Doença de Alzheimer: entenda os sinais e saiba sobre tratamento em Brasília; veja vídeos
Por Danilo Lucena e Davi Moisés
Em meados de 2017, a família de Antônia Santos Dias começou a perceber comportamento diferente da matriarca, que passou a confundir nomes de alimentos no mercado, tarefa com a qual estava bastante acostumada. Ela seria diagnosticada com a Doença de Alzheimer, a demência de maior incidência no Brasil.
“Como eu a acompanhava para ir ao mercado, fomos comprar o tomate que ela queria. Quando a gente pesou a fruta, ela falou que não era isso. Então fomos na parte do verdurão para escolher o que ela queria e, na realidade, era cebola”, narra a neta Chrisley Cartaxo, de 37 anos.
Memórias do passado, reflexões, reminiscências, detalhes são apenas substantivos, mas para alguém que convive com o Alzheimer, essas palavras se tornam ausências. A data de 21 de setembro é Dia da Conscientização sobre a Doença de Alzheimer.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde, cerca de 1,2 milhão de brasileiros têm a doença. Além desse número de casos confirmados da doença, deve-se considerar as subnotificações e, sobretudo, todos os familiares que são afetados depois que um familiar ou pessoa próxima é diagnosticada.
A doença
O Alzheimer é uma síndrome demencial que envolve perda de funções de memória, linguagem e comportamento que estão dentro das funções executivas, responsáveis por controlar nossas ações e pensamentos.
A doença prejudica especificamente a memória, afeta a comunicação verbal, a compreensão e o funcionamento de atividades básicas instrumentais, que são aquelas que fazem a gente tomar decisões necessárias para ter uma vida independente.
“Eu costumo dizer que para compreender o que é a dificuldade de ter uma demência é preciso prestar atenção em quantas funções precisamos para pegar um copo d’água: desejar tomar água, perceber a necessidade, pegar esse copo d’água, saber onde ele está, como que abre o filtro, se a quer uma água gelada ou natural, onde colocar o copo, perceber quando ele está cheio, pegá-lo e levá-lo na boca, depois pegar o copo e colocar na pia, decidir se a gente vai lavar ou guardar o copo e voltar para o início”, detalha a psicogeriatra e psiquiatra Jussane Cabral.
Sinais
A psicogeriatra explica que observar é um verbo importante porque grande parte da dificuldade de um diagnóstico decorre da família não observar e já minimizar as atitudes do paciente.
No caso de Antônia Dias, a neta, por ser psicóloga, começou a observar e identificar alguns sinais e comportamentos, porém inicialmente não teve o apoio da família pois não queriam aceitar que isso estava acontecendo com uma pessoa tão querida quanto a avó.
Após um ano alertando a família sobre o esquecimento, do qual parte da família insistia em invalidar com falas do tipo “eu também esqueço, é normal”, acontece o episódio em que Antônia cortara uma nota de 50 reais em pedacinhos para fazer uma farofa.
Nesse momento, Chrisley interferiu e falou que a avó não tem condições de morar sozinha, então levou Antônia para morar com ela, a mãe Sandra Santos e os irmãos.
A relação com a avó sempre foi bem divertida durante o período em que moravam juntas, brincavam sobre tudo, até do esquecimento da avó, que reconhecia o deslembrar.
Quase nada são flores
A partir do momento que Antônia foi viver na casa da filha Sandra, esta passou a ser a principal responsável pelos cuidados.“Para ela foi mais delicado, como era a cuidadora foi mais estressante, não era fácil, minha vó tinha comportamentos mais agressivos, incisivos em alguns momentos. Porque para ela era muito estranho a inversão de papeis. ‘Eu criei todos vocês e agora querem mandar em mim?’ Essa era a frase que a gente mais ouvia quando ela estava no momento de lucidez”, Chrisley conta a experiência da mãe.
Além da sobrecarga e estresse naturais dos cuidados diários para com a paciente, a cuidadora ainda era cobrada pelos irmãos, mas ninguém queria ter a responsabilidade de assumir seu lugar.
Cuidado
“Para a minha mãe foi muito difícil, ela sentia uma sobrecarga. Ficava todos os dias sozinha, tinha episódios que minha vó falava que tinha sido sequestrada. Principalmente quando minha avó não acatava alguma tarefa, não queria tomar remédio porque alegava que estava tentando matar ela, perguntava quem era ela, dizia que passava fome, mesmo quando tinha almoçado. Então quando minha avó foi esquecendo foi muito difícil para a minha mãe aceitar”.
Os cuidados excessivos fizeram com que Sandra parasse de verbalizar o que sentia e passasse a expressar a fadiga fisicamente.
“O primeiro sinal foi a irritabilidade. Tudo que era comum tinha um peso maior para ela. Tinha entrado em estafa mental. O cansaço físico era aparente, estava com o olhar mais baixo, olheira, ficava recolhida. Quando a gente chegava, a primeira coisa que ela fazia era tomar banho e ir para o quarto, como se tivesse alguém para olhar a avó no lugar dela”, comenta Chrisley.
Família abalada
A psicogeriatra Jussane reitera que é necessário um olhar extremamente sensível em relação aos cuidados com quem cuida, pois existe uma tendência em, quando alguém vai na casa do cuidador, ele deixa o paciente com a visita e se esconde no quarto, porque, por muitas vezes, tem medo de se sentir atacada se ela fizer um comentário e achar que essa pessoa está me criticando.
Outra tendência é a de desejar que a paciente faleça, o que pode ser motivado por enxergar o sofrimento dela, mas também por não querer mais cuidar do paciente.“É muito comum o cuidador abrir mão da vida social para assistir o familiar. E quando essa pessoa que ela cuidava falece, como é que ela vai olhar para a própria vida de novo?” aponta a psicogeriatra.
O campo social de Sandra foi o mais afetado, a mãe não aceitava ajuda porque na cabeça dela estava rejeitando a avó. Quando Antônia faleceu, Sandra precisou se reestruturar. “Reformamos a casa, pintamos e mudamos os móveis para deixar menos lembrança da avó no período de cuidados” , comenta a neta, Chrisley.
Preservação da identidade
Com a progressão da doença, era presente o medo de Antônia esquecer-se de si mesma. Então a neta tentava resgatar as histórias de vida da avó, presenteá-la com suas comidas favoritas e outras ações que visavam a preservação da identidade de Antônia. “Ela gostava de escrever o nome, e quando não conseguia mais, acho que foi o marco que ela começou a perceber que estava perdendo a identidade. Então escrevia o nome das pessoas para tentar não esquecer. Eu perguntava sobre a vida dela, a infância, se minha mãe dava trabalho na infância, para preservar essa identidade dela. Minha avó gostava muito de chocolate, e as pessoas a privavam disso. Então, era meio que uma brincadeira, eu deixava na minha bolsa o doce propositalmente, ela ia futricar, achava e comia escondido. A minha avó amava Pizza hut, então o que a gente fazia era passear no shopping, quando passávamos em frente da franquia ela pedia para entrar e comer ‘eu acho que essa comidinha aqui é gostosa, vamos comer?’ Então a gente fazia isso para preservar a identidade dela”, relembra Chrisley.
Apesar de todas as dificuldades relacionadas à memória, Antônia nunca esqueceu o salmo e as orações. Um de seus últimos registros fora cantando o verso “ouve mãe de Deus, minha oração. Toque em vosso peito os clamores meus”.
Ambulatório
Atualmente, o DF possui um único ambulatório especializado em psicogeriatria, atendendo idosos com transtornos mentais.
O ambulatório de Psicogeriatria do Hospital São Vicente de Paulo, em Taguatinga, foi criado em 2006 e permanece sendo o único serviço especializado em casos de idosos com transtornos mentais no âmbito da Secretaria de Saúde do DF.
No ambulatório, o tratamento oferecido aos pacientes envolve profissionais da Nutrição, Fisioterapia, Terapia Ocupacional, Psicologia, Serviço Social, Enfermagem e Medicina, proporcionando um atendimento global para as diversas necessidades da população, além de eventos voltados para comunidade.
Horário de atendimento:
Pronto Socorro: atendimento 24 horas.
Serviços Ambulatoriais e Administrativos: 7h às 12h e das 13h às 18h (de segunda a sexta-feira, exceto feriados).
Endereço: QSC 01, Área Especial, Setor C Sul, Taguatinga Sul
Telefone: (61) 3449-7788/7789
Supervisão de Luiz Claudio Ferreira