Estilo

Cunha tem lavandário que perfuma caminhos e olival que ‘ouve’ música clássica em meio a serras


ROBERTO DE OLIVEIRA
CUNHA, SP (FOLHAPRESS)

É bom pegar uma estrada, longe das marginais. No caso da rodovia que liga Cunha a Paraty, as serras da Mantiqueira e do Mar formam paisagens entre morros e montanhas a perder de vista. Há trechos que atingem 1.450 m de altitude. Pelo caminho, a companhia de araucárias e pontos coloridos por hortênsias e azaleias. Em meio à mata atlântica, ipês despontam pelo trajeto. No sobe e desce, ora perfumado por um leve toque de lavanda, não faltam motivos para uma parada, seja simplesmente para apreciar o visual, seja para saciar a fome.

Da estrada, não é possível avistar as oliveiras, mas placas na altura do km 58 indicam a entrada de O Olival. As árvores estão plantadas em uma área cercada de verde. Enquanto toma a serra, o pomar deixa um caminho por onde circulam os visitantes.

Logo, percebe-se algo mais: as oliveiras ali desenvolvem-se “ouvindo” música clássica. Acredita-se que o som pode entrar em ressonância com frequências de oscilação natural das folhas, influenciando a fotossíntese.

Com preços que vão de R$ 20 a R$ 55, diferentes tipos de degustação de azeite são oferecidos ao visitante em um aconchegante bistrô. Em três etapas, o menu sai por R$ 93. Para beber, destaque para o Olive Shot, drinque feito com cachaça envelhecida em tonéis de jaqueira, xarope de laranja, limão, cravo espremido e… azeite.

O plantio foi iniciado em 2013 e ainda não atingiu volume. Uma oliveira demora de 20 a 25 anos para atingir a produção plena, cerca de 25 kg de azeitonas, colheita suficiente para a extração de aproximadamente dois litros e meio de azeite.

Outro pomar de oliveiras, o Sempre Olivas, fica no km 54 da SP-171. É integrado por três áreas: o parque, com 240 árvores, a casa do azeite, onde fica o lagar, espaço dedicado ao processamento, e o bar, destinado à venda e à degustação. Ali também não há azeitona pronta para colher. Fica ao lado de O Lavandário.

Cartão-postal de Cunha, o espaço foi inspirado nos campos da região francesa da Provence. As condições geográficas e climáticas ajudam as lavandas a florescer o ano todo nos campos de Fernanda Freire, hoje com 73 anos, que começou a plantação como um hobby, numa casa alugada. Agora a propriedade já tem 40 mil pés, que atraem multidões, sobretudo ao entardecer. Nos fins de semana, costuma haver apresentação de saxofone por lá.

Do mirante de madeira construído ao redor de uma frondosa árvore, próxima de uma charmosa casa em estilo provençal, visitantes observam o crepúsculo inebriados pelo aroma da lavanda.

Ela, que inspira artigos de decoração, é tanto a base de produtos cosméticos como um ingrediente culinário. No café, a bebida é servida com um leve toque da flor; logo ao lado, a lavanda prova que pode ser transformada em sorvete (R$ 18). O ingresso adulto custa R$ 20.

A dica para quem procura um canto quase exclusivo é seguir um bocadinho mais em direção ao bairro Campo Alegre, subir 2 km de chão até o Teixeira Bier Bistrô. A 1.350 m, a cervejaria é rodeada por cinco araucárias. Quem chega é recepcionado pelas irmãs Jade e Zara, duas cadelas pitbull de três anos, que esbanjam simpatia.

Um dos precursores da cerveja artesanal local, Paulo Sérgio Andrade Teixeira, de 58 anos, 15 deles no ramo, gosta de prosear enquanto oferece sete tipos da bebida (cada tulipa de 310 ml sai por R$ 12). Há opções de harmonização: de costela a joelho de porco, num processo de degustação chamado “slow beer”. Reservas pelo Instagram @teixeirabierbistro.

Seguindo nesse clima de mato dentro, La Taverne situa-se na estrada de terra que dá acesso à Pedra da Macela, outro cartão-postal de Cunha. Trabalha com cardápio sazonal, que muda a cada quatro meses. Destaque para as massas artesanais, como o nhoque Atrevido (R$ 99), com camarões de Paraty ao molho de nata, shimeji e especiarias. Vale provar a cerveja Clube da Sardinha, de óleo natural de lúpulo, uma double IPA (R$ 29), da marca local Blackfin. De sobremesa, creme de goiaba com licor de jabuticaba (R$ 25).

Se tiver fôlego, encare a trilha de 2.000 m, subida íngreme, que leva ao Pico da Macela. A 1.840 m, é o ponto mais alto da região. O caminho fica dentro do Parque Nacional da Serra da Bocaina.

De volta à estrada, sentido Cunha, o Moara Café é daqueles lugares coloridos, decorados com objetos antigos, que seduzem toda a família. Pede uma parada, nem que seja para um café coado.

Por falar em família, completa, com pet no pacote, o Fruto da Serra se destaca tanto pela paisagem montanhosa, com direito a redário, quanto ao restaurante com bela vista e pratos e guloseimas à base de shiitake —a lasanha é disputadíssima, custa R$ 80.

A rodovia que leva todo o mundo a todos os lugares faz parte da Estrada Real, formada por caminhos que, no passado, foram desbravados por bandeirantes e exploradores em busca de ouro e diamantes.

O trecho entre Cunha e Paraty faz parte do Caminho Velho, que ligava o porto fluminense à então cidade de Vila Rica (hoje Ouro Preto). Repare nos totens da Estrada Real ancorados pela rodovia.

Exploradores e tropeiros já transitavam por ali no final do século 17, quando o lugar era conhecido como Boca do Sertão. A cidade de Cunha nasceu em meados do século 19, quando os antigos caminhos foram calçados para facilitar o transporte de café, cultivado em larga escala no Vale do Paraíba. Hoje, o município, que concentra uma série de ateliês de cerâmica, tem 22.110 habitantes.

Do período colonial, resistiram casarões e igrejas, como a matriz Nossa Senhora da Conceição, de 1731, exemplo do barroco paulista. A duas quadras dali, no centro histórico, a de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito foi construída em 1793, para os negros escravizados. Quem transita pela rodovia vê, lá embaixo, a igreja da Boa Vista, erguida em 1724, no bairro de mesmo nome.

Na pracinha da matriz fica o Il Pumo, de Vito Consoli, 34, italiano de Puglia, há nove anos no Brasil. Espaguete com creme de rúcula e pistache, com parmesão ralado, finalizado com burrata artesanal ou guanciale, o piatti sai por R$ 68.

Pertinho da igreja do Rosário está o Porco & Pizza. Além das clássicas redondas, serve torresmo de pancetta (R$ 45) e massas como tagliatelle com molho de gorgonzola e filé mignon (R$ 82).

Quem prefere explorar a culinária latina, a sugestão é o Átrio, fora do centro histórico. Quem cozinha é o jovem chef venezuelano Christian Adrian Schiavi, que trouxe toda a família de Caracas para Cunha. As especialidades são ceviches, de R$ 65 a R$ 68. Entre os “calientes”, o arroz chaufa (R$ 53) vem com carne de porco selado no wok chinês e banana da terra frita. A clássica cerveja Cusqueña sai por R$ 14.

Outro restaurante fora do centro é o Quebra Cangalha. Opções veganas, como o ravioli aberto, de pupunha e mix de cogumelos, custam R$ 58. Aos carnívoros, o bife de chorizo grelhado vem com brócolis, bacon, batata e arroz. Sai por R$ 95.

Na varanda, há espaço para os doguinhos, com uma bela vista partindo do bairro de Cajuru para o centro histórico. Perfeito para dias de sol.

O nome do restaurante é uma referência ao período colonial, quando a estrada Cunha-Paraty era motivo de chacota devido às péssimas condições em que se encontrava. Durante o trajeto, o artefato levado pelos tropeiros, a tal cangalha, vivia quebrando por causa das intermináveis sacolejadas.

Onde saber mais:
Átrio
Av. Antonio Luiz Monteiro, 570, @atrio.rest
Il Pumo
Pça. Coronel João Olímpio, 9, @ilpumocunha
Fruto da Serra
Estr. Catioca, km 1, @frutodaserrashiitake
La Taverne
Estrada da Pedra da Macela, 500 m, @latavernebistro
O Lavandário
Rod. Cunha/Paraty, km 54.7, @lavandario_cunha_sp_brasil
Moara Café
Rod. Cunha/Paraty, km 57, @moara.cafe
O Olival
Rod. Cunha/Paraty, km 58,3, @o_olival
Quebra Cangalha
R. Manoel Prudente de Tolêdo, 540, @quebracangalha
Sempre Olivas
Rod. Cunha/Paraty, km 54, @sempreolivas
Teixeira Bier
Estr. do Campo Alegre, km 2, @teixeirascerva


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