“Pais helicópteros“: entenda quando o cuidado com os filhos pode ser excessivo
Proteger o filho de riscos ou problemas que surgem ao longo da infância pode ser importante para garantir a segurança do pequeno. Mas quando esse cuidado se torna excessivo e limita o desenvolvimento emocional e autonomia, principalmente após a chegada da adolescência, pode trazer impactos negativos. Esse é o dilema vivido pelos chamados “pais helicópteros“.
Esse é um termo cunhado na década de 1990 pelo psiquiatra americano Jim Fay e pelo educador Foster Cline no livro “Parenting with Love and Logic” (“Parentalidade com amor e lógica”, em tradução livre para o português).
Segundo os autores, “pais helicópteros” são aqueles que têm uma tendência a monitorar e intervir excessivamente em todos os aspectos da vida dos filhos, como comportamento alimentar, atividades livres, amizades, experiências e, principalmente, estudos.
“Esses pais até acompanham de perto o que a criança veste, como ela come, como passa seus momentos de lazer, como faz suas tarefas, constantemente ‘sobrevoando’ as experiências dos filhos, buscando proteger, tomando para si os seus problemas ou antecipando desafios, muitas vezes sem permitir que a criança viva as consequências de seus atos, desenvolva sua autonomia e independência”, descreve Andrea Nasciutti, psicopedagoga, à CNN.
Comportamentos do tipo podem impactar negativamente o desenvolvimento saudável dos filhos, de acordo com a especialista, comprometendo a construção de habilidades cruciais para a vida adulta, como autoconfiança, resiliência e independência.
“Com este excesso de controle e interferência, “pais helicópteros” acabam passando para seus filhos a mensagem de que eles não são capazes de enfrentarem seus desafios e tomarem suas próprias decisões, gerando, a curto prazo, falta de iniciativa, baixa confiança em suas capacidades e maior ansiedade ao enfrentar desafios”, afirma Nasciutti.
O estresse também pode se tornar uma consequência do cuidado excessivo, pois, em alguns casos, impede a criança e o adolescente de ter tempo de descanso ou para brincadeiras e atividades livres.
“Em longo prazo, isso se agrava, e pode resultar em dificuldade para tomar decisões, lidar com frustrações e desenvolver habilidades de resolução de problemas, trazendo problemas emocionais, como baixa autoestima e dependência emocional”, alerta a psicopedagoga.
Impactos negativos também podem ser sentidos pelos próprios pais
Apesar de trazer consequências para o desenvolvimento de crianças e adolescentes, o comportamento de “pais helicópteros” também gera impacto para os próprios adultos. É o caso do estresse, ansiedade e exaustão emocional.
“Esse comportamento também pode gerar frustração, especialmente quando percebem que não conseguem controlar todos os aspectos da vida dos filhos”, afirma Nasciutti.
Inclusive, experiências difíceis e traumas vividos pelos pais podem as motivações para esse tipo de comportamento, de acordo com a especialista.
“Pode ser um medo de que os filhos enfrentem os mesmos erros ou dificuldades que os pais tiveram. Os pais podem ter passado por experiências de perda, abandono ou traumas anteriores, que os fazem querer compensar ou proteger em excesso”, explica.
“Além disso, transtornos como TOC (Transtorno Obsessivo-Compulsivo) ou mesmo traços de personalidade relacionados a controle excessivo também podem traçar esse perfil de ‘pais helicópteros’, além da pressão social para que os filhos sejam excelentes em tudo ou expectativas culturais que colocam os pais como os principais responsáveis pelo sucesso ou fracasso dos filhos”, acrescenta.
Quais sinais podem indicar esse comportamento?
Entre os sinais que indicam comportamento de “pais helicópteros” estão:
- Excesso de controle sobre as atividades e decisões das crianças, como amizades, hobbies, programações e, até mesmo, tarefas escolares;
- Preocupação exagerada com o desempenho acadêmico;
- Dificuldade para aceitar erros ou frustrações das crianças;
- Mensagens ou ligações frequentes para os filhos.
Como resolver o problema?
“É preciso que os pais tomem consciência de que este comportamento tem um efeito oposto ao que desejam, trazendo menores níveis de sucesso e felicidade para seus filhos. Buscar informações por meio de orientação parental ou mesmo leituras de qualidade já pode ser um ótimo começo [para tratar o problema]”, explica Nasciutti.
A especialista também orienta que os pais pratiquem atividades de autocuidado e lazer, além de fortalecer amizades e interesses pessoais para não concentrar toda a energia nos filhos.
“Adicionalmente, um trabalho com terapias pode ajudar a reconhecer padrões disfuncionais, trabalhar ansiedades, bem como auxiliar na compreensão das consequências do comportamento deles para os filhos e da importância da autonomia dos jovens”, acrescenta.
Boa relação entre mãe e madrasta ajuda filho com divórcio dos pais