SOY LOCO POR TI AMÉRICA
A história política da América Latina daria um mais do que um divertidíssimo filme cômico. Quem sorriu muito com a película norte-americana “Um morto muito louco”, por exemplo, sorriria bem mais diante de roteiro protagonizado pelos generais cucarachas, casos, por exemplo, do boliviano Manuel Melgarejo, e do guatemalteco Manuel Lisandro Barillas Bercián.
Pra começo de conversa, a Bolívia, independente, em 1825, já encarou 193 golpes de estado, protagonizados por 32 ditadores militares. Mesmo assim, chegou a passar 23 dias sem nenhum presidente. Pois foi! Vamos ao governo Melgarejo?
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Pois bem! Das 16 constituições já tidas pelos bolivianos, uma delas dava ao ao general Melgarejo o direito de fuzilar os seus opositores. Que legal! Chegado ao poder (1864) derrubando o presidente José Maria de Achá, que havia derrubado o general Manuel Belzú, que Melgarejo matou para voltar ao poder, o matador adorava ouvir falar das belezas da França, que nem sabia onde ficava. Adorava, mais ainda, o imperador francês Napoleão III, achando que este fosse o tio Bonaparte.
Beleza! Certo dia de 1870, o general Melgarejo revoltou-se ao saber que a Prússia havia invadido a França e achou-se no dever de socorrer o seu ídolo, após culpar a Inglaterra por não impedir a invasão. Teria que dar uma surra nos britânicos. E não mudou de opinião, informado de que seria inviável transportar tropas pelo Oceano Pacífico (que, ainda, banhava a Bolívia) para chegar ao Atlântico e à França. Pediu licença ao Brasil, que havia lhe presenteado com um cavalo, para atravessar a floresta amazônica e partiu para a sua aventura guerreira.
Mais analfabeta do que o Melgarejo, a rainha Vitória mandou preparar tropas para salvar a imagem do seu reino e bombardear a Bolívia. Só desistiu do plano, ao saber que o inimigo morava a 3.600 metros de altitude e que aquilo não seria boa idéia.
Enquanto isso, o general Melgarejo, que havia deixado a sua mulher – Juana Sanchez – tomando conta do seu governo, enfrentou a oposição do general José Rondon e teve de interromper a travessia da amazônia brasileira, para salvar o seu governo. De volta à capital boliviana, não encontrou mais nem seu governo e nem a sua mulher. Rápido, fugiu rumo ao Peru, para pedir asilo e procurar pela Juana, que havia fugido pra lá, levando todo o dinheiro que conseguira catar nos cofres públicos bolivianos. Só que a Juana não quis papo com ele que, de repente, amanheceu em uma calçada com a boca cheia de formiga – um morto muito louco.
No que diz respeito ao general Barillas, este governou a Guatemala, por conta de uma mentira escabrosa contada quando o seu antecessor Justo Rufino Barrios estava levando terra pela cara sete palmas abaixo do solo pátrio. Barillas chegou no ato do chororô familiar e pediu ao presidente do Congresso para preparar alojamento e alimentação para os cinco mil soldados que ele tinha sob seu comando, em cidade próxima da capital. O homem ficou apavorado com a possibilidade de saques e estupros, e declarou Barillas presidente interino, pra administrar a crise.
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Quando o presidente do Congresso sacou ter ouvido mentiras do Barillas, já era tarde para mudar o destino do seu povoa. O general mentiroso não convocou eleições, como deveria, e permaneceu no cargo, de 1886 a 1892. Sucedido pelo general José María Reyna Barrios, sobrinho do ex-presidente Justo Rufino Barrios, tempos depois, Barillas teve de fugir para o México, quando o Reyna Barroso tentou aumentar seu mandato e terminou assassinado, em 1898. Não dava pra ele ficar na Guatemala, pois o novo presidente, Manuel Estrada Cabrera, era seu inimigo pessoal.
No México, o Barillas criou várias conspirações para voltar à Guatemala como presidente. Cabrera, porém, resolveu ar um jeito nele. Enviou dois chegados de sua inteira confiança pessoal pra sumirem com o desafeto – e sumiram. Fizeram serviço tão bem feito que o Cabrera nem se preocupou com o mais – na Guatemala, ninguém ligava para crimes políticos.