Reino das Pessoas Pequenas ganha nova chance com influenciadores de viagem
NELSON DE SÁ
PEQUIM, CHINA (FOLHAPRESS)
No final do ano passado, como vem fazendo com diversos países europeus e do Sudeste Asiático, a China estendeu a sua política de isenção de visto para visitantes de Portugal.
“Finalmente”, comemorou Daniel Pinto, “travel creator” de Instagram e YouTube, que partiu então para duas semanas no país e acabou no Reino das Pessoas Pequenas, um parque temático de anões aberto há 15 anos nas montanhas próximas a Kunming, capital da província de Yunnan, no sul.
Além de palco para encenações, tem de pequenos castelos a uma adaptação do condado dos hobbits, de “O Senhor dos Anéis”, onde os artistas fingem morar. Quando do lançamento, a repercussão não poderia ter sido pior, no Ocidente, com veículos denunciando o “zoológico humano”.
Foi essa a expressão usada pelo porta-voz da organização Pequenas Pessoas da América, Gary Arnold, falando em 2010 ao jornal The New York Times. “Qual é a diferença?”, perguntou. “Eu acho que isso é horrível.”
No ano seguinte, num programa cômico de turismo na televisão britânica, o ator Warwick Davis, que interpretou ewoks na franquia “Star Wars” e um goblin na série “Harry Potter”, descreveu o parque como “freak show”, espetáculo de aberrações.
Daniel Pinto o anuncia agora como “o mais controverso parque de diversões do mundo”, mas sublinha que “dá emprego a muita gente que não teria chance”. As reações ao vídeo vão na mesma linha, por exemplo, “Se isso fornece trabalho e eles gostam, quem somos nós para julgar?”. Ao menos um comentário questiona o “comunismo”.
“É um lugar fascinante e um pouco surreal para se visitar”, diz o influenciador agora, passadas semanas de sua viagem. “Meu objetivo não era julgar, mas documentar e deixar que os espectadores decidissem por si mesmos.”
O fotógrafo italiano Fabio Nodari, “travel blogger” que no Instagram se concentra em imagens e em seu site publica também relatos, esteve lá em julho passado com o propósito, ao que parece, de mostrar a humanidade questionada dos cerca de 150 anões. Procura responder à pergunta “Como é fazer parte desta comunidade?”.
Abre ouvindo Song Song, que descreve seu primeiro encontro com o hoje marido Anzi, em 2013. “Éramos novos artistas. Nos conectamos rapidamente, talvez por entendermos as dificuldades um do outro. A vida fora pode ser solitária. As pessoas olham, fazem comentários rudes.” Eles se casaram em 2015.
Outros, todos em fotografias sorridentes, contam histórias semelhantes de isolamento social ou de problemas de saúde, até chegarem ao que Nodari descreve como seu “refúgio”.
Ele vai aos dormitórios, onde moram cerca de 90 dos funcionários. É convidado por outro casal, Ceng Ceng e Xiao Pang, para almoçar bolinhos (dumplings) que ela acabou de cozinhar.
“Não me entendam mal”, escreve o fotógrafo no final de seu relato, “aqui está longe de ser um lugar perfeito, mas eu estaria mentindo se dissesse que tive uma experiência negativa”.
Questionado sobre o impacto de relatos de turismo em mídia social, Pinto diz serem “a versão moderna da literatura de viagem”, representando agora “o recurso de referência para dicas, conselhos e histórias”.
Segundo ele, “essa acessibilidade torna a viagem mais inspiradora e viável para pessoas ao redor do mundo, uma evolução poderosa e bela em como compartilhamos e consumimos experiências de viagem”.