Está endividado? Saiba como sair do vermelho em época de juros altos
Com os juros nas alturas e a inflação pressionando itens essenciais, como alimentação, quem está endividado deve redobrar a atenção para não criar uma bola de neve de dívidas.
De acordo com levantamento realizado pelo Serasa, o último mês de 2024 registrou a marca de 73,51 milhões de endividados. Entre a maior fatia da população com nome restrito, estão os brasileiros com idades entre 41 e 60 anos, representando 35,1%. Na sequência, estão as faixas etárias de 26 a 40 anos (33,8%), acima de 60 anos (19,3%) e os jovens entre 18 e 25 anos (11,7%). Apesar do número alto, houve uma queda de 0,37% em relação a novembro.
Para a educadora financeira Aline Soaper, o aumento dos juros provoca uma mudança na forma de consumo entre os brasileiros. “Quem está fazendo um financiamento de um imóvel ou de um veículo perceberá que as parcelas vão ficar mais caras. Já as parcelas dos cartões de créditos terão consequências nos juros de atraso de pagamento e também nos juros de cheque especial”, alerta.
Isso porque a decisão feita pelo Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central (BC), faz com que instituições bancárias acompanhem o aumento da Selic e repassem esse custo para o público.
O BC deverá aumentar a taxa Selic em mais um ponto percentual na próxima reunião, em março, segundo a ata da última reunião do grupo, que ajustou a taxa básica de juros para 13,25%. Com isso, a expectativa é de que a Selic alcance os 14,25%.
Entenda a taxa Selic
- A taxa básica de juros é a principal mecanismo para controlar a inflação. Ela é decidida a cada 45 dias por comitê do Banco Central.
- A Selic é usada nas negociações de títulos públicos emitidos pelo Tesouro Nacional no Sistema Especial de Liquidação e Custódia (Selic), sendo um modelo de referência para outras taxas da economia.
- Quando eleva a Selic, o BC tem o objetivo de contar a demanda aquecida, mas acaba encarecendo o crédito. Dessa maneira, taxas mais altas também podem conter a atividade econômica.
- Consumidor deve evitar contrair novas dívidas neste período de juros altos.
Nesse cenário, a compra de itens que não são considerados essenciais sofrem grande impacto, já que a maioria do público prioriza comprar e pagar itens de primeira necessidade, como alimentos e medicamentos, além de garantir a quitação das contas de luz, aluguel e gás.
Para proteger as finanças e não comprometer as parcelas que estiver pagando, o consumidor deve evitar contrair outras dívidas, postergando a aquisição de novos imóveis, automóveis e eventuais gastos sobre os quais incidam juros. É melhor deixar compras mais substanciais para um momento mais propício da economia, com juros mais baixos.
Em novembro de 2024, 77% das famílias brasileiras estavam endividadas, de acordo com pesquisa divulgada pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). O fim de ano acelera o endividamento, porque é marcado pelas compras de Natal e Ano-Novo. No entanto, muitos consumidores ainda estão pagando dívidas contraídas entre novembro e dezembro do ano passado.
A CNC alertou, em comunicado, que o endividamento das famílias pode voltar a crescer ao longo do ano. De acordo com estimativas, os percentuais voltam a subir a partir de março, podendo fechar 2025 com 77,5% das famílias brasileiras endividadas e 29,8% inadimplentes.
Reserva financeira é importante
O ideal seria ter poupanças e investimentos para os quais recorrer em momentos de aperto monetário como o atual. No entanto, a educadora Aline Soaper lembra que muitos brasileiros não conseguem fazer isso.
“A falta de organização financeira pode provocar um endividamento, já que esse público pode entrar numa bola de neve ao utilizar créditos para pagar contas e os gastos corriqueiros. Para quem precisa adquirir empréstimos, esse período será desafiador. Em decorrência no custo das linhas de crédito, há o risco de brasileiros ficarem propensos à inadimplência e ao endividamento”, explica Soaper.
Na mesma direção, o empresário André Minucci defende organização das finanças. “Muitas famílias não têm um orçamento definido e acabam gastando mais do que podem. Sem essa organização, o crédito, que deveria ser um aliado, se torna um inimigo”, diz.
Cartão de crédito
Com uma oferta que supera a própria população do país, o consumidor deve manter atenção especial ao cartão de crédito, evitando o uso do rotativo e o acúmulo de vários cartões. Segundo o BC, os cartões de crédito respondem por 41% das transações de pagamento no país, junto com os cartões de débito e os pré-pagos.
Fernando Iodice, CEO da Consumidor Positivo, ensina que o primeiro passo para escolher um cartão de crédito adequado é compreender os próprios hábitos financeiros. “Antes de tudo, é essencial entender a sua rotina de consumo. Um cartão que oferece cashback pode ser mais vantajoso para quem usa o cartão frequentemente em compras do dia a dia, enquanto alguém que viaja muito pode se beneficiar mais de um cartão com milhas aéreas”, explica Iodice.
“Opte por um cartão que se ajuste à sua realidade financeira. Embora um limite elevado possa parecer atraente, ele também pode incentivar gastos excessivos e levar ao endividamento se não for gerenciado com prudência”, prossegue.
É preciso avaliar cuidadosamente as taxas anuais, juros e outras tarifas. Um cartão com anuidade zero pode parecer atraente, mas, se você utiliza muito os benefícios, um cartão com anuidade e mais vantagens pode compensar a longo prazo, destaca o especialista.
Veja abaixo estratégias práticas para manter as finanças sob controle:
- defina um orçamento mensal, com todas as despesas fixas, e estipule um valor para emergências;
- evite compras por impulso;
- controle o uso do cartão de crédito, pagando a fatura integralmente;
- renegocie dívidas existentes com diferentes bancos;
- invista em educação financeira, seja via workshops, cursos ou mesmo com a contratação de consultorias particulares.