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Os mistérios do hotel de águas termais que sediou…

Histórico, imponente e místico. O Grande Hotel Termas de Araxá, em Minas Gerais, acaba de completar 80 anos, se mantendo como um dos mais valiosos patrimônios turísticos e históricos do estado. Desde a inauguração, em 1944, o hotel se destaca não apenas por sua arquitetura e águas termais, mas por manter vivo um capítulo importante da história do país. O Livro de Ouro, em exposição por lá, dá conta do primeiro hóspede famoso, idealizador do local, o ex-presidente Getúlio Vargas. O spa das termas utiliza fontes de águas sulforosas que brotam das terras ao redor. Aliás, história é o que não falta por lá. Antes mesmo do hotel com o primeiro cassino do Brasil, a região já era famosa por causa de Dona Beja, personalidade histórica do século XIX que virou novela e em breve será remake pela Max. Relações institucionais do Grupo Tauá, que administra o empreendimento desde 2010, Fernanda Bicalho fala à coluna GENTE sobre os desafios de se manter toda essa estrutura em atividade.

Como manter o hotel aberto ao público, sem prejudicar a preservação do patrimônio histórico? Estamos comemorando nesse ano os 80 anos do Grande Hotel Termas de Araxá, e nossa maior conquista nesse período de gestão é seguir preservando-o enquanto patrimônio e em funcionamento. A gente tem alguns patrimônios importantes que hoje se apresentam ao público como locais de visitação. As estruturas foram mantidas e preservadas com a sua função original de hotelaria e de termas. Ao entrar no hotel, o visitante encontra os mármores originais, ferragens, pinturas, manifestações artísticas, a parte de vidros, espelhos… Tudo conservado da mesma forma com que foi construído na década de 1940.

Como se dá o novo posicionamento do hotel voltado ao turismo de bem-estar? Que adaptações foram feitas no prédio? Somos auditados e controlados pelos órgãos competentes. Então as adaptações, principalmente no local de termas, não alteraram a arquitetura original. Para atender ao público que busca o turismo de bem-estar em alto padrão, a gente trouxe técnicas atualizadas, bem como um novo padrão de atendimento e serviço. Foi um trabalho feitos com consultores especializados no que há de melhor em serviços de spa. Passamos a oferecer, por exemplo, óleos essenciais, cremes de massagem e novas técnicas. E a gente fala muito hoje em bem-estar físico, mental e espiritual. O Grande Hotel se tornou um lugar para cuidar do corpo, da alma e da mente. Aprendemos muito com a pandemia da Covid-19.

Quais foram os aprendizados? A necessidade que as pessoas hoje têm de fazer pausas de tempo para buscar qualidade de vida. Elas têm valorizado locais como as nossas termas, que tocam uma música clássica, que tem uma mandala de oito pontas para você parar e fazer intervenção terapêutica, meditação… A mandala de oito pontas do Grande Hotel tem um fio de cobre que desce 35 metros abaixo da terra. O hotel reúne características energéticas fortes.

Qual é o perfil geral do hóspede? O hotel sempre teve característica de receber famílias. Hoje a gente fica muito feliz quando recebe três gerações juntas. Também, por outro lado, recebe muitos casais que descansar e aproveitar gastronomia sofisticada, fazer caminhadas na natureza, beber águas sulfurosas, ir ao spa, fazer as massagens… Outro dia a gente recebeu, por exemplo, um grupo de chineses que veio fazer uma visita a empresas da região. A gente tem o campeonato internacional de mountain bike, promovido pela Warner Bros. Discovery, que acontece em abril. Entendemos que o hotel hoje uma visibilidade internacional, porque é raro encontrar uma edificação como essa, com as características que ele mantém vivas até hoje.

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O segundo andar é fechado apenas à visitação. O que há de curioso no local? O segundo andar foi construído para abrigar a suíte governamental e a suíte presidencial. Tivemos vários presidentes que frequentavam o hotel e passavam grandes períodos lá. Principalmente Getúlio Vargas, fundador do hotel, que fez toda a concepção ousada do hotel, junto com o governador da época, Benedito Valadares. Vargas chegava a transferir a sede do governo para o Grande Hotel. Todo o mobiliário é conservado da época. A dimensão do mobiliário foi toda feita na estatura do ex-presidente. Muitas decisões políticas foram tomadas ali.

O Grande Hotel é imponente também pela história de sua fundação. O que há de mais original nele? O hotel foi inaugurado em 1944, concebido por um somatório de arquitetos franceses, italianos. Quando fizemos o planejamento estratégico do retrofit, descobrimos manuscritos da história da concepção da mandala (na entrada das termas). O físico quântico indiano Mahatma Pachala desenhou a mandala de oito pontas. Não deve ter sido simples tomar decisões de conciliar estilos, crenças e questões energéticas num só projeto com cassino, salões grandiosos, piscinas externas, um lago feito com o formato da bandeira do Brasil. É uma construção magnética, grandiosa sobre todos os aspectos.

Como as águas termais podem ser utilizadas pelo hóspede? Araxá é uma cidade conhecida pelas características do que tem debaixo da terra. Temos minas de nióbio, um dos minérios mais caros do mundo, Araxá responde por 95% do nióbio do mundo. E até hoje, a gente sabe realmente do potencial que as águas trazem para o bem-estar e a saúde das pessoas. Os banhos, a piscina emanatória com água bem quente e os benefícios que isso traz para relaxamento, para musculatura, dentre outros, são explicados aqui.

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Max está produzindo remake da novela Dona Beja. Isso pode ser chamariz para o hotel, que abriga a fonte de nome da famosa cortesã? Dona Beja povoa o imaginário coletivo desde que as pessoas tomaram conhecimento da história dela. Considero Dona Beja uma mulher à frente do seu tempo. Ela foi, antes de tudo, uma batalhadora, inteligente, sagaz, teve uma vida difícil. Ela tinha a arte de bem receber, habilidade típica dos mineiros. E isso é um ponto interessante. Araxá sempre foi conhecida pelas grandes festas, pelos grandes bailes, por ser um local de receber bem. Dona Beja, tendo Grazi Massafera no novo papel, está bem representada. Infelizmente, eles não foram nos visitar, fizeram a gravação em cidade cenográfica, o que foi uma pena, mas espero que, no lançamento, aconteça uma conexão.

A famosa mandala – (Valmir Moratelli/VEJA)
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Área externa do hotel – (Valmir Moratelli/VEJA)

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