DF ultrapassa recorde histórico de seca
O Distrito Federal quebra hoje o recorde de estiagem e chega a 164 dias sem chuva na capital. E a contagem poderá aumentar ainda mais, uma vez que a previsão de chuva é somente para a semana que vem, entre terça (8) ou quarta-feira (9). Neste fim de semana, a expectativa é de, novamente, temperaturas altas e umidade baixa, com possibilidade de alertas e onda de calor.
Quem destaca o prolongar dos dias secos é Márcia dos Santos Seabra, coordenadora geral de meteorologia aplicada, desenvolvimento e pesquisa do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). De acordo com ela, as chuvas que aconteceram no último sábado (28) nas regiões de Ceilândia e Taguatinga não foram consideradas pelo Inmet como relevantes para o fim do período de seca do DF, uma vez que ocorreram de maneira isolada e com pouco volume. Por isso a contagem de dias sem chuva permanece.
Ontem, o DF chegou a registrar a maior temperatura do ano, com 36,8°C na estação de Águas Emendadas, próximo a Planaltina. Durante o dia de ontem, todas as cinco estações meteorológicas do DF marcaram temperaturas acima de 34°C. “E as temperaturas continuam altas no fim de semana, preparem-se. Bebam água”, alertou Márcia.
Também na última quinta-feira (3), o Inmet publicou um novo alerta vermelho de grande perigo, que indica umidade relativa do ar abaixo de 12%. Nestas circunstâncias, há grande risco de incêndios florestais e à saúde, uma vez que doenças pulmonares podem ser agravadas e dores de cabeça podem se intensificar. O órgão recomenda a ingestão de bastante água, evitando bebidas como café e álcool; o uso de hidratante para a pele e umidificador de ambientes; evitar atividades físicas e exposição ao sol nas horas mais quentes do dia.
Chuva forte e mudanças climáticas
Em razão do longo período sem precipitação e do calor intenso, as chuvas da próxima semana deverão vir acompanhadas de fortes rajadas de vento e raios. Uma previsão mais exata será possível após o fim de semana. Não é possível, porém, prever chuvas pretas ou ácidas no DF – fenômenos decorrentes da poluição atmosférica, principalmente das queimadas e do consequente acúmulo de partículas de CO2.
Apesar da possível chegada da chuva forte, a média pluviométrica para o mês de outubro no DF não deverá ser ultrapassada, segundo Márcia, ficando abaixo dos 140mm. “A situação é um pouco diferente para novembro e dezembro, quando devemos ver chuvas dentro ou acima da média. Dezembro é o mês que temos os maiores acumulados de chuva no DF”, destacou.
Um importante dado levantado pela especialista é o aumento da temperatura no DF ao longo das décadas, desde 1961, quando a primeira estação meteorológica foi oficialmente instalada na capital.
Enquanto setembro e outubro, meses historicamente mais quentes do ano, tiveram média de temperatura aproximada de 21,7°C e 21,5°C, respectivamente, no período de 29 anos entre 1961 e 1990, nos 29 anos seguintes, de 1991 a 2020, a média de temperatura aumentou em torno de 1°C e 1,5°C, respectivamente, ficando entre 22,7°C em setembro e 23°C em outubro.
“Nós temos que nos preparar para esse novo normal, porque já mudou [a realidade das temperaturas no DF ao longo do tempo]. E esses dados são o exemplo nítido e claro do que já observamos em Brasília”, afirmou Márcia. “Precisamos ter em mente que os fenômenos extremos estão presentes, sejam eles temperaturas muito baixas ou muito altas, e chuvas muito fortes”, continuou.
De acordo com a especialista, ainda que os níveis de chuvas fiquem dentro da média esperada para o mês, os patamares, ao invés de serem alcançados de maneira gradual, cada vez mais estão sendo atingidos em razão de chuvas fortes pontuais, em dois ou três dias de precipitação torrencial.
“Vamos acabar atingindo as metas do mês, mas a chuva pode ser muito prejudicial porque ela não vai servir para encher reservatórios e não vai ajudar a agricultura, causando impactos nas plantações. Teremos ela muito concentrada ao invés dela ser distribuída ao longo do período”, pontuou a coordenadora.
Preparação para período chuvoso
Diante da grande possibilidade de fortes chuvas, incidência de raios e rajadas de vento no DF – que podem chegar a 85km/h –, a Neoenergia, o Corpo de Bombeiros Militar (CBMDF) e a Defesa Civil trabalham juntos para avaliar ações com o objetivo de mitigar impactos que deverão chegar juntamente com a precipitação na semana que vem.
A empresa de distribuição de energia em Brasília apresentou ontem o plano de contingência operacional e de atendimento para o próximo período chuvoso do DF, além dos investimentos realizados em ações preventivas contra problemas já conhecidos na capital com a chegada das chuvas, como a queda de energia e a queda de árvores, que também cortam o fornecimento de eletricidade nas casas.
Segundo Frederico Candian, diretor-presidente da Neoenergia Brasília, o trabalho antecipado durante um ano – até setembro – trouxe segurança para a empresa para enfrentar os desafios do período chuvoso no DF. “Foi feito muito investimento em capital para a poda de árvores, renovações de instalações, entre outros. Foi feita toda a preparação técnica e de infraestrutura para o período chuvoso”, destacou.
“Para a chuva, nós temos um plano de contingência que nos permite triplicar o contingente que nós temos durante o período de chuva. Conseguiremos atender as ocorrências muito mais rápido sem gerar grandes demoras para nossos clientes”, continuou. Além disso, foi feito um plano mais robusto para o caso de haver alguma situação ainda não vivida na capital, que fuja ao já conhecido, de buscar apoio de outras filiais da companhia espalhadas pelo Brasil, que ajudarão a Neoenergia em Brasília.
A motivação para a preparação veio do período atípico que Brasília tem vivido atualmente, especialmente em razão da grande estiagem e as possíveis precipitações torrenciais, com ventos fortes. “Existe uma previsão de chuvas mais espaças, mas com muito mais volume em alguns dias. Isso pressiona muito a infraestrutura e pode vir com muito mais vento. Por isso o plano tem que estar pronto, sem ser pego de surpresa e atender bem nosso cliente no DF”, disse.
De janeiro até setembro, foram mais de 15 mil km de rede inspecionados, 45 mil manutenções preventivas e mais de 35 mil podas de árvores que poderiam oferecer riscos às fiações espalhadas pelo DF – este último corresponde a quase o dobro do realizado em 2023 no mesmo período. “A inspeção que fizemos é o equivalente a 150 voltas em Brasília, então é um volume muito espressivo que dá segurança e confiança de que o período de chuva será mais tranquilo para os brasilienses”, afirmou Frederico.
Em alguns pontos do DF, especialmente em regiões em processo de regularização, a presença de gatos de energia é um desafio para o poder público e para a companhia. A empresa já faz manutenções e regularizações para garantir mais segurança às comunidades desde a chegada da Neoenergia em Brasília.
“Existe um plano conjunto da Neoenergia com o GDF de regularização de determinadas áreas. Existe um plano de longo prazo e até agora já foram 40 mil clientes regularizados e famílias que passaram a ter energia com segurança. O plano é que até 2025 e 2026 cheguemos ao patamar de abranger o DF inteiro”, finalizou.
Cuidados na chuva
- O Corpo de Bombeiros Militar (CBMDF) também se preparou para o período de chuvas e dá orientações para que a população se previna e evite acidentes.
- As ocorrências que o CBMDF é mais solicitado durante o período chuvoso são de averiguações de corte de árvores emergencial, o corte das árvores em si e o atendimento em áreas com risco de desabamento.
- Entre 2023 e 2024, foram 710, 669 e 105 atendimentos respectivamente para estas três maiores ocorrências.
- As Regiões Administrativas mais sensíveis nesse sentido são o Plano Piloto e o Lago Sul.
- De acordo com o capitão João Rafael, da corporação militar, o corte de árvores que o CBMDF faz é de caráter emergencial e pode ser solicitado sempre que houver risco iminente de queda.
- “Caso a população observe que a árvore esteja com inclinação aproximada de 30° ou que esteja com as raízes expostas e o caule comprometido com alguma praga ou queimado, ligue no 193, porque esse é um caso de corte de árvore que nós realizamos para evitar que, quando chegar a chuva, ela caia. E é melhor que façamos isso ainda no período de seca”, afirmou.
- O CBMDF recomenda ainda evitar ficar em áreas isoladas ou debaixo de árvores durante a chuva, além de evitar também estacionar carros debaixo de árvores.
- Em caso de emergências, ligue no 193.