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Entenda por que Roberto Carlos é acusado de apoiar a ditadura militar

Após a estreia de Ainda Estou Aqui — representante brasileiro na disputa pelo Oscar 2025, estrelado por Fernanda Torres e Selton Mello —, as redes sociais fervilharam com debates sobre o período da ditadura militar no Brasil. Entre os temas mais discutidos, destaca-se a postura de grandes artistas da música brasileira durante o regime.

Nomes como Rita Lee e Caetano Veloso são frequentemente lembrados por seus confrontos diretos com os militares. No entanto, quem também vem ganhando destaque nessas discussões é Erasmo Carlos e seu grande parceiro Roberto Carlos, que estão na trilha sonora do longa.

Enquanto Erasmo tem sido citado pelo comportamento transgressor e combativo em relação ao período, Roberto tem sido acusado nas redes de, supostamente, ter apoiado a ditadura e até mesmo ter delatado colegas — o que, segundo o autor Jotabê Medeiros, autor da biografia Roberto Carlos: Por Isso Essa Voz Tamanha, as coisas não foram bem assim.

Jotabê lembra que Roberto Carlos foi condecorado, em 1976, pela ditadura no governo de Ernesto Geisel. Entretanto, o autor ressalta que era comum na época que os militares promovessem festivais com artistas como Rita Lee e Raul Seixas, e se aproximarem de figuras que estavam muito na mídia.

“Imagine se você fosse um artista de muito prestígio e fosse convidado a receber uma comenda, você ia dizer “não” em pleno regime de repressão?”, pontua Jotabê.

Para ele, a cautela de Roberto naquele momento acabou gerando, ao longo do tempo, interpretações de que o cantor teria alinhamento ou conivência com a ditadura.

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Roberto Carlos

Reprodução/Instagram/Caio Girardi

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Roberto Carlos durante show

Reprodução/Instagram

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Talentoso, não demorou muito e Roberto passou a ser convidado para apresentar programas na TV e a estrelar filmes no cinema. O primeiro longa que o cantor gravou foi Roberto Carlos em Ritmo de Aventura, lançado em 1967. Nos anos seguintes, filmou Roberto Carlos e o Diamante Cor-de-rosa e Roberto Carlos a 300 km por Hora

JC Olivera / Colaborador/ Getty Images

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Curiosamente, de 1963 a 1996, Roberto Carlos conseguiu a façanha de lançar um disco por ano. Após Maria Rita, esposa do cantor, adoecer, o artista interrompeu a sequência de lançamentos. A mulher morreu pouco tempo depois

Marcelo Hernandez / Correspondente/ Getty Images

Mas, apesar da condecoração e de ter participado de uma recepção no palácio do Itamaraty na mesma noite ao lado de militares, Roberto também visitou Caetano Veloso, enquanto o mesmo estava exilado, fato revelado pelo próprio Caetano anos depois.

“Qualquer artista naquela época, você pode ver isso em Ainda Estou Aqui, e qualquer pessoa que fosse visitar alguém que estivesse sendo monitorado, essa pessoas passava a ser automaticamente monitorada também e o Roberto foi visitar um cara que era declarado inimigo do regime”.

Roberto Carlos voltou inspirado para compor a delicada Debaixo dos Caracóis dos seus Cabelos, uma homenagem velada a Caetano Veloso no exílio e que, de forma sutil, antecipava a anistia: “Um dia vou ver você / Chegando num sorriso / Beijando a areia branca / Que é seu paraíso”.

No mesmo disco, lançado no final daquele ano, ele também gravou Como Dois e Dois, composta especialmente para o Rei por Caetano. A canção trazia versos carregados de uma inquietude que flertava com o protesto: “Quando você me ouvir cantar / Tente, não cante, não conte comigo / Falo, não calo, não falo, deixo sangrar…”

Jotabê também destacou que a música mais marcante de Ainda Estou Aqui, É Preciso Dar Um Jeito, Meu Amigo, na voz de Erasmo Carlos, foi composta por ele em parceria com Roberto Carlos.

“O Erasmo conta em uma biografia dele que a letra de É Preciso Dar Um Jeito, Meu Amigo seria só do Roberto, então é o Roberto mostrando um desagrado com a repressão numa canção. O Roberto tem essas presença ambígua dentro do regime ditatorial”, frisa.

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