Governista deve assumir relatoria do Orçamento, em queda de braço com União Brasil
VICTORIA AZEVEDO E MARIANNA HOLANDA
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS)
O líder do MDB na Câmara, Isnaldo Bulhões Jr. (AL), deverá assumir a relatoria do Orçamento de 2026, segundo líderes e parlamentares. Caso confirmada, a escolha do deputado encerrará uma disputa entre o MDB e o União Brasil que se arrastava desde o ano passado para ver quem ocuparia o posto.
É o relator quem define a alocação de verbas para os programas do governo e negocia com o Executivo e parlamentares quais serão as despesas do ano. A função ganha ainda mais relevância em ano eleitoral.
Na relatoria, o governo Lula (PT) também poderia ficar aliviado, uma vez que o parlamentar é aliado do Palácio do Planalto -ele é da ala lulista do MDB. Isnaldo chegou a ser cotado para assumir o ministério de articulação política, mas foi preterido por Gleisi Hoffmann (Relações Institucionais).
Um ministro do Executivo afirma, sob reserva, que o nome de Isnaldo para ocupar a função seria “ótimo”. O líder do MDB também foi lembrado na bolsa de apostas da reforma ministerial para suceder José Guimarães (PT-CE) na liderança do governo. Mas, para o parlamentar, a relatoria da CMO seria mais interessante, segundo aliados, por ter maior controle sobre o Orçamento.
O cargo é almejado pelos partidos porque o relator ganha poder de influência junto aos parlamentares e ministros do governo federal.
Além de ser considerado um parlamentar governista, Isnaldo é braço direito do presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB). Motta disse a jornalistas nesta semana que a definição sobre as comissões ocorrerá durante reunião de líderes, na manhã de quinta-feira. E as instalações seriam já na próxima terça (18).
A instalação da nova composição da CMO (Comissão Mista de Orçamento), formada por deputados e senadores, ocorrerá apenas em abril, mas há pressa entre os parlamentares. Além disso, a solução desse impasse entre União Brasil e MDB tem reflexos na definição de demais colegiados.
Há ainda muitos colegiados em disputa pelos parlamentares, a CMO sendo o principal. O União Brasil almejava o cargo e dizia ter um acordo com o ex-presidente da Câmara Arthur Lira (PP-AL) que garantia isso.
Segundos relatos, os deputados Elmar Nascimento (União-BA), Damião Feliciano (União-PB) e Paulo Azi (União-BA) já se organizavam nos bastidores para ter apoio de seus colegas para assumir a função.
Emedebistas e aliados próximos de Motta dizem que apesar da costura com Lira -que envolvia o rodízio entre os quatro maiores partidos no comando da CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) e na CMO-, o União Brasil demorou a aderir à campanha do presidente da Câmara e, portanto, o acerto não teria mais validade.
O União Brasil manteve a candidatura de Elmar à sucessão de Lira até 13 de novembro, enquanto o MDB apoiou Motta em outubro.
Políticos do União Brasil, por sua vez, criticam a possibilidade de o MDB ficar com o posto e trabalham para reverter o cenário -ainda que essa possibilidade seja considerada remota por deputados familiarizados com as tratativas.
Dois integrantes da cúpula do partido dizem que isso poderá gerar ruídos na relação da sigla (que é a terceira maior bancada da Casa, com 59 deputados) com Motta. Pelo acerto que está sendo desenhado, se preterido na relatoria da CMO, será oferecido ao União Brasil a presidência da CCJ, considerada a principal comissão da Câmara, neste ano e em 2026.
Como a Folha de S.Paulo mostrou, a disputa entre os dois partidos tinha como pano de fundo as eleições de 2026. O relator tem uma cota de R$ 400 milhões para direcionar no Orçamento. Esse recurso entra no caixa dos ministérios e dependerá, depois, de negociações adicionais com o Executivo para ser executado.
Na avaliação de dirigentes partidários, essa verba pode fortalecer o caixa de prefeitos aliados e turbinar campanhas eleitorais -até mesmo para aumentar as bancadas no Congresso em 2026.
As discussões sobre o comando das 30 comissões da Casa estão tomando os trabalhos dos líderes nesta semana. Há outras disputas ainda ocorrendo, por exemplo, envolvendo a CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) -que o PL diz ter interesse, apesar de Motta já ter rechaçado essa possibilidade, que romperia acordo do ano anterior.
Em outra frente, na Comissão de Segurança Pública, PL e União também disputam, apesar de ter sido elencada como uma das preferidas do partido de Jair Bolsonaro (PL), que temas primeiras pedidas.