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Dia do Cerrado alerta para futuro do Bioma


Celebra-se hoje o Dia Nacional do Cerrado, o segundo maior bioma do Brasil e da América Latina, perdendo apenas para a Amazônia. Dentre os seis brasileiros, o ecossistema cobre cerca de 25% do território nacional. Diante das recorrentes queimadas, das quais 90% são causadas pela ação humana, porém, o bioma central do país está ameaçado.

A maior preocupação com o Cerrado atualmente se concentra em dois principais aspectos: diminuição de captação da água e aumento da temperatura. O bioma é a savana mais chuvosa e quente do planeta, de acordo com o professor Reuber Albuquerque Brandão, da Universidade de Brasília (UnB). Entretanto, o ecossistema tem sofrido um encurtamento da estação chuvosa e com as queimadas constantes.

Na última semana, o incêndio na Floresta Nacional de Brasília, área de preservação do Cerrado, que protege nascentes importantes para a conservação de rios e lagos do Distrito Federal e Brasil, perdeu mais de um terço da vegetação em razão de um incêndio criminoso. Foram, ao todo, cinco dias de combate às chamas, com esforços das equipes do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e do Corpo de Bombeiros Militar do DF (CBMDF).

A área queimada total foi de cerca de 45,85% da reserva, aproximadamente 2.586 hectares. Na área que costuma ser a mais visitada, cerca de 68% foi consumida pelo fogo. “Isso vai nos imputar um esforço muito grande para recuperar a área”, afirmou Fábio dos Santos, chefe da Flona de Brasília.

Segundo o professor Reuber, nesta época do ano, quase todas as queimadas são causadas por ação humana, seja sem a intenção de tomar grandes proporções seja de forma consciente, de maneira dolosa. Ao contrário do que muitos imaginam, conforme afirmou, as cinzas do Cerrado não são benéficas para o solo na mesma medida de se manter a vegetação da maneira em que está.

“Quando se queima o Cerrado, boa parte dos nutrientes vão embora com a fumaça. Não fica nas cinzas. O fogo não é ferramenta de manejo no solo, mas as pessoas insistem nisso”, afirmou. “Áreas no DF com interesse de ocupação irregular sofrem muito com quem tem interesse de ocupar essas áreas. Colocar fogo no Cerrado empobrece o solo.”

Captador hídrico

A chegada da água no Cerrado, associada à vegetação de raízes profundas, faz com que a água penetre no solo profundamente e alimente alguns dos maiores aquíferos do Brasil, como o Guarani e o Urucuia-Areado.

“Essa água no solo alimenta diversas nascentes e rios. Grande parte das maiores hidrográficas da América do Sul tem suas cabeceiras no Cerrado, como o São Francisco, com 70% das nascentes, nascentes do Araguaia, do rio Tocantins, do rio Juruena, dos rios que correm para o Pantanal, que formam os rios Paraguai, Paraná e Parnaíba”, destacou.

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Foto: Abelardo Barbosa / Jornal de Brasília

Como consequência, a quantidade de nascentes contribui para a criação de grandes bacias hidrográficas, que, por sua vez, também representam boas fontes de produção de energia para o Brasil. Grandes hidrelétricas dependem da constância e do expressivo volume de água que sai do Cerrado.

Apesar da área de superfície da água – aquela que se acumula no solo, mas não penetra a terra – no Cerrado registrar crescimento recorde de 56,4% no último ano desde 1985, os corpos de água naturais totais – água em superfície e em aquíferos subterrâneos e reservatórios naturais – perderam aproximadamente 696 mil hectares, representando uma queda de 53,4%.

Os dados são do Projeto de Mapeamento Anual do Uso e Cobertura da Terra no Brasil, o MapBiomas. “A partir de 2003, a área de superfície de água destinada à geração de energia e ao abastecimento dos centros urbanos superou a área de água natural no Cerrado. No entanto, esses reservatórios são abastecidos pelos corpos de água naturais que têm sido reduzidos nas últimas décadas”, comenta Joaquim Pereira, da organização.

O professor Reuber destaca ainda que muitas áreas de nascentes estão secando no bioma. Como exemplo, o professor cita a fonte de água que existia na UnB, que ao longo dos anos perdeu força até secar completamente. “Estamos vendo que muitas áreas, que até poucos anos atrás eram nascentes e veredas, áreas úmidas, estão desaparecendo.”

“Aqui na fazenda da UnB tinha uma nascente, a Olho d’Água da Onça, em que a água borbulhava e subia 30 centímetros a partir do solo. Mas essa nascente tem pelo menos 10 anos que não tem mais água. Hoje é só um ambiente seco. Todos os seres, anfíbios, organismos aquáticos e plantas que viviam ali associados à água, foram embora. E há várias nascentes em situação parecida”, destacou.

A crise com Cerrado também pode significar um futuro problema, com possível colapso, do sistema hídrico de distribuição e abastecimento de água em cidades e municípios. Com a queda da potência dos rios, pode haver prejuízos para a agricultura por baixa oferta de água para a qualidade de vida das pessoas.


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