Incêndio de grandes proporções atinge o Parque Nacional de Brasília
Por Victoria Kortbawi
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Brasília enfrentou uma manhã difícil nessa segunda-feira (16), com a população local despertando com o cheiro de fumaça em suas casas. Um incêndio de grande proporção atingiu o Parque Nacional de Brasília no começo da tarde de domingo (15/09) e segue ainda hoje. O presidente do Instituto Brasília Ambiental (Ibram), Roney Nemer, relatou que, após um período de calmaria no vento, a fumaça desceu predominantemente na região norte do Plano Piloto. “Com o amanhecer, o vento voltou a circular e ajudou a dissipar a fumaça, melhorando a qualidade do ar”, afirmou Nemer.
Como medida preventiva, a Secretaria de Educação decidiu suspender as aulas nas áreas próximas ao parque afetado. Nemer mencionou que haverá uma reunião com o governador ,Ibanez Rocha, e a vice-governadora, Celina Leão, para avaliar a situação. “Estamos monitorando a qualidade do ar com torres de medição localizadas principalmente na região norte. Temos duas estações automáticas públicas que medem a qualidade do ar diariamente, mas, como a fumaça não chegou a essas áreas, elas não registraram o problema.”
Além das estações públicas, existem equipamentos na Rodoviária, instalados que medem a qualidade do ar a cada seis dias, e em outros locais como o Zoológico e os Institutos Federais de Brasília (IFB) em Samambaia e Estrutural. Nemer revelou que, após a poluição significativa vinda da região Sudeste há 15 dias, foi decretado um grupo emergencial controlado pelo Brasília Ambiental. “Foi autorizada a compra de duas novas estações automáticas para o centro e a área norte de Brasília. No próximo ano, planejamos adquirir mais quatro, com custos que variam de 1 a 2 milhões de reais.”
A situação também é agravada pela seca intensa, que reduz a umidade do ar. “Estamos acompanhando a situação em conjunto com o Brasília Ambiental e o Inmet(Instituto Nacional de Meteorologia)”, destacou Nemer. Ele explicou que, além das medições em locais como a Fercal, onde as atualizações são feitas a cada seis dias devido à idade dos equipamentos, “é essencial a contratação contínua de brigadistas para o combate a incêndios florestais.”
Atualmente, a contratação dos brigadistas é limitada a períodos de seis meses, o que, segundo Nemer, prejudica a eficácia no combate a incêndios fora da estação seca. “Precisamos criar uma legislação que permita a contratação durante o ano inteiro, seja por concurso público ou terceirização, para garantir que os órgãos ambientais e brigadistas estejam disponíveis o ano todo.”
Nemer enfatizou a importância da conscientização sobre a presença e o trabalho desses profissionais. “O combate a incêndios não é exclusivo da época seca; é uma tarefa constante. Os bombeiros são responsáveis pelo controle de grandes incêndios, enquanto nós ajudamos a controlar os menores e prevenir novos focos.”
Ele também mencionou incidentes recentes em que pessoas foram flagradas colocando fogo em folhas secas e fogueiras no parque do Sudoeste. “Quando encontramos essas pessoas, levamos à delegacia. Manejar fogo sem autorização é um crime ambiental.” Nemer pediu à população para não queimar lixo e evitar o lançamento de bitucas de cigarro, destacando que cada pequena ação pode ajudar a prevenir grandes desastres. “Todos devemos colaborar. Queimar lixo e jogar bitucas pela janela pode ter consequências graves, prejudicando não só o meio ambiente, mas também a própria comunidade.”
Nemer reforçou que a prevenção e o controle de queimadas são responsabilidades compartilhadas. “Cada pessoa deve fazer sua parte para proteger nosso cerrado e minimizar os riscos. A conscientização é essencial para garantir a segurança de todos e a preservação do meio ambiente.”
O Coronel Rangel do Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal (CBMDF) informou que, até o momento, “não há nada preocupante em relação ao avanço das chamas”. Ele explicou que, desde o início do combate às 11h da manhã de ontem, a situação tem mostrado sinais de melhora. “O combate se estendeu até às 23h de ontem e hoje realizamos um sobrevoo para avaliar o confinamento do incêndio. Aproveitamos a falta de vento considerável para conter o fogo.”
Com a situação sob controle parcial, o CBMDF mobilizou boa parte de seu efetivo. “Por enquanto, temos 93 combatentes em campo e estamos aguardando mais informações para decidir sobre a necessidade de acionar mais bombeiros”, disse o Coronel. As equipes trabalham em turnos de cerca de 8 horas, com revezamento planejado conforme a evolução da situação. “Estamos de sobreaviso nos outros quarteis, caso seja necessário aumentar o número de combatentes.”
Além das equipes do CBMDF, o combate às chamas conta com o apoio dos brigadistas do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), do Instituto Brasília Ambiental (Ibram) e da equipe do Parque Nacional. No total, 93 combatentes estão envolvidos na operação com o objetivo de extinguir as chamas ainda hoje. “Estamos todos empenhados em controlar e apagar o incêndio o mais rápido possível”, afirmou o Coronel Rangel.
A atuação conjunta visa minimizar os danos e garantir a segurança da área afetada, enquanto as equipes continuam monitorando a situação para assegurar que o fogo não se espalhe.
João Paulo Morita, Coordenador de Manejo Integrado do Fogo do ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação e Biodiversidade), forneceu uma atualização sobre a situação crítica do incêndio que atinge a região do Distrito Federal. Morita destacou a gravidade da situação, ressaltando que o uso de drones na área foi proibido. “Pediram para não voar drones na região. Já temos helicópteros sobrevoando, e um voo errado pode prejudicar ou até causar um acidente. A situação está tão crítica que não será autorizada a presença da imprensa para acompanhar o combate. Neste momento, não podemos levar ninguém para fazer as imagens”, afirmou.
O coordenador também mencionou a escassez de chuva, que contribui para a gravidade do incêndio: “Estamos há 140 dias sem chuva no DF. A previsão do vento para hoje é que ele mude de direção. Estamos tomando todos os cuidados para garantir a segurança das equipes.”
Morita revelou que há um esforço contínuo para fortalecer o combate ao incêndio. “Já estamos organizando outros colegas para virem auxiliar. Da Chapada dos Veadeiros, já disponibilizaram pessoal para vir para cá. É possível que coloquemos mais pessoas. O Corpo de Bombeiros também se prontificou a enviar mais pessoal hoje à tarde”, disse.
Sobre a fauna local, Morita informou que ainda não foram encontrados animais afetados pelo incêndio. “Estamos concentrados no combate ao incêndio e não tivemos nenhum relato de animais na região. Algumas queimas prescritas dentro do parque estão servindo de refúgio para eles, e há muitas rotas de fuga disponíveis”, explicou. Ele acrescentou que a Floresta Nacional de Brasília fez um trabalho efetivo em relação à fauna.
O coordenador forneceu uma atualização sobre a área queimada: “Já são 700 hectares atingidos. Queremos ter o incêndio controlado hoje; se não conseguirmos, continuaremos tentando até controlar amanhã. O fogo está se comportando de forma variada, dependendo do vento e do tipo de vegetação.”
Morita também comentou sobre a suspeita de que o incêndio possa ter sido criminoso. “O indício é que o fogo seja criminoso. A Polícia Federal já esteve aqui e está abrindo um inquérito. Estamos passando as informações sobre a região onde o incêndio começou para que eles iniciem o processo de elaboração da perícia. Não há nuvens e não tem chovido, e a única forma de ignição natural seria por raios. Como não houve chuva nos últimos 140 dias, não houve raios, então alguém deve ter colocado fogo de forma proposital”, concluiu.
Moradora do bairro Noroeste, Juliana Sousa, comentou sobre a situação da fumaça causada pela queimada. “Muita fuligem o tempo todo, caiu no carro, casa. E tem aquela que a gente não consegue ver, a gente tá respirando ela.A qualidade do ar está bem ruim” A estudante também relatou que sentiu incômodo no nariz e nos olhos.
Em nota o CBMDF declarou que está trabalhando em conjunto com os brigadistas do ICMBio, do IBRAM e da equipe do próprio Parque Nacional, no combate às chamas, empenhando neste momento, uma equipe com mais de 250 combatentes, com o objetivo de extinguir o incêndio ainda hoje.