Dupla Tarcísio-Derrite acumula crises em casos emblemáticos; veja cada um deles
CAROLINA LINHARES
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)
O governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) e o secretário de Segurança Pública, Guilherme Derrite, estão envolvidos em nova crise envolvendo a segurança no estado de São Paulo e a atuação da Polícia Militar em abordagens e operações realizadas desde o início do mandato.
Um policial foi flagrado jogando um homem do alto de uma ponte no fim de semana na região de Cidade Ademar, na zona sul da capital, após perseguição. As imagens foram divulgadas pelo Jornal da Globo e pela Globonews, e a SSP afirmou repudiar a conduta ilegal dos agentes.
Nesta quarta-feira (4), a corregedoria da corporação pediu a prisão preventiva do soldado de primeira classe Luan Felipe Alves Pereira. A decisão caberá ao Tribunal de Justiça Militar de São Paulo.
O caso gerou ainda mais pressão sobre o primeiro escalão do Palácio dos Bandeirantes. A segurança pública é tema eleitoralmente sensível e que vinha sendo usado pelo governador como vitrine -o discurso linha-dura agrada ao seu público da direita.
Tarcísio fala em concorrer à reeleição em 2026, mas também é visto como presidenciável, dada a inelegibilidade de Jair Bolsonaro (PL). Já Derrite é mencionado como possível candidato ao Senado, a vice-governador ou até a governador, caso Tarcísio dispute o Palácio do Planalto.
Antes desse caso, a PM paulista já vinha acumulando polêmicas. Derrite foi responsável pelas operações Escudo e Verão. A última é a mais letal da história da PM paulista desde o massacre do Carandiru, em 1992.
A gestão também ficou marcada pelo vaivém em relação às câmeras nos uniformes da polícia, que acabaram adotadas -mas, nos equipamentos mais recentes, o policial poderá escolher ligar ou não.
Veja algumas das crises em casos emblemáticos envolvendo a dupla Tarcísio e Derrite:
HOMEM JOGADO DE PONTE
Um PM foi flagrado jogando um homem do alto de uma ponte na região de Cidade Ademar, na zona sul da capital, após perseguição. A ação ocorreu na rua Padre Antônio de Gouveia e foi registrada em vídeo, divulgado na segunda-feira (2). Tarcísio e Derrite criticaram a abordagem e pediram punição ao agente.
MORTE DE HOMEM NEGRO EM FRENTE A MERCADO
Imagens de câmeras de segurança reveladas pelo site G1 mostram uma ocorrência de 3 de novembro, em que Gabriel Renal da Silva Soares, um homem negro de 26 anos, foi morto com 11 tiros pelas costas disparados por um militar de folga em frente a um mercado no Jardim Prudência, zona sul de São Paulo.
Segundo agentes, Gabriel havia furtado quatro sabões de lavar roupa.
MORTE DE ESTUDANTE DE MEDICINA
Na madrugada do dia 20 de novembro, o estudante de medicina Marco Aurélio Cardenas Acosta, 22, foi morto com um tiro disparado por um PM dentro de um hotel na Vila Mariana, também na zona sul. O jovem teria atingido com um tapa um retrovisor de viatura, o que teria dado origem à abordagem violenta.
Segundo a Secretaria da Segurança Pública, o policial foi indiciado sob suspeita de homicídio doloso e afastado do serviço operacional.
MORTE DE DELATOR DO PCC
Antônio Gritzbach, 38, jurado de morte pela facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital), foi morto a tiros de fuzil na saída do aeroporto de Guarulhos, na tarde do dia 8 de novembro.
Em um acordo de delação premiada, Gritzbach havia acusado policiais de envolvimento com o crime organizado.
FESTA EM MARESIAS
A pedido de Tarcísio, Derrite cancelou uma viagem aos EUA que faria dois dias após a morte de Gritzbach.
No entanto, como revelou a Folha, horas depois do crime, o secretário foi a uma festa de aniversário em uma casa de shows à beira-mar na praia de Maresias, acompanhado de policiais da cúpula do estado.
MORTE DO MENINO RYAN
Ryan da Silva Andrade Santos, 4, brincava na rua com outras crianças quando foi atingido por um disparo durante uma operação da polícia no Morro de São Bento, em Santos, litoral paulista no dia 5 de novembro.
O pai da criança havia sido morto em uma outra operação, em fevereiro deste ano.
ORIENTAÇÃO DE VOTO DO PCC
No dia do segundo turno, Tarcísio afirmou, sem apresentar provas, que integrantes do PCC orientaram voto em Guilherme Boulos. O candidato do PSOL chamou a fala de criminosa e entrou com ação na Justiça Eleitoral pedindo a inelegibilidade de Tarcísio e de Nunes. Na semana seguinte, o governador evitou a imprensa e não quis falar sobre o caso.
ATAQUE A PREFEITO
O prefeito de Taboão da Serra (SP), José Aprígio (Podemos), 72, sofreu um ataque a tiros e foi atingido no ombro, dentro do carro oficial blindado, em outubro. Ficou internado uma semana.
ASSOCIAÇÃO ENTRE O PCC E EMPRESAS DE ÔNIBUS
A operação Fim da Linha, deflagrada em abril, mirou duas empresas de ônibus com atuação na capital, suspeitas de lavar dinheiro para a facção criminosa. O tema apareceu na eleição, e Ricardo Nunes (MDB), apadrinhado por Tarcísio, foi questionado.
AUMENTO DA LETALIDADE E ‘TÔ NEM AÍ’
Os números mostram aumento da letalidade policial no estado durante a gestão Tarcísio. Foram 580 mortos por policiais no acumulado de janeiro a setembro de 2024, uma alta de 55% ante o mesmo período de 2023, que teve 374 óbitos.
Em março, quando organizações já apontavam o crescimento, Tarcísio disse ter “muita tranquilidade” com o que estava sendo feito. “E aí o pessoal pode ir na ONU, pode ir na Liga da Justiça, no raio que o parta, que eu não tô nem aí”, declarou.
CÂMERAS NOS UNIFORMES DA PM
Na campanha, Tarcísio disse ser contra o uso do equipamento que, segundo ele, inibiria os policiais.
Depois, voltou atrás e manteve as câmeras, mas cortou verba do programa e adotou mais recentemente um modelo em que os agentes têm a possibilidade de ligar e desligar o aparelho.