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Malu retrata dramas geracionais e conservadorismo pela ótica familiar

Mais do que uma homenagem do diretor Pedro Freire para a mãe, a atriz já falecida Malu Rocha, o longa Malu — que chegou aos cinemas na última quinta-feira (31/10) — retrata como três gerações de mulheres podem se influenciar, demonstrando os altos e baixos das relações familiares, com visões diferentes sobre a vida.

O filme conta a história de Malu, uma atriz de teatro de meia-idade com um passado glorioso e que vive uma espécie de crise existencial, em busca de uma melhor versão de si mesma. Ela mora em uma casa com a mãe, Lili (Juliana Carneiro da Cunha), uma mulher muito conservadora, e a relação entre elas entra em xeque quando a filha adulta volta de uma viagem para o exterior para visitá-las.

Inspirado na vida da atriz Malu Rocha, o filme retrata um dos momentos dela que marcaram o filho, Pedro Freire, diretor do longa.

Em entrevista ao Metrópoles, Pedro revelou que sentia que seu primeiro longa-metragem tinha que ser em homenagem à mãe, a atriz Malu Rocha, que morreu em 2013: “Eu passei alguns anos tomando coragem e quando finalmente disse que ia fazer o meu primeiro longa, pensei em fazer sobre a juventude dela, lutando contra a ditadura e fazendo teatro político nos anos 70 em São Paulo”.

Contudo, Pedro percebeu que a história que mais o emocionava da mãe foi a que fez parte do filme, o momento em que ele volta de estudar fora do Brasil e a encontra morando em uma casa precária morando com a mãe conservadora e muito infeliz, ao mesmo tempo em que almejava ser feliz montando uma peça de teatro e criando um centro cultural na casa onde residia. “É o momento que mais me emociona e eu pensei que eu tinha que fazer um filme para o público e não para mim”, ponderou o cineasta.

Na trama, este momento é acompanhado por Joana (Carol Duarte), que segundo o próprio diretor é uma síntese entre a irmã dele, Isadora, e ele mesmo. “As coisas que acontecem com a Joana 90% ou aconteceram comigo ou com a Isadora. [O filme] é muito baseado em fatos reais e a maioria das coisas que acontecem com a Malu ou que a Malu diz, eu ou a Isadora temos de memória do que ela disse, do que ela fez e de como ela lidava com as coisas”, destacou também.

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Cena do filme “Malu”, dirigido por Pedro Freire

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Cena do filme “Malu”, dirigido por Pedro Freire

Divulgação

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Cena do filme “Malu”, dirigido por Pedro Freire

Foto: Reprodução/Festival do Rio

História que conecta

Para Yara de Novaes, que interpretou Malu no longa, um dos diferenciais da obra é que fala diretamente com várias pessoas. “É um filme que fala diretamente e sem grandes mistérios, apesar de ter todos os conceitos que o Pedro quis ali de cinema poéticos, filosóficos, psicoanalíticos, mas é um filme que ele ultrapassa isso porque é como uma história muito particular muito própria, ela tem a força para alcançar o mundo inteiro”, destacou a atriz.

Para ela foi fundamental o método de Pedro ao preparar o elenco, usando três das seis semanas de trabalho apenas para a preparação. Pedro explicou que neste período preparatório, ele fez vários ensaios com as atrizes em improviso. Assim, elas podiam se conectar com as personagens e com a história primeiro, da mesma forma que a equipe de produção, para então estudar os textos e fazer as sequências das cenas vistas no longa.

“O Pedro é um diretor além de ser um grande roteirista, ele dirigiu curtas que são centrados em atores e tem um passado muito bom como roteirista e como preparador de atores e isso é um prato cheio para qualquer ator: pegar bons personagens, excelentes diálogos com um diretor que se dedica à atuação. Então nós ensaiamos três semanas e isso é muito legal de dizer porque o Pedro tinha seis semanas para tudo e três foram só para preparação. Então ele de alguma maneira abriu mão de tempo de filmagem para preparar e isso foi muito bom porque quando a gente chegou [para filmar] a gente já chegou com essas personagens alinhadas umas com as outras”, pontuou Yara.

Estrela em Festivais de Cinema

O longa estreou mundialmente na World Cinema Dramatic Competition, mostra competitiva do Festival de Sundance, e foi exibido no New Directors New Films, prestigiado Festival de Cinema do Lincoln Center em Nova York.

A obra foi exibida em outros festivais como Hong Kong International Film Festival (China), San Diego Latino Film Festival (EUA), Sundance CDMX (México), Mediterranean Film Festival Split (Croácia), Galway Film Fleadh (Irlanda), Durban IFF (África do Sul) e Melbourne IFF (Austrália).

Em outubro, o filme esteve no Festival de Rio e arrematou quatro dos principais prêmios: Melhor Longa-Metragem de Ficção (ao lado de Baby), Melhor Roteiro (Pedro Freire), Melhor Atriz (Yara de Novaes) e Melhor Atriz Coadjuvante (prêmio duplo para Carol Duarte e Juliana Carneiro da Cunha).

Além disso, até o final do ano, o filme estará em cinco festivais nos Estados Unidos: New York Latino Film Festival, Port Townsend IFF, AFI Latin American Film Festival, Mill Valley Film Festival, Denver IFF. O longa também vai competir internacionalmente no Cairo IFF, no Egito.

Malu tem coprodução do Telecine e Canal Brasil, coprodução e codistribuição da RioFilme, realização e apoio para finalização e distribuição da Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa do Rio de Janeiro, Governo Federal e Ministério da Cultura,  por meio da Lei Paulo Gustavo.

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