Política

Eleitores de Lula rejeitam voto automático em Boulos


MARCOS HERMANSON
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)

O deputado federal Guilherme Boulos (PSOL), que concorre à Prefeitura de São Paulo com apoio do PT, tem dificuldade de converter os votos de quem escolheu Lula nas eleições presidenciais de 2022. Os motivos vão de desconhecimento do passado do candidato a frustração com o governo federal.

O que as pesquisas mostram —Boulos tem 49% das intenções entre quem diz ter votado em Lula, segundo o Datafolha— fica claro também durante agendas do candidato na periferia da capital.

Ouvidos pela Folha, eleitores petistas ou que escolheram Lula rejeitam voto automático no candidato do PSOL. Dizem que precisam conhecer melhor a história do ex-coordenador do MTST (movimento de moradia) ou que estão analisando o comportamento dele ao longo da campanha.

“O Lula é o Lula, o Boulos é o Boulos”, resume a lojista Ana Paula de Brito, 45.

Ela conversou com a reportagem enquanto observava a caminhada do deputado federal na Vila Sabrina, zona norte da capital, no último dia 20, uma sexta-feira. “O Lula já vem de muitas lutas, apoiando os trabalhadores da metalúrgica. Eu conheço um pouco da história dele”, diz, argumentando que ainda precisa saber mais sobre o candidato recomendado pelo petista.

Ela sabe que o presidente apoia o candidato, assim como 75% do eleitorado geral, segundo o Datafolha, mas diz que isso não tem “nenhum peso”.

Quando indagada sobre outros candidatos em quem cogita votar, Ana Paula cita “aquele que está na prefeitura… esqueci o nome dele”. Trata-se de do prefeito Ricardo Nunes (MDB), que tem 19% das intenções de voto entre quem votou em Lula no ano de 2022, apesar de ser o candidato do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

Boulos adota a tática de se associar a Lula desde o início da campanha, numa tentativa de angariar os votos que o petista obteve na cidade em 2022, quando bateu Bolsonaro por 53% a 46% no segundo turno. Também é um jeito de atrair o eleitorado mais pobre, que o PT ainda considera como um público tradicional seu.

O presidente participou de dois comícios do candidato no primeiro fim de semana de campanha, em agosto. Também apareceu no primeiro programa eleitoral de Boulos, tomando café na casa dele. Mais recentemente, voltou à TV em gravações feitas em Brasília, nas quais o deputado fala de projetos, e Lula se compromete com ajuda do governo federal, caso ele assuma a prefeitura.

Mas “não basta o Lula apoiar para eu votar, precisa ver a vontade de o Boulos governar”, diz Maria Quitéria dos Santos, 53, durante atividade do candidato na estrada do M’Boi Mirim (zona sul). Do carro de som, no último dia 12, quinta, o sindicalista Edson Carneiro Índio pedia: “Quem fez o L vota 50”.

A dona de casa diz que não votaria no influenciador Pablo Marçal (PRTB), a quem diz não conhecer. Quando questionada sobre o prefeito, reclama da falta de remédios em postos de saúde e da dificuldade de conseguir uma consulta médica para o filho autista.

Decepcionado com Lula —”achei que poderia mudar alguma coisa na quebrada, mas não mudou nada”—, Iago dos Santos Felício, 32, eleitor do petista em 2022, diz que a indicação do presidente teria mais peso caso sua avaliação do governo fosse melhor. Ele já escolheu candidato, cujo nome não quis revelar.

A rejeição a Boulos, que é de 38% na média geral, está presente inclusive entre os que votaram no padrinho dele há dois anos: 11% deles respondem que não votariam no deputado de jeito nenhum.

Além de buscar o voto do PT, Boulos também prioriza agendas de periferia para conquistar o eleitorado mais pobre. As caminhadas do candidato duram várias horas percorrendo a mesma região.

Nos atos acompanhados pela reportagem, a recepção foi morna, com episódios de animosidade. Enquanto o deputado falava no caminhão de som na Cidade Ipava (zona sul), um rapaz sentado na entrada de uma barbearia reagia aos gritos de “vergonha!”.

Assistindo de longe, a cabeleireira Maria Souza, 39, também reprovava: “Nunca vi o Boulos aqui antes”, disse. “Vou votar no Marçal, porque ele não tem papas na língua.”

Poucos minutos depois, durante caminhada na estrada do M’Boi Mirim, um homem passou de carro buzinando e reproduzindo o lema do influenciador: “faz o M”.

No fim de semana passado, o deputado do PSOL fez uma carreata esvaziada em Guaianases, extremo leste da cidade, mas foi recebido de forma amistosa por onde passou. A vice na chapa, Marta Suplicy (PT), foi chamada várias vezes para tirar fotos e fez questão de acenar por onde passava, mesmo que não houvesse resposta.

O deputado tem 21% das intenções de voto entre quem ganha até dois salários mínimos —eram 15% em agosto—, enquanto o prefeito tem 32%.

Boulos tenta explorar a vinculação a Lula na reta final da campanha e espera contar com a presença dele para garantir sua ida ao segundo turno. A previsão era ter o presidente na cidade neste fim de semana, mas a visita foi desmarcada por causa da agenda presidencial, com compromissos no exterior.

Há a expectativa de que o petista esteja na capital no dia 5 de outubro, véspera do primeiro turno, para uma caminhada na região central. A avenida Paulista é um dos locais avaliados para o evento.


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