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Vem aí uma grande batalha pelo domínio do mercado…

Um dos maiores motivos de orgulho dos viticultores gaúchos é a qualidade dos espumantes do Rio Grande do Sul, que é reconhecida internacionalmente. Um dos últimos prêmios recebidos foi o de melhor vinho de borbulhas da América do Sul concedido ao Moscatel Rosé, da Nova Aliança Vinícola Cooperativa, que reúne 700 famílias na Serra Gaúcha. A eleição ocorreu durante o 29º Catad’Or World Wine Awards, evento realizado no Chile entre os dias 11 e 16 de novembro.

A depender de um grupo de viticultores do Sul de Minas, a liderança gaúcha nesse mercado, que parecia inabalável, tem dias certos para acabar.  As primeiras uvas de um projeto ambicioso foram colhidas no dia 9 de novembro, na cidade de Caldas. Ele é fruto da união entre cinco proprietários das principais vinícolas daquela região do estado, que se associaram e arrendaram 15 hectares de terra, numa colina a 1.300 metros de altitude, por um período de 25 anos, com o intuito de fazer um espumante pelo método champenoise, que tem a segunda fermentação na garrafa. Não será qualquer espumante. Eles querem simplesmente fazer o melhor espumante do Brasil.

Os responsáveis por essa empreitada são os viticultores que aguardam a formalização da tão anunciada terceira Denominação de Origem brasileira, que se chamará Sul de Minhas. Uma das vinícolas envolvidas no negócio é a Estrada Real, de Murillo Regina, o criador da dupla poda, técnica que revolucionou o mercado nacional de vinhos ao inverter o ciclo da vinha e permitir que a colheita seja feita no inverno, longe das chuvas. Entraram no negócio também a prestigiada Maria Maria, a Almas Gerais, a Mil Vidas e a novata Barbara Eliodora.

Da esq. para direita:
Alessandro Rios (Almas Gerais), Henrique Bernardes (filho Gilherme Bernardes Filho, da Barbara Eliodora), Eduardo Junqueira Nogueira Junior (Maria Maria), Guilherme Bernardes Filho (Barbara Eliodora), Murillo de Albuquerque Regina (Estrada Real) e Wander Oliveira (Alma Gerais) (Divulgação/VEJA)

Embora a intenção seja a de desbancar a liderança gaúcha como referência única de qualidade, o discurso dos envolvidos é diplomático e típico da tradição mineira de esconder o jogo. “Sou fã dos espumantes do Sul, são maravilhosos, mas os que se produzem aqui em Minas são muito especiais e com grande potencial. Eles têm características muito diferentes porque as uvas aqui possuem uma concentração de polifenóis maior por conta do clima”, disse à coluna AL VINO Guilherme Bernardes Filho, da Barbara Eliodora. Segundo ele, os chapenoise do Sul de Minas não virão para concorrer ou tirar espaço, mas para somar no portfólio nacional.

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A ideia surgiu quando degustavam o espumante Gran Via 38, da Estrada Real, feito com Chardonnay colhida no sítio do Murilo. “É maravilhoso, mas não é possível produzir e maior quantidade por falta de espaço, ali ele só tem 3 hectares”, conta Bernardes. Quando souberam da disponibilidade do espaço quase vizinho ao sítio formaram a super join venture mineira e prontamente plantaram vinhas de Chardonnay e Pinot Noir.

As uvas para espumante foram colhidas às vésperas do verão, portanto não seguem a cartilha da dupla poda, como a maioria dos vinhos tranquilos (boa parte de Syrah) produzidos pela turma do Sul de Minas. A primeira colheita rendeu uma 1,5 tonelada de uvas, o que deve resultar em 250 garradas para cada vinícola associada do espumante que, por hora, tem o nome de “Coroado”. A principio, ele não será vendido. “Nossa ideia é entrar no mercado com a safra de 2025. No próximo ano teremos a primeira colheita comercial e esperamos que seja um grande sucesso”, afirma Bernardes.

Ficaremos aguardando quem sairá vencedor da batalha entre mineiros e gaúchos pela liderança nos espumantes. Mas é possível dizer que já há um vencedor nessa história: os amantes de vinhos. Esse tipo de competição sadia certamente elevará ainda mais o nível de qualidade dos vinhos nacionais.

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