algumas das séries brasileiras que estouraram em audiência fora do país. Mais recentemente, Pedaço de Mim, série da Netflix, tornou-se uma verdadeira febre nacional e internacional, com trama dramática e elenco de peso, formado por Juliana Paes, Vladimir Brichta e Felipe Abib.
A mesma ideia segue Sintonia, que mostra, em suma, o dia a dia da população na periferia de São Paulo, em meio ao funk, drogas, violência e religião. A produção chegou ao 1º lugar do Top 10 Global de séries de língua não inglesa da plataforma.
Com um DNA verde e amarelo, que representa a realidade nua e crua do país, as produções conseguem levar ao resto do mundo o puro “suco” do Brasil. Mas o que um roteiro nacional precisa ter para estourar em audiência fora do país? Existe uma receita de bolo ou fórmula perfeita? Roteiristas de sucessos nacionais apontam que a autenticidade é um fator importante, mas há mais determinantes aí.
“Nos últimos anos, fala-se muito do conceito de ‘glocal’: uma história local, com apelo global. Não é um conceito novo, entretanto. São histórias que lidam com temas, localidades, culturas e pessoas tipicamente brasileiras, facilmente reconhecíveis para o nosso espectador. Ao mesmo tempo, possuem dramas e conflitos que são universais, ou globais”, inicia Elton de Almeida, roteirista de Segura Essa Pose, Lov3 e Samantha!.
Almeida ainda lembra que os assuntos das séries de sucesso representam o Brasil, mas não são exclusivos do país: “Sintonia e De Volta Aos 15, por exemplo, são séries de coming of age adolescente que falam de questões como amizade e amadurecimento, por exemplo, relacionáveis para jovens espectadores de diversos lugares no mundo — e por isso mesmo, usados à exaustão em produções teens de diversos países, principalmente nos EUA.”
Acredito que o movimento começa de dentro para fora, do local para o global. É essencial pensar em como contar histórias que refletem a realidade brasileira de maneira cada vez mais autêntica e inventiva.
Raul Perez, roteirista de Sintonia
Divulgação e alcance
Apesar dos elementos brasileiros, que Elton afirma não serem uma “receita de bolo”, o roteirista alega que o alcance da plataforma é fator relevante quando se fala no sucesso de uma produção.
“A Netflix ainda é o streaming que conta com mais assinantes e melhor capilaridade no mundo todo. Tem a habilidade de traduzir as séries nacionais e lançá-las em diferentes países ao mesmo tempo. Também possui mais dinheiro e infraestrutura para fazer o marketing destas produções”, finaliza.
Em contraponto, Juliana Araripe, roteirista de séries como Amor da Minha Vida, Homens e Pandêmicos, alega: “Em primeiro lugar, uma série boa tem excelentes personagens e uma ótima história. As pessoas gostam de boas histórias. Tecnicamente, precisa ter gancho e uma narrativa que desperte curiosidade e identificação.”