Política

Sequestro de navio


Por Gustavo Mariani*

Durante algum tempo do século passado, rolou a frase “Este não é um país sério”, atribuída ao Brasil. Poderia até ser, dado o número de rolos em que se metia o “Pindorama”’, principalmente, quando nada tinha a ver com questões envolvendo ditadores latino-americanos. Se bem ter havido situações em que o Brasil caiu de paraquedas no circuito, caso do primeiro sequestro de uma embarcação de luxo no planeta.

Era o 22 de janeiro de 1961 quando o capitão português Henrique Galvão sequestrou o transatlântico Santa Maria, inaugurando a prática e achando que a sua iniciativa o ajudaria a derrubar o governo do ditador e ex-amigo Antônio de Oliveira Salazar, do qual tornara-se inimigo pela década-1950, quando fora preso e expulso do Exército. Em 1959, ele conseguiu fugir, refugiar-se na embaixada argentina de Lisboa e, depois, obteve asilo político na Venezuela.

 Por aquele tempo, os inimigos salazaristas o cultuavam e o tornavam popularíssimo. Motivo para ele aproveitar o exílio venezuelano e planejar o primeiro sequestro marítimo do planeta. Em 9 de janeiro de 1961, quando o Santa Maria partiu de Lisboa, rumo aos Estados Unidos, durante escala no porto venezuelano de La Guaira, o Galvão adentrou à nave, juntamente com gente de sua patota, e se juntou a outros 20 embarcados, em Portugal, incógnitos, dentre 612 passageiros e 350 tripulantes.

 Rolava a madrugada da de 22 de janeiro daquele 1961, quando os 24 parceiros do capitão Galvão dominaram o navio e mataram um oficial resistente. Os demais se renderam e o navio foi redirecionado para a África, a fim de chegar a Luanda e, dali, partir para a derrubada do governo do Salazar. O capitão Galvão só não contava cruzar com um cargueiro dinamarquês que o dedurou, o fez ser localizado por avião norte-americano e meter o Brasil na parada. Como?

No 2 de fevereiro, o navio fugiu para Recife e, um dia depois, o sequestrador Galvão e a sua patota se entregou às autoridades brasileiras, que lhes concederam asilo político, pra desagrado do ditador Oliveria Salazar, que lamentou não ser mais “Pindorama” uma colônia portuguesa. 

Cinco dias depois, o presidente Janio Quadros, que vivia início de governo e só “tava´ í pro que fosse um bom uísque pelos finais de expediente, mandou devolver o navio aos portugueses e deixou o Galvão viver por aqui (até 1970, quando um Alzheimer o sequestrou desta vida) – nesta, realmente, diante dos xingamentos de Portugal, o Brasil entrou de gaiato no navio. 

galvaooo

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