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Ponte submersa de 6 mil anos revela presença humana em caverna de Maiorca

Uma antiga ponte submersa numa caverna na ilha espanhola de Maiorca ajuda os pesquisadores a descobrir quando os humanos começaram a se estabelecer nas ilhas do Mediterrâneo ocidental, milhares de anos atrás. Um estudo detalhando esses achados foi publicado na sexta-feira (30), na revista Communications Earth & Environment.

Uma nova análise da ponte de 7,6 metros de comprimento, localizada na Caverna Genovesa, revelou que os humanos habitaram Maiorca, uma das maiores ilhas do Mediterrâneo, muito antes do que se acreditava. As descobertas podem ajudar a fechar a lacuna entre a ocupação humana nas regiões oriental e ocidental do Mediterrâneo.

A falta de registros escritos e as evidências arqueológicas limitadas dificultam a compreensão de quando as ilhas mediterrâneas foram colonizadas.

No entanto, um indício revelador, juntamente com formações minerais detectadas na ponte, permitiu que cientistas estimassem que a estrutura foi construída há quase 6.000 anos, segundo Bogdan Onac, professor da Escola de Geociências da Universidade do Sul da Flórida e autor principal do estudo.

“A presença dessa ponte submersa e de outros artefatos indica uma atividade sofisticada, sugerindo que os primeiros colonos reconheceram os recursos hídricos da caverna e estrategicamente construíram uma infraestrutura para navegá-la”, afirmou Onac.

Caverna misteriosa

A ponte é composta por grandes blocos de calcário, alguns com até 1,3 metro de largura, e ainda não está claro quais mecanismos permitiram aos antigos humanos construir essa ponte.

Os pesquisadores acreditam que os construtores da ponte queriam um caminho seco e contínuo para conectar a entrada da caverna com uma câmara além de um lago dentro da caverna.

A ponte foi descoberta em 2000. Alguns anos depois, um estudo em catalão estimou sua idade em cerca de 3.500 anos, com base em cerâmicas encontradas em uma das câmaras da caverna.

Desde então, pesquisas que dataram ossos e cerâmicas por meio de radiocarbono sugeriram que humanos poderiam ter habitado Maiorca há cerca de 9.000 anos, mas a má preservação dos materiais levou os pesquisadores a questionarem essa linha do tempo.

Estudos mais recentes, examinando cinzas, ossos e carvão na ilha, sugerem que os humanos se estabeleceram lá há cerca de 4.440 anos.

caminho de pedra pode ser visto na entrada da Caverna Genovesa
Um caminho de pedra pode ser visto na entrada da Caverna Genovesa, em Maiorca • B.P. Onac via CNN Newsource

Ao estudar a elevação do nível do mar em outras ilhas e os vestígios geológicos que a subida do mar deixa para trás, Onac e seus colegas adotaram uma abordagem diferente.

“Foi apenas nos últimos quatro anos que finalmente reunimos os dados necessários para abordar essa questão de pesquisa antiga e estimar melhor o momento da chegada dos humanos em Maiorca”, explicou Onac.

Hoje, os corredores da Caverna Genovesa permanecem inundados devido ao aumento do nível do mar.

Onac e sua equipe estudaram uma faixa clara sobre a ponte submersa na caverna, bem como incrustações de calcita que se formaram sobre a ponte durante períodos em que o nível do mar estava mais alto e encheu a caverna.

Essas incrustações são espeleotemas, formações geológicas resultantes do acúmulo de depósitos minerais ao longo do tempo em cavernas.

Ao reconstruir os níveis históricos locais do mar e analisar a faixa de coloração na ponte, além dos depósitos minerais, a equipe determinou que a ponte foi montada há cerca de 6.000 anos.

A faixa de cor coincidiu com o nível onde os depósitos minerais se formaram quando o nível do mar estava estável, indicando que a construção deve ter ocorrido antes de 5.600 anos atrás, segundo Onac.

Reconstituindo passos antigos

A ponte foi provavelmente usada por 400 a 500 anos antes de o aumento do nível do mar cobrir a estrutura, afirmou Onac. A equipe ainda não possui evidências claras de como os antigos humanos utilizaram a caverna, mas têm algumas hipóteses.

Mergulhadores encontraram fósseis de uma espécie de cabra extinta, conhecida como Myotragus balearicus, que vivia na ilha. Também descobriram cerâmicas em uma câmara seca conectada à entrada da caverna pela ponte, de acordo com Onac.

“Isso sugere que os humanos podem ter usado a área próxima à entrada da caverna, uma grande câmara colapsada, como local de habitação”, disse Onac. “A finalidade de cruzar o lago para acessar essa câmara ainda não está clara; poderia ter sido um refúgio, um lugar para rituais ou um local de armazenamento, protegendo alimentos dos dias quentes de Maiorca”.

Depósitos minerais em espeleotemas
Depósitos minerais em espeleotemas crescem exatamente ao nível do mar, como pode ser visto na imagem acima do mergulhador na Galeria de les Delícies • M.À. Perelló via CNN Newsource

Há evidências de pequenas casas e estruturas feitas de grandes pedras em Maiorca, datando de 2.000 a 4.500 anos atrás. Assim, é provável que a ponte da caverna seja um precursor das construções sofisticadas e maiores encontradas na ilha, afirmou Onac.

Paleontólogos ainda tentam entender por que Maiorca foi ocupada mais tarde do que as ilhas do Mediterrâneo oriental. Embora seja grande e relativamente próxima do continente espanhol, a ilha tinha um clima quente e seco, com solo ralo para agricultura. Além disso, exceto pelos peixes e cabras nativas, Maiorca carecia de recursos naturais abundantes.

“Em contraste, outras ilhas apresentavam condições ambientais mais favoráveis e recursos abundantes, como minerais e gado, o que as tornava mais atraentes para os primeiros colonos”, concluiu Onac.

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