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O que deve ficar mais barato com o acordo entre Mercosul-UE

Azeite, vinho, queijos e carros importados devem ser os principais produtos beneficiados pelo acordo de livre comércio entre o Mercosul e União Europeia, de acordo com economistas consultados pela CNN.

O tratado entre os dois blocos foi assinado nesta sexta-feira (6) durante a cúpula de líderes do Mercosul, em Montevidéu, após 25 anos de negociações.

O acordo faz com que 91% das importações originárias da UE fiquem livres de taxações do bloco sul-americano e assegura que fornecedores de bens e serviços serão tratados como se fossem domésticos.

Em teoria, o tratado pode levar a uma redução nos preços comercializados no Brasil dos itens importados do bloco europeu. A agropecuária e a indústria automotiva seriam as mais afetadas positivamente.

As importações agropecuárias seriam de longe as maiores beneficiadas pela assinatura do acordo. Produtos lácteos, azeite, vinhos e frutas temperadas, cujo Brasil não tem grande produção, serão os itens de maior destaque nas exportações da UE.

Felippe Serigatti, pesquisador do Centro de Agronegócios da FGV Agro, afirma que o setor agropecuário terá competição em nichos dos itens que a UE tem produção resiliente.

“A parte de vinhos seria um exemplo de aumento de concorrência no mercado brasileiro, uma vez que a Europa tem uma variedade da bebida e reputação altamente tradicional na área”, explica.

Serigatti pontua que o setor de lácteos brasileiro será o mais afetado pelo aumento de produtos importados a preços competitivos.

“A produção de leite europeia é fortemente subsidiada e com uma produção excedente que permite a diversificação de produtos”, completa.

O acordo prevê, no agronegócio, que membros do bloco sul-americano darão acesso aos europeus a 98% do comércio e 96% das linhas tarifárias, em troca do acesso preferencial ao Mercosul por parte da UE a praticamente todos os seus produtos agrícolas e a 97% de linhas tarifárias.

A UE vai eliminar 100% de suas tarifas industriais em até dez anos, enquanto o Mercosul vai cortar 91% em termos de linhas tarifárias e de comércio em até 15 anos.

O azeite de oliva é outro item que, com a assinatura do acordo, pode ter redução de preço no mercado interno brasileiro, uma vez que o Brasil depende quase que exclusivamente da importação do produto para atender a demanda.

Portugal, Espanha e Itália, três maiores importadores do óleo, foram responsáveis por importar mais de 41,9 toneladas do produto e movimentando cerca de R$ 449 milhões, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic) atualizados até outubro.

Eduardo Menicucci, professor da Fundação Dom Cabral, explica que o azeite pode ser um dos itens que o consumidor final mais poderá notar a redução de preço com acordo entre os blocos.

“Um fator importante a se levar em consideração é a possibilidade de importar o azeite mais barato, devido à derrubada da tarifa para entrada do produto no Brasil. A princípio esses produtos chegariam mais barato e aumentaria o fluxo comercial entre os dois blocos”, pontua Menicucci.

O óleo passa por uma alta no preço devido à seca que atinge os principais produtores na Europa, como Espanha e Portugal, reduzindo as colheitas de azeitonas significativamente e puxando o valor do azeite nos últimos dois anos pelo mundo todo.

Já produtos originários na UE teriam 95% das linhas tarifárias livres de taxações, segundo as preferências previstas no capítulo de bens do acordo entre os blocos.

Neste ponto, a indústria automotiva, principalmente o segmento de carro de alto padrão, seria beneficiada pelo tratado.

Marcus Vinicius de Freitas, professor da China Foreign Affairs University, afirma que setor de automóveis pode ver uma maior entrada de modelos mais caros e importados no mercado brasileiro.

“Carros de alto padrão tem tributação elevada. Mesmo que haja montadoras no Brasil, muitos modelos ainda são fabricados fora do país. A mudança seria escalonada, não de uma hora para outra, mas é provável que haja uma queda de preço no médio prazo”, pontua o professor.

Para Mauro Rochlin, economista FGV, outro setor beneficiado pelo acordo seria o de serviços.

Nesse sentido, foram propostas no acordo medidas para atender os agentes ligados aos quatro modos de prestação de serviços: comércio transfronteiriço, consumo no exterior, presença comercial e movimento temporário de pessoas físicas.

“Principalmente áreas de mão de obra especializadas, como consultorias de diversos tipos, segmentos ligados a computação e softwares, enfim, campos em que há um alto valor agregado poderiam se beneficiar do acordo entre os blocos”, explica Rochlin.

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